A dura realidade - É algo que não é simpático de perceber, mas que é fácil de ver. Os grandes portugueses são hoje – mais do que em qualquer altura da história – demasiado pequenos para alguns colossos europeus. É a consequência natural de quem está em níveis diferentes da “cadeia alimentar” do futebol europeu e, se em certos anos isso pode até ter sido menos evidente, a tendência do tempo é para que as forças se tornem evidentemente desiguais. Se o Porto vende tudo o que é bom (porque assim tem de ser) como pode competir recorrentemente com níveis de excelência? Não pode, pois claro.
Falta de ambição? – Naturalmente que se pode exigir mais do que aquela segunda parte medonha, em que mais golos apenas não surgiram por acaso. Agora o que é errado é falar de falta de ambição porque, aí, não era de ambição de que se tratava. O que se pedia era que os jogadores do Porto tivessem motivação para perder por poucos, algo por que, claramente, não estão habituados e, obviamente, não foram preparados.
Tacticamente – Jesualdo reproduziu a estratégia da Luz. Ou seja, um 4-3-3 com um extremo falso (Tomas Costa) que liberta um médio (Meireles) para acções mais ofensivas e próximas de Lisandro. Do outro lado, Rodriguez sem a responsabilidade do acompanhamento a Sagna (era Guarin quem basculava sobre a ala) para depois poder ser lançado em transição. Percebe-se a intenção da estratégia que privilegia a defesa dos flancos perante um adversário que utiliza muito as combinações nos corredores. Foi-se dizendo que o Porto defendeu mal sobre a esquerda. Eu diria que o Arsenal atacou bem pela direita e o que falhou, em termos defensivos nesse aspecto, não foi por défice estratégico.
Outro aspecto essencial (como sempre, no caso do Porto) era o pressing. No inicio o Porto conseguiu pressionar alto a posse do Arsenal que, sentindo algumas dificuldades, acabou por se soltar progressivamente. Este é um aspecto importante porque o Porto foi perdendo confiança num posicionamento mais alto e, com o passar do tempo, foi-se encolhendo, o que dificultou particularmente as suas saídas em transição, já que recuperava a bola a partir de zonas demasiado baixas. Não posso deixar, naturalmente, de mencionar a importância da qualidade do Arsenal no desenrolar deste processo (quer com bola, quer sem), e chamar a atenção para o lance do primeiro golo. Ao pressing alto do Porto, os “Gunners” responderam com uma solicitação directa a Adebayor, fazendo a bola chegar rapidamente ao espaço entre linhas. Este é apenas um exemplo de como o recurso ao jogo directo não é uma “arma dos fracos”, antes sim um complemento importante para quem quer ter um vasto leque de soluções ofensivas. Fazê-lo bem é que é mais difícil, apesar de muitos puristas teimarem em ligar este recurso exclusivamente a um futebol menos evoluído...
Outra nota que quero deixar são as bolas paradas. Nestas alturas desata-se a pôr tudo em causa, mesmo aquilo que está há muito enraizado. Não é por sofrer um golo de bola parada que o Porto deve rever o seu método defensivo neste tipo de lances. Quando é homem-a-homem é porque devia ser zona. Quando é zona é porque devia ter sido acompanhado individualmente?!
Confiança – O aspecto psicológico era (e foi) essencial. Para ter alguma hipótese de discutir o jogo, o Porto tinha de ganhar algum ascendente sobre o Arsenal neste particular. Ao não marcar nas ocasiões que teve (na primeira, uma grande transição a partir de um pontapé de canto defensivo - já um clássico deste Porto) ficou de parte a hipótese de atingir esse objectivo o que era particularmente grave porque o golo do Arsenal era quase uma inevitabilidade. O lado psicológico do jogo tornou-se mais relevante e prejudicial ainda quando se percebeu como o Porto foi reagindo a cada um dos golos que sofreu, terminando o jogo mentalmente de rastos.
E agora? – Há dois caminhos para a reacção a este resultado. O primeiro é o mais comum nos adeptos (não do Porto em particular). Realçar os aspectos negativos e a incapacidade da equipa. Aqui surge um comportamento muito habitual que é separar o “nós” do “ele”. Ou seja, o clube do treinador. Não é a equipa e o clube (“nós”) que não tem capacidade, mas sim o treinador (“ele”) que não está ao nível exigido. Não tem ambição, não sabe definir estratégias para os jogos, não sabe fazer substituições, etc. etc. Muito fácil.
O outro caminho é perceber que esta derrota, por muito pesada que seja, não desvia o Porto dos seus reais objectivos para a temporada. Que a equipa está num processo de regeneração de alguns elementos e que o único caminho é analisar os erros e tentar corrigi-los para melhorar. Ganhar a “Arsenais” pode não estar ao alcance deste Porto mas, também, desde quando é que era esse o objectivo?
Golos