Internamente não sofre golos desde o inicio de Agosto (7 jogos), liderando o campeonato ucraniano com uma diferença de 13 pontos ao fim de 10 jogos para o mais forte concorrente ao título, o Shakhtar. Na Europa, venceu fora e em casa o Spartak e empatou frente ao Arsenal em casa e fora frente ao Fenerbahce. Os números são claros e quem vê esta equipa jogar não tem dúvidas: é preciso ter muitas cautelas com este Dinamo, um candidato real à qualificação no grupo do Porto.
De facto, não há um leque impressionante de estrelas neste Dinamo, mas a equipa apresenta-se muito sólida, bem organizada e com um leque de jogadores de muito boa qualidade, ao ponto de fazer esquecer as ausências por lesão de jogadores que, à partida, seriam titulares. Gusev – médio internacional Ucraniano – está de fora desde o inicio da temporada e Yussuf – médio nigeriano – e Milevsky – principal figura da equipa – têm estado ausentes da equipa. O Dinamo muda de sistema, adapta-se, mas mantém-se organizado e não se recente nos resultados. Para quem viu esta equipa frente ao Sporting, há um grande contraste entre o perfil de jogo, mais emotivo e menos organizado de então, e mais equilibrado e organizado de hoje.
Claramente, o Porto deve olhar com cautelas redobradas este duplo duelo que, a meu ver, definirá o apuramento.
Sistema táctico e opções
A primeira dúvida de Jesualdo é simples e importante. Com que sistema se apresentará o Dinamo? É que o Dinamo de inicio de época jogava em 4-1-3-2, com Milevsky e Bangoura a formarem dupla de ataque. Este sistema manteve-se internamente com a lesão de Milevsky, mas na Europa, Semin apresentou o 4-2-3-1 com Bangoura como única referência ofensiva. O problema é que Milevsky regressou e dificilmente ficará de fora. As hipóteses são o regresso a um 4-1-3-2 mais ofensivo ou manutenção do 4-2-3-1 com a adaptação de Milevsky à esquerda ou Bangoura à direita – não creio que deixem de jogar.
Na baliza, a revelação é Bohush (24 anos) que relegou o histórico Shovkovky para o banco.
Na defesa, 3 jogadores têm lugar assegurado. O brasileiro Betão (24 anos) à direita, o senegalês Pape Diakhaté (24 anos) no meio a formar dupla com Taras Mikhalik (24 anos), internacional ucraniano. Na esquerda, o marroquino El Kaddouri (27 anos) costuma levar a melhor sobre o internacional ucraniano Nesmachniy (29 anos).
No meio campo há várias opções e várias foram usadas. Ognjen Vukojevic é peça indispensável, seja como médio mais defensivo ou com maior liberdade. O nigeriano Ayila Yussuf (23 anos) foi outra solução usada como médio mais defensivo mas as constantes lesões têm-no afastado das opções. O romeno Ghioane (27 anos) é quem vem surgindo ao lado de Vukojevic no 4-2-3-1. Na posição 10, o camisa 8, invariavelmente. Oleks Aliev (23 anos). Nas alas, a ausência de Oleg Gusev (25 anos) tem aberto o lugar ao sérvio Milos Ninkovic (23 anos) utilizado recorrentemente, seja à direita ou à esquerda. El Kaddouri também foi solução para a ala esquerda, mas Ninkovic é quem vem jogando nessa posição, com o finlandês Roman Eremenko (21 anos) a actuar na direita.
Na frente a dupla formada por Bangoura (23 anos) e Milevsky (23 anos) começou por revelar-se em bom plano, mas com a lesão deste último outras opções começaram a ser utilizadas (como alternativa a Bangoura na Europa e como sua parelha na liga ucraniana). O experiente Shatskikh (30 anos) do Uzbequistão e os jovens ucranianos Kravets (19 anos) e Zozulya (18 anos) são os outros nomes a ter em conta, embora a sua utilização seja pouco provável, pelo menos durante um largo período.
Como defende?
É muito organizada esta equipa que se mantém quase sempre equilibrada em transição, preferindo recuar as suas linhas para actuar num bloco médio-baixo muito denso e difícil de ultrapassar. O pressing raramente é muito agressivo sobre a primeira fase de construção adversária, preferindo actuar em zonas mais recuadas ou em momentos de maior dificuldade circunstancial do adversário.
Nota para o papel notável de Vukojevic na cobertura de espaços no meio campo e para alguma exposição ao risco de El Kaddouri, um lateral mais orientado para as investidas ofensivas.
