21.10.08

Shakhtar Donetsk: Crise e qualidade

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Campeão por 3 vezes nos últimos 4 anos, esta é a grande potência do futebol recente na Ucrânia. O Shakhtar vive, no entanto, a seu momento mais débil dos últimos 10 anos com um inicio de época horrível (está em 8º a 13 pontos do Dinamo Kiev) e inexplicável para o valor individual do plantel. Esta crise de resultados tornou claro que o reinado de Mircea Lucescu está a chegar ao fim, estando anunciado o seu abandono assim que a equipa saia da Champions League. A crise do Shakhtar deve, no entanto, ser olhada com alguma desconfiança. Por dois motivos essenciais. Primeiro porque por detrás deste insucesso recente não está nenhuma perda de qualidade individual da equipa. Pelo contrário, o Shakhtar continua a reforçar-se com os milhões do seu dono, o magnata Rinat Akhmetov, tendo um plante de luxo, com uma aposta particularmente direccionada para o mercado brasileiro de onde importa qualidade e potencial, proporcionando um “salto” que desvia muitos jogadores de grande qualidade de uma rota mais mediática. O segundo motivo é a própria prestação europeia. Ao contrário do seu passado recente, onde os falhanços externos contrastaram com as conquistas internas, este ano o Shakhtar tem estado bastante bem na Europa, vencendo e dominando o jogo com o Basileia e ficando a poucos minutos de conseguir uma vitória com o Barcelona.
Em termos de jogo, destaque para o contraste entre a qualidade individual e alguma anarquia colectiva, o que explica o mau inicio de temporada. Outra nota vai para a facilidade com que Lucescu altera o sistema – contra o Sporting e com as ausências de Luiz Adriano e Ilsinho é ainda incerto se Lucescu irá ou não alterar este 4-2-3-1.

Sistema táctico e opções
Em termos de sistema táctico, a novidade de Lucescu para esta temporada foi o 4-2-3-1, depois de nos últimos anos ter adoptado sistemas com 2 avançados (a diferença está no posicionamento de Brandão que passou a jogar sobre a esquerda em vez de estar fixo como avançado). A verdade é que Lucescu tem experimentado outros sistemas nos últimos jogos e frente ao Sporting poderá apresentar novidades como forma de contornar as ausências de Luiz Adriano e Ilsinho. Um 4-4-2 ou mesmo um 3-5-2, com Srna a médio, são as hipóteses.
Em termos de individualidades há um leque impressionante, com jogadores muito cotados (e caros) a nem sequer entrar nos eleitos de Lucescu para a maioria dos jogos – casos de Willian (ex-Corinthians) e Marcelo Moreno (ex-Cruzeiro).
Na baliza, o titular é o internacional Andriy Pyatov (24 anos).
Na defesa, Darijo Srna, o capitão, joga na lateral direita (mas poderá subir no terreno com a lesão de Ilsinho), Shevchuk (29 anos) na esquerda e Chyhrynskyi (21 anos) e Ischenko (25 anos) formam a dupla de centrais. Entre as alternativas destaque para o internacional ucraniano Kucher para o centro e o internacional romeno Rat para a esquerda.
No meio campo, o checo Tomas Hubschman (27 anos) tem sido a revelação aparecendo numa posição diferente da que ocupava anteriormente (central) ao lado de Fernandinho (23 anos). Para este sector há ainda as alternativas do internacional polaco Mariusz Lewandowski (29 anos) ou do sérvio Igor Duljaj (28 anos). Mais à frente Ilsinho (22 anos) , Jadson (24 anos) e Brandão (28 anos) têm sido os mais utilizados. Aqui, Fernandinho pode actuar no lugar de Jadson e há ainda que contar com Willian (20 anos) recentemente contratado ao Corinthians.
Na frente o lugar tem sido de Luiz Adriano (21 anos) mas a sua lesão abre a oportunidade para os cotados Oleks Gladky (21 anos) – melhor marcador da liga ucraniana em 2007 – e Seleznyov (23 anos). Sem tantas oportunidades está para já o boliviano Marcelo Moreno (21 anos). A expectativa criada em seu redor, no entanto, deixa antever futuras oportunidades.

