14.1.14
Benfica - Porto (II): Análise individual
Benfica
Oblak - Mais um jogo sem sofrer golos e sem reparos à sua actuação que, diga-se, voltou a não ser especialmente exigente. O facto da eficácia de Artur ter sido, como já mostrei, assustadoramente baixa nestes primeiros meses de temporada, não implica que Oblak seja o outro lado da moeda. A avaliação dos guarda-redes, para ser conclusiva, requer muito mais tempo de avaliação. Uma coisa é certa, porém, como venho escrevendo há algum tempo, e ao contrário da ideia que se generalizou em termos mediáticos, o nível de exposição defensiva do Benfica não justificava o número de golos que a equipa vinha sofrendo internamente. O facto do Benfica ter vindo a sofrer menos golos é, por isso, algo que está em linha com o que era expectável, e não o contrário.
Maxi - Foi, sobretudo, um jogo de muita luta. Travou inúmeros duelos no seu corredor, o que explica o facto de ter sido um dos jogadores com mais intervenções defensivas no jogo. Por outro lado, do ponto de vista técnico sentiu sempre muitas dificuldades em conseguir dar boa sequência às suas intervenções, um problema extensível à generalidade da equipa e que se explica pela natureza do próprio jogo, mas que acabou por se reflectir especialmente na sua exibição.
Siqueira - Em sentido inverso de Maxi, teve um jogo discreto e até relativamente pouco conseguido em termos defensivos, sendo que pelo contrário foi um jogador muito lúcido quase sempre que teve a bola nos pés. Uma exibição que reforça a ideia que Siqueira me vem dando desde a sua chegada à Luz. Ou seja, com ele o Benfica ganha mais ofensivamente do que defensivamente.
Luisão - Garay foi o centro das atenções entre os centrais do Benfica, tanto pelo golo, como por algumas intervenções mais vistosas. Se em termos de impacto ofensivo a diferença entre os dois é óbvia, no que respeita à utilidade defensiva a presença de Luisão não fica em nada a dever à de Garay, tendo tido uma prestação mais sóbria, é verdade, mas bastante eficaz nos duelos que travou na sua zona, nomeadamente no confronto com Jackson Martinez.
Garay - Tem muito mérito no golo que marcou, pela forma como atacou a bola. Aliás, parece-me haver mais mérito seu do que demérito alheio. De resto, fez uma primeira parte vistosa, com alguns cortes importantes e intervindo mais no espaço do que Luisão. Com bola, onde costuma ser também uma mais valia para a equipa, este não foi dos seus melhores jogos.
Matic - Se este foi o seu último jogo de águia ao peito, pode dizer-se que se despediu em beleza. Foi, de facto, uma figura chave no jogo. Primeiro, porque actuou nas costas de uma zona pressionante que foi a grande arma estratégica da equipa. Depois, porque nas reposições longas foi também muito importante, servindo quer de referência para Oblak, quer de bloqueio para Hélton, numa acção importante para inviabilizar que o Porto utilizasse a boa presença aérea do seu avançado como referência para as primeiras bolas. Tudo somado, foi com grande distância de todos os outros, o jogador mais interventivo em termos defensivos, um autêntico muro à frente da defesa e que esteve na origem de várias transições com elevado potencial. Ofensivamente, poderia ter até tido outro protagonismo com algumas chegadas muito perigosas à área contrária, em lances de bola parada.
Enzo Perez - Estrategicamente, teve uma missão importante, porque coube-lhe pressionar em zonas muito adiantadas, para tentar condicionar a acção do duplo-pivot portista, na fase de construção. Um papel importante para o pressing da equipa, mesmo se em termos de intervenção directa acabou por não assumir grande protagonismo. Em posse, foi o jogador mais interventivo da equipa, ainda que este não fosse propriamente um jogo onde a presença em posse tivesse sido uma das armas essenciais da equipa. Referência habitual nas bolas paradas, apontou o canto que esteve na origem do segundo golo.
Gaitan - É verdade que foi disciplinado tacticamente, mas isso, e ao contrário da ideia generalizada, nem sequer é uma novidade nas suas exibições. A meu ver, porém, a exibição de Gaitan esteve bem abaixo do que pode oferecer, revelando-se bastante ineficaz nas suas intervenções com bola (com destaque para o momento de transição, onde foi o jogador que mais passes perdeu), e não oferecendo à equipa o seu habitual contributo criativo.
Markovic - A jogada do golo é tremenda, quer pela capacidade de arranque, quer pela notável definição no último passe. Um lance que Markovic andava a tentar há muito, e que acabou por lhe sair no jogo ideal. Depois, e ainda no campo dos elogios, de referenciar a sua missão defensiva, em especial no ajuste posicional interior, que lhe valeu várias intercepções importantes e ainda dentro do meio-campo contrário. Uma exibição que volta a revelar de forma bem clara o potencial que tem, mas que a meu ver não chega para esconder o caminho que ainda lhe falta percorrer.
