A CAN está já em pleno andamento no Gana. A verdade é que aquilo que há uns anos era uma verdadeira montra de talentos por revelar é hoje uma competição bem diferente e que é cada vez mais o espelho dos desequilíbrios sócio económicos do Continente. Imaginemos o confronto entre a Costa do Marfim e o Benin. De um lado estrelas da elite do futebol Mundial – os emigrantes de luxo, Drogba, Traore, Kalou ou Eboue –, do outro um conjunto de jogadores vulgares espalhados pelas divisões inferiores do futebol europeu, tentando a todo custo conseguir o brilho que possa servir de trampolim para a sua carreira. Tudo isto jogado num relvado demasiado alto e que promove ressaltos aleatórios, próprios de um futebol amador. Nas bancadas, clareiras entre os espectadores, explicadas pela incapacidade de um povo aproveitar esta oportunidade única de ver brilhar tantas estrelas. Tudo pelo preço proibitivo de... 10€!
Mas é sobre a relação entre o futebol africano e o futebol português que quero reflectir. Para tal, pensemos no que foi a representação “portuguesa” na elite africana dos últimos 20 anos. No final dos anos 80, em Portugal jogava o melhor jogador africano, Madjer. Depois, no inicio dos 90 a euforia Nigeriana teve forte representação do futebol português. Yekini e Amunike faziam parte dessa Selecção que encantou o mundo em 94 e ambos mereceram a distinção de melhor jogador africano do ano (em 93 e 94, respectivamente). A partir daqui deu-se a explosão do futebol africano. Muitos foram os jogadores africanos recrutados pelos clubes portugueses, mas progressivamente a elite daquele Continente começou a ser desviada para outros destinos, como a Bélgica, Holanda, França e Inglaterra. Hoje é impensável que um clube Português possa recrutar 1 dos 20 melhores jogadores africanos da actualidade e é também pouco provável que muitas das suas promessas possam parar pelos nosso relvados nos próximos tempos. Se é verdade que para esta evolução contribuiu sobretudo o desenvolvimento do futebol africano, não deixa de ser mais uma evidência da assombrosa perda de estatuto do futebol português dentro do panorama Mundial.
A Portugal e aos clubes portugueses (sem excepção) falta visão e estratégia a vários níveis. Um deles é precisamente um aproveitamento eficaz dos “mercados potenciais”. A visão e o investimento feito pelos Belgas e Franceses (particularmente o famoso caso do ASEC da Costa do Marfim) deveria ter sido há muito repetido em países com quem temos proximidade cultural e deve, ainda hoje, servir de exemplo para quem por cá se deveria preocupar com o futuro dos clubes e a verdade é que nem o tempo é ilimitado, nem as oportunidades não estarão sempre tão claramente presentes diante dos nosso olhos. O problema é o de sempre... os efeitos não são de curto prazo e, no futebol português, essa é a única distância temporal que conta.