Como defende?
É provável que a estratégia do Shakhtar passe por uma postura muito pressionante e perturbadora para a construção adversária, tentando forçar o erro para sair depois em transições perigosas. Esta pressão tem duas faces. A primeira é a tal dificuldade que cria à construção adversária, a segunda é exposição que provoca na sua zona mais recuada, visto ser uma pressão feita com referências individuais e com muito pouco controlo posicional. Neste Shakhtar há igualmente algum excessivo adiantamento dos laterais – muitas vezes em simultâneo – o que expõe a equipa em transição.
Claramente, se for evitada a tal pressão do Shakhtar há muito por onde aproveitar uma evidente desorganização defensiva dos ucranianos...

Como ataca?
Com bola esta equipa não é uma equipa previsível, podendo optar por um jogo mais directo , tirando partido da estatura dos seus dianteiros (nota para Brandão), ou por um jogo mais apoiado, onde conta com a integração dos laterais e com uma grande mobilidade e qualidade dos médios. Há, no entanto, nestes movimentos ofensivos um excesso de dependência das qualidades individuais e uma menor qualidade das rotinas colectivas – nota para a pouca mobilidade dos avançados em ataque organizado, dando-se muito à marcação. Saliência, para além dos criativos brasileiros, para Chyhrynskyi, um central com grande vocação para ser preponderante na organização ofensiva, particularmente nos lançamentos longos.
A qualidade individual dos jogadores do Shakhtar por contraponto com alguma menor capacidade colectiva, faz com que seja em transição que esta equipa seja mais perigosa, precisamente por usufruir de mais espaço. Outro aspecto a ter em conta é a facilidade com que os médios recorrem à meia distância.

Treinador
Mircea Lucescu (63 anos) – Este veterano romeno está a chegar ao final da sua passagem pelo Shakhtar, iniciada em 2004. Lucescu ficará sempre ligado ao sucesso interno a que conseguiu ligar o Shakhtar, mas tem como grande falhanço as repetidas prestações europeias, aquém do que era pretendido com tanto investimento.

5 estrelas
Darijo Srna (defesa direito, 26 anos) – Quem o vê jogar percebe facilmente o talento que está escondido na Ucrania. Srna é daqueles que poderia jogar em qualquer liga do mundo e, provavelmente, em qualquer clube. Este croata faz de médio na selecção, mas Lucescu tem-no visto quase sempre como lateral, dando-lhe no entanto grande vocação ofensiva.

Dmytro Chyhrynskyi (defesa central, 21 anos) – Destacou-se no Euro sub 21 de 2006 e é hoje uma figura emergente no Shakhtar e na selecção ucraniana. Alto e forte fisicamente é vitima de uma defensiva muitas vezes desorganizada e errática, mas destaca-se quando a equipa ganha a bola, assumindo um papel interventivo na construção.

Fernandinho (médio centro, 23 anos) – Já está no Shakhtar desde 2005 e a Europa pouco conhece deste jogador de grande qualidade. Pode jogar mais recuado ou como 10 e destaca-se pela sobriedade e competência com que se apresenta, tanto a atacar como a defender. Há que realçar, claro, a capacidade goleadora deste médio aparentemente discreto. Um pé direito “bomba” e uma boa capacidade aérea nos lances de bola parada explicam um número considerável de golos. Foi o melhor jogador da liga ucraniana do ano passado.

Jadson (médio centro, 24 anos) – Baixo e muito forte tecnicamente é o coordenador ofensivo da equipa. Tem um pé direito muito preciso e isso faz com que a equipa o procure com bola, sendo ele também o marcador de livres e cantos do Shakhtar.

Brandão (médio ofensivo, 27 anos) – Já está no Shakhtar desde 2002. Apesar de vir jogando adaptado sobre a esquerda, Brandão é claramente um avançado, juntando-se ao centro do ataque sempre que a equipa ganha a bola. Tem uma amplitude de virtudes que fazem dele um jogador forte para diversas soluções. Nesta equipa do Shakhtar, no entanto, torna-se particularmente mais notado quando a equipa recorre a uma abordagem mais directa ao jogo.

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