Nos últimos dias foram apresentadas as contas das SAD dos 3 grandes relativamente ao 1ºTrimestre da temporada 07/08. A nova realidade do futebol torna estes documentos peças importantes para a compreensão da realidade do futebol dos 3 maiores clubes portugueses, tanto no que respeita ao presente como às expectativas futuras. Antes de passar a um comentário sobre cada uma das SAD, saliento 2 aspectos. O primeiro tem a ver com uma alteração do ‘timing’ em que são reconhecidos os prémios de presença na Liga dos Campeões. Normalmente este prémio era assumido no momento em que a equipa garantia a presença na competição do ano seguinte, o que permitia um aumento de receitas no final da temporada. Este ano houve um alteração e essas receitas passarão a ser incluídas no momento em que a equipa inicia a sua presença na prova, ou seja, no inicio do exercício e não no seu final. Este facto (apenas não confirmado no relatório do FCP, ficando para mim a dúvida neste caso) faz com que os resultados sejam melhores do que é hábito nesta altura, perdendo-se, por outro lado, esse benefício que normalmente era antecipado para o final do ano. O outro ponto tem a ver com o facto de as contas do Benfica dizerem respeito ao período entre 01 de Agosto e 31 de Outubro, enquanto que as SAD de Sporting e Porto iniciaram o exercício 1 mês antes, terminando o 1º trimestre em 30 de Setembro. Naturalmente, isto implica para o Benfica a inclusão das receitas do mês de Outubro da Liga dos Campeões neste relatório.
FC Porto
O modelo de gestão da SAD portista está fortemente dependente das grandes receitas que o clube tem conseguido com vendas extraordinárias de passes de jogadores. O Porto sustenta com estas entradas o prejuízo acumulado com os elevados valores de custos com o pessoal e amortizações de passes de jogadores (fruto dos muitos milhões investidos nos últimos anos). De resto, este desequilíbrio nas contas extra transferências de jogadores pode ser ainda hoje comprovado pelos resultados operacionais negativos. O Porto atravessa, no entanto, um momento claramente positivo após as vendas de Anderson e Pepe (cujo valor da venda foi incluída neste exercício). A SAD apresenta um lucro que a salvaguardará de grandes problemas nos próximos tempos, não estando minimamente dependente de uma grande venda no próximo ano e podendo até – dado o modelo até agora seguido – esperar-se um investimento significativo da SAD em algum talento emergente. Saliente-se ainda que o FC Porto será aquele que mais milhões encaixará com a Champions, o que contribui ainda mais para o cenário desafogado nos próximos tempos. Nota, finalmente, para o valor de receitas operacionais apresentado. Fica a dúvida se este valor inclui ou não os cerca de 4 milhões de presença na Champions deste ano. De todo o modo, dada a evolução positiva que a SAD portista tem conseguido neste campo nos últimos anos é provável que tal não aconteça e que essa verba ainda esteja por incluir...
Benfica
Na Luz, as vendas de Manuel Fernandes, Karadas e Anderson, juntamente com o prémio de presença na Champions League, permitiram um resultado muito positivo neste primeiro trimestre. O Benfica conseguiu evoluir muito positivamente no que respeita à obtenção de receitas nos últimos anos e esse facto faz com que a SAD possa hoje suportar custos com o pessoal perto do que apresenta o FC Porto e cerca do dobro do Sporting. Este é um mérito muito importante no trabalho feito nos últimos anos pela SAD encarnada e que parece garantir ao Benfica uma maior capacidade competitiva que se poderá estender aos próximos anos.
Sporting
A SAD do Sporting é aquela que mais baixos lucros apresenta, mas não é por aí que os adeptos se devem preocupar. Essa diferença em relação aos mais directos competidores explica-se muito simplesmente pela ausência de vendas significativas no início deste exercício (a venda de Nani foi incluída no último exercício e apenas a transacção de Ricardo “migrou” para 07/08). De resto, o Sporting é mesmo a SAD que melhores resultados operacionais apresenta das 3, muito por força da redução de custos levada a cabo desde há uns anos. Percebe-se que o Sporting (pelo menos a sua SAD) não está dependente de grandes vendas porque tem as contas equilibradas, mas o problema para os Sportinguistas está noutro ponto... É que para equilibrar as suas contas, o Sporting precisa de ter custos com o pessoal que representam cerca de metade dos seus competidores. Isto faz com que as condições para as vitórias sejam objectivamente menores do que Porto e Benfica. Torna-se urgente que a SAD leonina consiga aumentar as suas receitas significativamente nos próximos anos, sob pena de se tornar cada vez mais naquele que, entre os 3, menos possibilidades tem de ser bem sucedido desportivamente.