6.10.08

Sporting - Porto: Quem treme mais?

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O factor decisivo – Numa das muitas opiniões recolhidas antes da partida alguém referiu que, nestes jogos entre equipas equilibradas, mais do que os aspectos tácticos – invariavelmente explorados pela critica quando o resultado é já conhecido – são os detalhes da resposta mental dos jogadores que mais contam na definição do jogo. Estou totalmente de acordo com esta visão que julgo ter tido neste jogo mais um bom exemplo do seu acerto.
Neste aspecto mental esperavam-se duas equipas possivelmente num momento menos positivo. Se no caso do Porto até se poderia compreender alguma ansiedade por vir de um jogo invulgarmente mau e encarar um adversário que estava à sua frente na tabela, no caso do Sporting, como referi após o jogo do Basiléia, não se percebe o estado de espírito que se apoderou de adeptos e equipa, perante um inicio de época com resultados perfeitamente dentro daquilo que são os objectivos para a temporada. Se terá sido motivado pelo clima externo ou interno, não sei dizer. O que sei é que a tremedeira gritante que se viu nos jogadores do Sporting durante os primeiros 45 minutos de jogo entregou praticamente de bandeja os 3 pontos a um Porto que, sem fazer um grande jogo, soube tirar partido dos erros do adversário, justificando a vitória.

Sporting – Paulo Bento terá sido particularmente influenciado pelo que se passou nos últimos 2 jogos para a sua opção inicial. As lesões de Izmailov e Vukcevic implicavam, quase que obrigatoriamente, a reprodução do trio Veloso, Moutinho e Rochemback, que havia revelado, nesses jogos, uma incapacidade notória para dar força ao segundo momento ofensivo da equipa. Perante o problema, Bento terá tentado criar uma compensação para esta pouca propensão ofensiva dos seus médios com a inclusão de Djaló e uma aparente preocupação em manter os médios interiores mais abertos do que o costume – Moutinho em particular. Francamente, creio que a presença de Djaló não terá sido benéfica para a ligação do jogo do Sporting mas não posso vincar demasiado esta minha convicção porque houve, no Sporting, um comportamento de tal forma errático que, acredito, teria posto em causa as aspirações colectivas, fosse qual fosse a estratégia para o jogo. O número de passes errados foi assustador nos primeiros minutos de jogo, revelando uma enorme intranquilidade dos jogadores. O primeiro remate do Porto, por Tomas Costa, resulta de um passe errado (Polga para Djaló). A jogada (anedótica!) que antecede a displicência de Grimi, na origem do primeiro golo, começa com um passe errado do mesmo Grimi, entregando a posse de bola ao Porto. O lance que termina na falta que dá origem ao livre de Bruno Alves começa num passe errado de Tonel para Abel. O remate de Meireles, já após o 1-2, resulta de um passe errado de Veloso para Abel. E estes são apenas exemplos. O Sporting melhorou claramente no segundo tempo, foi mais esclarecido na posse de bola (o que não era difícil), pressionou melhor na reacção à perda de bola e conseguiu algumas fases de intenso assédio à área portista que lhe poderiam ter facilmente valido o golo nas poucas mas boas oportunidades que teve. As melhorias (refiro-me à confiança dos jogadores e não ao risco assumido), no entanto, revelaram-se tardias e os primeiros 45 minutos acabaram mesmo por ser decisivos. Individualmente, creio que a excepção à regra terá sido Moutinho, com Postiga também em bom plano. No pólo inverso estiveram, sobretudo no primeiro tempo, vários jogadores, com Grimi a ser o mais determinante pela negativa (seguramente o seu pior jogo com a camisola do Sporting). A paragem será ideal para recuperar alguns elementos que, fica claro, fazem muita falta a este Sporting.

Porto – Mesmo depois do terramoto de Londres, Jesualdo voltou a apostar na mesma estratégia de Benfica e Arsenal. Esta é a prova, para quem tem dúvidas, de que as coisas não surgem por mera improvisação momentânea do treinador, mas sim porque este acredita que a sua estrutura normal não garante a mesma solidez perante equipas mais fortes. Assim Jesualdo, utiliza um ala mais defensivo (Tomás Costa) para fazer aquilo que o seu modelo tanto se empenha por privilegiar: as qualidades ofensivas dos seus melhores jogadores (no caso, Lucho Gonzalez, que fica liberto de maiores responsabilidades defensivas). Goste-se ou não, parece-me, como já me parecia, legítimo.
Mas se no passado tenho defendido aqui ser profundamente redutor apontar o dedo à estratégia de Jesualdo na hora da derrota, sigo agora a mesma linha de raciocínio perante o resultado inverso. A vitória do Porto não se deveu a uma “vitória táctica” de Jesualdo mas, sobretudo, a um bom aproveitamento dos erros do adversário. O pressing não me pareceu particularmente impressionante tendo em conta o que já vi a este Porto, mas foi o suficiente para importunar um Sporting demasiado errático no primeiro tempo e abrir caminho à vitória. Na segunda parte, por força da atitude do adversário e tolerância da sua própria estratégia no jogo, o Porto baixou o seu bloco, procurou menos o erro, mas criou também condições para matar o jogo com o aproveitamento dos espaços que o Sporting libertava. Não teve sempre o controlo da situação, mas foi claramente solidário defensivamente e, como é normal nestas situações, foi crescendo em confiança com o passar dos minutos. Devo, no entanto, referir que um outro Porto, num momento de maior confiança ter-se-ia, creio eu, antecipado ao apito do árbitro para pôr um ponto final no jogo.
Individualmente, nota para a invulgar normalidade das exibições de Lucho e Lisandro, para a entrega decisiva de Tomas Costa (o que é que Jesualdo lhe vai fazer quando regressar à estrutura normal?) e, claro, para a inspiração de Bruno Alves... quem diria!

Golos:
0-1; 1-1; 1-2;

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