- No Dragão o FC Porto mostrou como os tropeções alheios apenas dão à equipa maior confiança. Talvez motivados pelo valor teórico do adversário, os Dragões fizeram um jogo a roçar a perfeição. Equilíbrio colectivo, concentração competitiva e grande eficácia de processos valeram ao Porto uma goleada num jogo em que a equipa personificou em grande medida a racionalidade que caracteriza o perfil ideológico do seu treinador. No futebol não é necessário ser-se exuberante e o essencial é errar pouco e aproveitar melhor os erros adversários. O Porto, neste aspecto, foi de uma eficácia tremenda e resolveu cedo o jogo à custa dos deslizes alheios. Nota para a boa forma argentina de Lucho e Lisandro (Farias também apareceu mas, para já, é demasiado cedo para se falar em brilhantismos) e para a desilusão bracarense. Manuel Machado cometeu a imprudência de estrear Miguelito - sem competição - no mais difícil dos palcos e a equipa deu, em campo, sequência aos lapsos do seu líder.
- Na Luz uma exibição que espelhou o momento da equipa. Se se dizia que o Benfica é uma equipa emocional, o que se poderia esperar de um momento em que o colectivo passa por uma fase moralmente baixa? No que respeita ao jogo, destaque para o emparelhamento de Nuno Gomes e Cardozo na frente. Com Nuno Gomes o 4-2-3-1 torna-se – como já havia sido no início da “era Camacho” – mais próximo de um 4-4-2. Não porque a equipa ganhe novos princípios colectivos, mas porque individualmente Nuno Gomes é obviamente diferente de Rui Costa. Com bola a equipa ressentiu-se da ausência de Rodriguez e da falta de um jogador que soubesse explorar o espaço nas costas da defesa contrária, já que o Leixões é das poucas equipas que em Portugal não receia subir (ainda que ligeiramente) a sua linha mais recuada para encurtar o espaço entre linhas. Como o Benfica procurou, precisamente no espaço entre linhas, as soluções para o seu jogo, sentiu muitos problemas. Defensivamente cometeram-se muito mais erros do que é habitual, aqui com destaque para o jogo anormalmente intranquilo de Luisão, notoriamente afectado pelo incidente com Katsouranis. A solução para a “equipa emocional” está, evidentemente, na própria reabilitação emocional da equipa. Até porque noutros planos Camacho nunca conseguiu introduzir grandes mais valias a esta equipa.
- Sobre o Sporting começo por dizer que, ao contrário do que se tem dito, não me parece que tivesse havido qualquer 4-2-3-1 em Coimbra. O sistema manteve-se, apenas com a novidade de Vukcevic jogar ao lado de Liedson. Moutinho foi quem preencheu o vértice esquerdo do meio campo e, se numa primeira fase Vukcevic descaiu preferencialmente para aquele flanco, a partir dos 30’ passou a ocupar mais zonas do terreno. O Sporting trouxe de Coimbra um empate mas, se souber retirar as melhores ilações do que fez, poderá ter conquistado algo bem mais importante do que os 3 pontos. Para além da melhoria indesmentível de atitude, houve também vários aspectos em que a equipa esteve melhor. O seu meio campo voltou a ser dominador, empurrando constantemente a Académica para a sua área (há muito que não se via esta capacidade no Sporting). Creio que aqui terá que se destacar a importância da passagem de Vukcevic para uma outra posição. Com Moutinho e Izmailov nos vértices do losango, o Sporting ganhou mais capacidade para o jogo em posse, melhorando também muito na transição defensiva. Sem Purovic e com Vukcevic, a equipa conseguiu ter mais mobilidade ofensiva, oferecendo mais soluções e mais qualidade ao jogo no terceiro terço do campo. Sinais importantes e que devem influenciar as próximas decisões de Paulo Bento. Nota para a fase final da partida. Naturalmente que uma equipa tem de ser capaz de segurar o que custou tanto a conquistar, mas parece-me normal que a ansiedade tome come conta dos jogadores, dado o momento da época e do jogo. O que me parece também é que o Sporting voltou a não estar devidamente concentrado num lance de bola parada, um problema recorrente esta temporada.
- O destaque da jornada é, sem dúvida, o Vitória de Guimarães que ascendeu ao terceiro lugar após uma vitória fantástica em Setúbal. Devo confessar a minha surpresa pela época do Vitória (ao contrário do outro, o de Setúbal que, com Carvalhal, era para mim mais previsível). Não sou um fã de Manuel Cajuda mas tenho de reconhecer o mérito a uma equipa a quem projectava um campeonato regular mas ainda (e digo “ainda” pelo potencial que tem o clube) longe destes feitos. A época não terminou e estou curioso para ver até quando este Vitória se vai manter com esta “pedalada”...