Cerca de um mês depois de ter sido conhecida a decisão de Scolari não continuar à frente dos destinos da principal Selecção portuguesa, a Federação anunciou aquilo que todos já desconfiavam: o sucessor será Carlos Queirós.
Confesso que a escolha de Queirós, só por si, não me provoca grande entusiasmo. Por dois motivos:
(1) Primeiro porque a sugestão de Queirós como candidato ideal em muitos espaços de opinião aparece sustentada com o recurso à memória do trabalho feito há cerca de 20 anos atrás. Não acredito em regressos ao passado no futebol, simplesmente porque o passado é mesmo isso, passado, e as condições não se reproduzem. De resto, há vários exemplos de treinadores que, noutros tempos vitoriosos, foram recuperados ao bom estilo sebastianista tendo, em pouco tempo, se transformado na mais profunda desilusão. Ainda neste aspecto convém referir que, passados todos estes anos, a memória parece não ser total no que respeita a alguns detalhes. É que o sucesso de Queirós na Federação aconteceu apenas como Seleccionador das camadas jovens, falhando o apuramento para o Mundial de 94 na Selecção A, batido por uma Suíça que, embora competente, não era nenhum tubarão.
(2) O segundo motivo será o mais relevante e prende-se com uma aparente distância entre o perfil que a “ideia Queirós” tem, e a sua missão concreta na Federação. A Federação fez questão de esclarecer que não havia qualquer outra empresa envolvida no processo de negociação da contratação de Queirós, mas ter-se-á esquecido de esclarecer aquilo que, para mim, era mais importante (talvez, espero, o faça na apresentação oficial): quais os reais objectivos do Seleccionador contratado para os próximos 4 anos? E aqui entra a encruzilhada: Se for para reformular o futebol nacional a partir das bases, não se estará a subvalorizar a importância e exigência dos resultados ao nível dos AA? Não merece uma selecção como Portugal um Seleccionador que seja avaliado apenas pela prestação da equipa principal? Por outro lado, se o objectivo principal são os AA, porque é que se contratou Queirós por 4 anos? Afinal, em que perfil encaixa Queirós?
Com tudo isto não quero pôr em causa a experiência de Queirós, nem, muito menos, os méritos do seu passado. Acontece que a Selecção é hoje outra e com exigências bem para além da formação. Por isso, creio que as reformulações a fazer nas bases justificariam um responsável que pudesse realizar um trabalho de médio-longo prazo sem a pressão dos resultados que uma Selecção como a de Portugal tem que ter.
Para tudo isto há, claro, uma solução. Se Queirós tiver autonomia para traçar e implementar um plano – forçosamente a prazo – para a formação e, paralelamente, tiver bons resultados nos AA, então, terá a estabilidade para trabalhar durante os 4 anos do seu contrato. Este é um desafio grande para um treinador que se revelou sempre melhor em trabalhos com ausência de pressão do que com ela. Foi assim quando teve o tempo e as condições para trabalhar uma formação portuguesa até então sem currículo, e foi assim como numero 2 do United. O revés da medalha está, claro, na tal qualificação falhada para o EUA94, na incapacidade para ser campeão com o Sporting mais talentoso das últimas décadas e, finalmente, no "galáctico" Real Madrid. Para Queirós o barómetro da pressão tem um nível claro e de forma nenhuma modesto: não fazer pior do que Scolari.
A melhor das sortes é tudo o que lhe desejo!