17.10.08

Ainda sobre o inicio de Queiroz...

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A herança de Scolari – Houve quem lançasse a questão “o que deixará Scolari?” antes mesmo deste sair. A mais evidente das respostas está no fenómeno que se está a viver, agravado pela rapidez com que surgiram os maus resultados. Scolari, pelo tempo que esteve à frente da Selecção, pela força do seu carácter e, claro, pelos resultados que obteve, tinha tudo para se tornar num fantasma para o seu sucessor. Essa é a face mais evidente – e inevitável – da “herança de Scolari”, mas também a menos útil...
Scolari tem um trajecto repleto de êxitos à frente da selecções. É factual. O que não é factual mas está muito próximo disso é a constatação que este sucesso não surge pela excelência das suas competências técnico-tácticas, como todos os seus críticos fazem questão de salientar. O que fez o sucesso de Scolari foi a forma como ele constrói e gere os seus grupos. Essas práticas, que são diferentes de outros seleccionadores que tivemos no passado, deveriam ter servido para que aprendêssemos alguma coisa com elas e não para as ignorarmos ou, em certos casos – pasme-se! – as criticarmos. Esta é a segunda face da “herança” que, ao contrário da primeira, só está ao alcance daqueles que tiverem a inteligência de a perceber.
Perante estas duas faces da “herança Scolari”, Queiroz escolheu despertar o fantasma da primeira e desprezar os méritos da segunda e isso ficou claro, logo, no seu discurso de abertura. “A Selecção não pode ser uma casa com lugares marcados” foi a frase forte do discurso de abertura e que, na altura, foi semente para uma colheita de aplausos. A verdade é que essa foi uma forma duplamente infeliz de virar a página na Selecção. Primeiro porque deixava uma critica implícita e desnecessária aos métodos de Scolari, estabelecendo desde logo uma comparação com o passado. Segundo porque, em vez de retirar o que de bom Scolari fez neste campo, ignorou-o, anunciando um simples (e na minha opinião triste) regresso ao que se fazia anteriormente. (estou particularmente à vontade para fazer esta critica agora, porque escrevi a mesmíssima coisa, na altura).

Construcção de uma equipa – Queiroz queixa-se agora da falta de tempo para construir uma equipa, que não esteja dependente de A ou B. Esse era, e é, o grande desafio de Queiroz nesta nova fase da Selecção. Fazer valer as suas competências técnico-tácticas (onde é mais forte do que todos os seus antecessores) para melhorar o modelo de jogo da Selecção. A verdade é que ainda pouco ou nada se viu em termos de evolução desse aspecto. Portugal joga no mesmo 4-3-3, com os mesmos princípios e as mesmas referências de jogo e, claro, com Ronaldo na mesma função que tinha antes.
É verdade que Queiroz não teve tempo para fazer muito e é também um facto que o leque de jogadores disponíveis tem sido inconstante, com as principais figuras a não estarem presentes em simultâneo em nenhuma ocasião. Mas parece-me que Queiroz acaba por ser vitima das suas próprias opções. Para se formar uma equipa é preciso treinar e é preciso treinar com um grupo de jogadores o mais fixo possível. A filosofia anunciada do “joga quem estiver melhor” é completamente contraditória com esta ideia. Se Queiroz sabia que teria pouco tempo para treinar, porque não levou desde o inicio jogadores que, objectivamente, iriam fazer parte dos seus planos mais tarde ou mais cedo como são os casos de Quaresma ou Miguel?
Para mim é claro. Se uma equipa é mais do que um simples conjunto de jogadores, não pode ir apenas quem “estiver melhor” em cada momento. Têm de ir, sim, aqueles com que o treinador conta.

Do que não é responsável – Se lhe aponto as responsabilidades dos pontos anteriores, discordo da excessiva responsabilização que, como sempre, cai sobre o treinador na hora dos maus resultados. Entre outras coisas: (1) Não me parece que as opções técnico tácticas de Queiroz expliquem os 7 pontos perdidos. Aliás, creio que, sem ter estado dentro do que é exigível, Portugal foi excessivamente penalizado nos jogos que fez.(2) Portugal com Queiroz não está, obviamente, condenado ao insucesso. O trabalho faz-se e mede-se a prazo e qualquer tipo de julgamentos radicais não fazem, nesta altura, qualquer sentido. (3) Alguém resolveu vender a ideia de um novo “projecto Queiroz” aquando da sua chegada. Um Seleccionador tem a grande responsabilidade de obter resultados desportivos e não de traçare implementar estratégias de fundo. Queiroz assinou um contrato de 4 anos e, que se saiba, foi “apenas” para ser Seleccionador. Se alguém se iludiu neste aspecto, não é a Queiroz que deve pedir contas...

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