Quando joga em 4-2-3-1 este bloco é mais óbvio. Em 4-1-3-2, requere que Bangoura feche sobre a direita ou que Milevsky ajude sobre a meia esquerda.
A melhor maneira de surpreender este Dinamo, parece-me, é provocando o erro. Mas já lá vamos...
Como ataca?
Em posse é uma equipa que gosta de ter a bola no pé, sendo muito forte nas trocas de bola, especialmente no seu segundo momento ofensivo. Aliev actua como elemento central no jogo, gostando de participar na construção e sendo uma ameaça pela expontaneadade e acerto com que remata. A dinâmica das alas não é simétrica. Betão é mais posicional, enquanto que El Kaddouri gosta de subir no flanco, criando desequilíbrios. A compensação surge com o movimento de Ghioane (quando joga em 4-2-3-1) ou Bangoura (em 4-1-3-2) que se aproximam da ala. Nota para o bom toque de bola mas pouca profundidade de Ninkovic e para as diagonais de Eremenko, que gosta de aparecer no centro. No ataque, Milevsky é um pivot temível dentro da área ou nas imediações desta, enquanto que Bangoura, não sendo tão inteligente, é igualmente perigoso pela capacidade técnica e velocidade do seu futebol.
Devo, no entanto, realçar algumas dificuldades do primeiro momento de construção do Dinamo. O pontapé longo é uma solução muito pouco sistematizada (curiosamente Bolush até tem um pontapé muito forte) e a opção é sair em construção. No entanto, a equipa por vezes torna-se algo lenta sobretudo quando não consegue servir Vukijevic e passar a bola rapidamente para o seu meio campo ofensivo. Se for pressionado o Dinamo normalmente sente dificuldades.
Treinador
Yuri Semin (61 anos) – Este russo tem um trabalho muito respeitável no futebol soviético. A sua história está ligada ao Lokomotiv de Moscovo, onde trabalhou 19 anos, transformando a equipa numa formação de sucesso antes de sair para ser seleccionador russo. Falhado o apuramento para o mundial de 2006 (às custas de Portugal), Semin teve passagem pelo Dinamo de Moscovo e como Presidente (!) do ‘Loko’. O crescimento do futebol do Dinamo tem, claramente, a sua chancela.
5 estrelas
Taras Mikhalik (defesa central, 24 anos) – A capacidade defensiva do Dinamo tem sido uma nota de destaque. Sendo um dos esteios desse sector, Mikhalik tem visto a sua eficácia e sobriedade recompensadas. Não só parece ter ganho um lugar na Selecção ucraniana com, agora, se fala do interesse do Milan.
Ognjen Vukojevic (médio central, 24 anos) – Este croata já havia sido uma revelação no seu país, ganhando a alcunha de “Gattuso croata” e merecendo um lugar nos eleitos para o Euro, onde foi suplente de Niko Kovac. A sua projecção mereceu a cobiça de vários clubes, levando o Dinamo a melhor por 8 milhões de Euros. É de facto um excelente jogador, seguro no passe e muito combativo e inteligente sem bola. A estas características junta uma boa capacidade para surgir a criar desequilíbrios na área ou de meia distância. É, sem dúvida, o parceiro de futuro de Modric na selecção croata e um nome a acompanhar.
Oleks Aliev (médio ofensivo, 23 anos) – Em 2006 foi uma das revelações do Euro sub21, mas o seu futebol pareceu estagnar, falhando na afirmação no Dinamo. Este ano, no entanto, tudo tem sido diferente. Aposta forte de Semin, Aliev tem conseguido tornar o seu futebol em algo mais do simples talento. É verdade que há momentos em que tem ainda dificuldade em entrar no jogo, mas é um jogador tecnicamente temível e com uma notável capacidade de meia distância.
Ismael Bangoura (avançado, 23 anos) – Este guineense é um jogador a ter muita atenção. Vem jogando muitas vezes sozinho na frente (onde faz uso da sua velocidade), mas o seu futebol ganha claramente quando tem Milevsky como jogador mais fixo no meio. A liberdade para ser mais móvel e cair sobre a ala (normalmente direita) permite-lhe tirar maior partido das suas características, particularmente da boa capacidade técnica e explosão.
Artem Milevsky (avançado, 23 anos) – Jogador fino e de enorme capacidade técnica (diria que é um jogador “tipo Bergkamp”). Apesar de ser alto, gosta de ter a bola no pé e, se possível nas imediações da área. A sua presença é uma ameaça porque é muito difícil de parar devido à forma como esconde a bola dos adversários, combinando depois com quem surge no apoio. Embora não seja veloz é um jogador com muito boa mobilidade. O seu regresso de lesão é uma má notícia para os adversários.