Um dos aspectos em comum nesta pré época tem sido a introdução de um sistema táctico que, embora seja provavelmente o mais popular, conhecido e utilizado em todo o mundo, tem em Portugal muito poucos exemplos práticos da sua utilização. Falo, claro, do 4-4-2 clássico.
Popular na Europa, até entre os campeões
Uma olhada pelos diversos campeonatos mundiais leva à conclusão de que este é um sistema que aparece com frequência e independentemente das diferenças entre as várias escolas de treinadores. Em particular, nos 5 melhores campeonatos europeus (Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha) este é um sistema muito presente, com a particularidade de ter sido utilizado por todos os campeões destas ligas em 07/08. Em Inglaterra, que se pode quase dizer ser a terra do 4-4-2, Ferguson elege-o como uma das alternativas mais utilizadas no seu Manchester United. Em Espanha, onde também há um grande número de treinadores a utilizar esta solução sistémica, o Real Madrid apresentou-se muitas vezes no 4-4-2 clássico no inicio da época, tornando-se esta uma opção menos frequente durante o tempo em que Nistelrooy esteve lesionado. Em Itália, o Inter de Mancini recorreu ao 4-4-2 provavelmente mais vezes do que a qualquer outro sistema em 07/08. E mesmo em França, com o Lyon a ser claramente o caso de menor utilização do 4-4-2 entre estes 5 campeões, o sistema foi, ainda assim, posto em pratica episodicamente no inicio de temporada, numa tentativa de conciliação de Baros e Benzema na frente de ataque. Quanto ao Bayern, a dupla Toni e Klose fez furor à frente de duas linhas de 4 homens, definindo um 4-4-2 que se pôde ver também na caminhada bávara até à meia final da Taça Uefa.
Em Portugal: porquê não?
Se juntarmos a esta constatação ao nível de clubes, a mais recente popularidade do sistema revelada no Euro 2008, então torna-se ainda mais estranho o seu eclipse do panorama futebolístico nacional. De facto, apenas por importação de alguns treinadores estrangeiros o 4-4-2 tem sido primeira opção nas equipas nacionais. Em 07/08 e para além das tentativas de Camacho em utilizar o sistema, particularmente após a contratação de Makukula, há muito poucos exemplos da sua aplicação ainda que episodia. Um exemplo aconteceu com o Setúbal de Carvalhal que, na meia final da Taça frente ao FC Porto, recorreu ao sistema como estrutura base de uma ideia de jogo muito especifica e estratégica que tinha o objectivo de anular o maior poderio azul e branco.
A pergunta inevitável é: Porquê? Como resposta enunciaria talvez 2 factores que estão, naturalmente, interligados. Primeiro, e mais importante, o factor cultural, quer dos treinadores, quer das características dos jogadores – Portugal é um país de mais extremos e menos avançados, pelo que é natural que o 4-3-3 seja um sistema naturalmente mais popular. Depois, porque quer o 4-3-3 que se pratica em Portugal, quer o recentemente adoptado 4-4-2 losango são sistemas que conseguem mais naturalmente tirar partido de uma superioridade numérica na zona central e, talvez mais relevante, da criação de mais linhas nessa zona. Não posso, a este propósito, deixar de recordar uma declaração de Mourinho que, em relação à popularidade do 4-4-2 clássico em Inglaterra, disse ser-lhe fácil ganhar vantagem sobre as equipas que jogavam nesse sistema pois, criava-se uma linha de passe sempre que era um médio adversário a fazer pressão sobre sobre o seu médio defensivo.
Claro que isto não quer dizer que equipas que actuam em 4-4-2 clássico estão sempre em desvantagem perante organizações com 3 médios na zona central. No entanto, é uma realidade que num jogo disputado sobre a zona central – como acontece em Portugal, onde o jogo directo é uma raridade – esse encaixe que debilita o 4-4-2 dar-se-á quanto menos trabalhadas forem as equipas em termos de princípios de jogo, ou seja, quanto mais a sua “Táctica” for dominada pelo sistema e não pelas dinâmicas colectivas. Pessoalmente creio que cada vez mais se trabalha melhor os princípios de jogo em Portugal e que, por isso, cada vez mais é possível chegar a modelos que, partindo de um 4-4-2 clássico, consigam contornar essa desvantagem numérica no “miolo”, ganhando depois ascendente noutras zonas do terreno.
Desafio difícil caso seja primeira opção
Se no Sporting e, agora mais surpreendentemente no FC Porto, versões do 4-4-2 clássico parecem poder ser esqueletos de modelos alternativos, o caso do Benfica pode ser ainda mais radical. Se Quique Flores adoptar o 4-4-2 clássico como sistema prioritário terá essa missão acrescida de contornar as tais dificuldades que, historicamente, fizeram com que o sistema não vingasse em Portugal. Para ser sincero, parece-me um desafio difícil (onde, por exemplo, Camacho falhou), mas ao mesmo tempo, particularmente interessante de seguir...