Será só azar? – A necessidade de ganhar sentiu-se claramente. Pela barba (estilo promessa) de Queiroz, pela determinação e entrega dos jogadores, pela pressão crescente que se sentiu com o avançar do relógio e, finalmente, pela demorada e solitária reflexão (estilo “e agora o que é que eu faço?”) de Gilberto Madail imediatamente após o final do jogo. Portugal voltou a desiludir, no terceiro resultado negativo em 4 jogos realmente competitivos no apuramento. Diz-se que fez um bom jogo e é verdade que terá tido bons momentos, mas não devemos confundir um domínio normal, quer pela diferença de qualidade que existe entre os 2 conjuntos, quer pelo próprio interesse sueco em defender um empate que lhe foi benéfico, com uma “exibição fantástica” que teria tido na fortuna a única justificação para o insucesso. A sorte, precisamente, não pode ser a única justificação para quem quer, de forma inteligente e séria, corrigir problemas que surgem de forma tão recorrente. Em suma, foi um jogo em que Portugal esteve realmente bem em alguns momentos, em que teve o empenho e até a inspiração individual necessária, mas em que voltou a falhar em pormenores absolutamente decisivos que, combinados com alguma falta de sorte, explicam não apenas este empate mas a impensável situação para a qual se arrastou neste apuramento.
Opções e estratégia iniciais– Na antevisão falei da compreensão pela opção Pepe como médio defensivo e da necessidade de dar mobilidade ao ataque nacional. Por isso, percebe-se facilmente que concordo com as opções de Pepe e Danny de inicio. A estas juntou-se ainda Tiago que teve uma missão particularmente importante, dado que numa estratégia sem referência fixa na frente, é importante uma boa chegada dos médios à zona de finalização. Tiago foi lançado para uma função mais ofensiva do que Pepe e Meireles (compondo uma espécie de 4-2-3-1) e devo dizer que os seus movimentos verticais só pecaram por não ter sido mais vezes repetidos pelos seus colegas de sector. Portugal teve dificuldades no inicio. A estratégia Sueca de colocar rapidamente a bola na frente impedia Portugal de manter o jogo em permanência no meio campo ofensivo, perdendo muito tempo entre as suas acções ofensivas. Aqui, justificou-se a importância da presença de Pepe, dificultando o domínio das primeiras bolas por parte dos suecos. Portugal melhorou, passou a condicionar melhor a saída de bola sueca, a reagir melhor à perda de bola e, sobretudo, a circular melhor. Aqui, nos últimos 20 minutos da primeira parte, aconteceu o melhor período português, com a grande velocidade na circulação de bola e boa ligação de corredores, destacando-se a presença dos laterais a aparecer no espaço aberto no flanco oposto.
Neste jogo destacou-se o número de remates, mas ao elevado registo estatístico há que perguntar porque é que Portugal rematou tão poucas vezes dentro da área e sem ser em lances de bola parada. A resposta a esta pergunta leva-nos ao grande problema da estratégia nacional para o jogo. É que Portugal actuou poucas vezes em transição, e em ataque organizado é muito mais difícil conseguir espaços. A estratégia deveria ter dado prioridade a um pressing mais forte desde o inicio, potenciando mais claramente o erro sueco para depois sair em transição. Isso não aconteceu e daí tantos remates terem tido tão pouca probabilidade de sucesso.
Alterar para... piorar! – Há um momento decisivo e que dá inicio à participação contra producente de Queiroz no jogo. A lesão de Bosingwa. Primeiro, para quem tem um jogo tão decisivo pela frente, o erro de optar por Brandão em vez de Nelson é pouco justificável. Queiroz não foi bafejado pela sorte neste particular, mas a sua opção por Rolando em cima do intervalo e a 15 minutos de, previsivelmente, ter de arriscar, foi totalmente prejudicial ao jogo da Selecção que, devido a ela, na segunda parte não mais contou com a tal ligação de corredores, tendo Carvalho ido apenas 1 vez à linha em 45 minutos de ataque continuado. Depois entrou Deco, mas saiu Tiago que era provavelmente a unidade de melhor rendimento na altura em que saiu e o único médio a fazer a ligação com a zona de finalização. Finalmente, Queiroz fez aquilo que os suecos mais desejariam. Com 25 minutos por jogar, colocou Hugo Almeida que foi “encostar-se” aos defensores suecos, dando-lhes uma referência fixa. Para mais, retirou uma das unidades mais móveis, Danny, e manteve um lateral direito sem capacidade para dar profundidade e 1 médio eminentemente defensivo, numa fase em que os suecos pensavam sobretudo em defender. Dizer que, naquele que seria previsivelmente o período de maior assédio luso (25 minutos), Hugo Almeida praticamente não rematou e que Portugal só ameaçou de meia distância e de bola parada é o suficiente para que se perceba o impacto negativo das alterações de Queiroz.
Quem lê o que venho escrevendo na análise aos jogos sabe que sou totalmente contrário à sobrevalorização das substituições, mas neste caso parece-me que há um efeito evidentemente nefasto para as aspirações de Portugal no jogo que é, no fundo, o reflexo de uma péssima leitura do jogo por parte de Queiroz.
Situação e responsabilidades – No lançamento do jogo referi que Portugal não estava numa situação tão difícil como se pintava mas também fiz questão de realçar a importância deste jogo. O empate não retira, ainda, Portugal em definitivo do Mundial mas simplifica muito as contas para o que resta jogar. Agora sim, não há margem de erro. Tudo o que seja não ganhar todos os jogos (restam 4, se descontarmos o “passeio” com Malta) é colocar praticamente de parte toda e qualquer hipótese de apuramento. Abordarei a Selecção e Queiroz em maior detalhe nesta semana, mas avanço já que esta vem sendo uma prestação para pior de má da Selecção, que o não apuramento é uma pequena catástrofe (numa perspectiva relativa, obviamente) para o futebol português e que as responsabilidades, até pela forma vincada como fez questão de fazer um corte com o passado, devem ser prioritariamente endereçadas ao Seleccionador nacional, caso o pior mas agora provável cenário se confirmar.