Construir uma opinião em torno de um sentimento preconcebido é algo muito comum, particularmente no futebol. O caso de Scolari foi, neste aspecto, um exemplo extremo, resultando em leituras antagónicas do seu trabalho, não porque a análise final fosse susceptível de uma grande subjectividade mas porque esta foi feita por pessoas com sentimentos que, desde o inicio, tinham orientações opostas em relação ao ex-seleccionador. O papel mais complicado ficou reservado, claramente, para aqueles que nunca “foram à bola” com o “Sargentão”. Perante os resultados sem paralelo da Selecção sob a sua liderança, foi necessário recorrer a alguma criatividade para encontrar argumentos que compusessem o sofisma da “normalidade” dos resultados de Scolari à frente da Selecção. Esta era, afinal, a única forma de se manter a ideia inicialmente formada sobre o seleccionador.
A era Scolari passou mas para os seus críticos de longa data estes são tempos importantes. É que embora Scolari já não seja o responsável pela Selecção, fica claro que o que acontecer no futuro imediato pode valorizar ou desvalorizar implicitamente o trabalho do ex-seleccionador. Neste aspecto o inicio da era Queiroz foi tudo menos positivo para esta facção e, agora, assistimos a novos argumentos que ansiosamente desculpabilizam o inicio tremido da qualificação para o Mundial. Entre todos os que ouvi nos últimos dias, destaco o da responsabilização de Scolari por um calendário pretensamente adverso, mas há uma outra tese que se torna particularmente curiosa. Diz-se agora que Portugal, afinal, não é assim tão superior a formações como a Suécia e Dinamarca e que estas, até, têm um historial mais relevante do que o nosso. Claro que isto não interessa nada quando, os mesmos, classificam de “obrigação” uma final de um Euro (para alguns mesmo um falhanço!) e uma meia final de um Mundial, tendo uma equipa com tanto talento. Lá se foi o sofisma...
Alguns pontos
Para mim, há várias coisas que são claras. A primeira é que os resultados do trabalho de Scolari são, goste-se ou não da figura, inquestionáveis e, infelizmente, dificilmente igualáveis. A segunda é que o perfil de Queiroz é claramente diferente do de Scolari, sendo melhor nuns aspectos mas ficando a dever notoriamente noutros, o que é normal. A terceira é que o trabalho de Queiroz não se mede por 2 jogos a doer. O quarto e último ponto que quero deixar é para a qualidade da Selecção e dos seus adversários. Portugal é hoje uma das Selecções mais fortes do mundo em termos de individualidades e não é comparável a qualquer das suas concorrentes no apuramento. Isto não “obriga” Portugal a vencer todos os jogos mas dá-lhe a responsabilidade de se apurar directamente. Ainda sobre esta questão, quero discordar de alguma sobre valorização da Suécia. À excepção de Ibrahimovic, a Suécia é uma Selecção sem grande nível e mesmo inferior (em qualidade individual) a adversários recentes como a Rússia, Sérvia ou Turquia.