Rodrigo - Mais um grande jogo num papel mais móvel. Parte do protagonismo, claro, resulta do golo que marcou, mas há outros capítulos onde a sua exibição justifica elogios. Em transição, por exemplo, foi o jogador com melhor eficácia, ligando bem a equipa após recuperação da bola, e mesmo no capítulo defensivo foi também ele uma presença relevante no condicionamento do jogo ofensivo do adversário. Entre ele e Matic, tenho muita dificuldade em eleger o melhor-em-campo. Aliás, desde que foi lançado neste papel de avançado mais móvel, Rodrigo tem-se tornado numa unidade de elevada utilidade para a equipa, num papel em que o Benfica vinha tendo muitas dificuldades em encontrar soluções nos primeiros meses da temporada e que, como já expliquei, me parece ter um enorme valor para a equipa. Uma ideia que, percebo, não é partilhada por muitos mas que imagino que vá ganhando alguns adeptos dada a repetitiva influência decisiva que Rodrigo vem conseguindo nesta função. Caso saia, será interessante perceber até que ponto esta posição voltará a ser um problema para Jesus. Pessoalmente, e face ao rendimento que tem tido nos últimos meses, não tenho dúvidas de que é, no mínimo, um risco para o curto-prazo.
Lima - Parecia poder regressar a um melhor momento de confiança quando os golos começaram a surgir, mas a verdade é que isso ainda não aconteceu. Lutou, tal como a generalidade da equipa, e deu o seu contributo, mas esteve longe do protagonismo que pode assumir. Nota para a forma como isolou Rodrigo, ganhando no ar, num lance que poderia ter terminado no 3-0.
Porto
Hélton - Não fugiu à mediocridade colectiva e contribuiu também ele com alguns erros. Já lhe tem acontecido errar num lance isolado em alguns jogos, mas raramente terá errado tanto como neste jogo, com um passe comprometedor e duas saídas mal calculadas, uma delas no lance segundo golo. Ainda assim, na minha opinião, nesse lance há muito mérito de Garay.
Danilo - Foi um dos protagonistas óbvios do jogo, não conseguindo controlar Rodrigo no lance do primeiro golo e sendo expulso mais tarde. Não estava a fazer um jogo especialmente exuberante, mas também não vinha sendo dos jogadores com uma exibição mais comprometedora.
Alex Sandro - Bastante em jogo e evidenciando-se, como sempre, pela forma como transporta a bola ao longo do seu corredor. Em termos de eficácia, diria que foi um jogo dividido, onde ganhou e perdeu duelos.
Otamendi - Regressou à equipa e Paulo Fonseca bem se deve ter arrependido dessa decisão. Em posse, foi o jogador que mais perdas de risco acumulou, sendo que se em parte a responsabilidade deriva da ausência de linhas de passe que lhe foram oferecidas, por outro lado Otamendi voltou a revelar a sua imprudência ao nível do risco em posse. Mas também no capítulo defensivo comprometeu, parecendo-me ter abordado mal o lance do primeiro golo e também saindo algo precipitadamente da sua zona no lance que termina com o isolamento de Rodrigo, já na segunda parte. Provavelmente, o pior da equipa e do jogo.
Mangala - Muitos lhe apontarão o dedo no lance do segundo golo, mas na minha leitura deve ser sobretudo creditado mérito a Garay pela forma como atacou a bola. Mangala também o fez, mas partindo de um posicionamento necessariamente mais estático não era fácil controlar a entrada de rompante do central argentino. À margem desse lance, foi o jogador com mais presença em posse e aquele que, de longe, mais conseguiu intervir defensivamente, destacando-se o seu papel no momento de transição defensiva, a grande arma do Benfica no jogo. Na minha opinião, e a grande distância, a melhor exibição individual entre os portistas.
Fernando - Um jogo discreto, o que pode ter duas interpretações. Primeiro, e pela positiva, foi dos jogadores com mais presença em posse e dos que menos comprometeu nesse plano. Depois, defensivamente, o jogo passou-lhe bastante ao lado, com muito poucas intervenções defensivas relativamente ao que dele se espera, não conseguindo ser muito útil no momento de transição ataque-defesa e não sendo também uma presença discreta nos duelos aéreos travados na sua zona. Não é a primeira vez que tal sucede esta época, parecendo-me que sente algumas dificuldades em impor as suas qualidades jogando com um jogador ao seu lado.
Lucho - É outro dos mais óbvios focos de crítica, por ter perdido a bola para Markovic no lance do primeiro golo. Pessoalmente, parece-me excessivo valorizar esse erro, porque no momento em que ele acontece, a equipa tem 6 jogadores atrás da linha da bola, estando por isso perfeitamente capacitada para reagir com segurança à perda. Será mais criticável a forma como os dois médios protegem o mesmo passe interior e abrem o espaço entrelinhas para onde "explode" Markovic. Aliás, acção do sérvio justifica muito crédito na distribuição de responsabilidades da jogada. De resto, parece-me um equívoco enorme utilizá-lo nesta posição (e sei que, mais uma vez, esta não é a opinião mais comum), porque Lucho é sobretudo um jogador forte nas movimentações sem bola e na forma como cria espaços com acções simples, e não tanto um jogador de transporte de bola. Num jogo onde era fundamental aproveitar as costas dos médios do Benfica, não deixo de pensar como tudo poderia ter sido diferente caso Lucho tivesse sido utilizado nesse papel. Paulo Fonseca cedeu aos apelos exteriores e aparentemente recuou Lucho em definitivo. Se o Porto até aqui era fraco nas alas e forte no espaço entrelinhas, com o recuo de Lucho apenas ficamos a saber que perdeu um dos pontos fortes do seu jogo.
Carlos Eduardo - Voltou a realizar um jogo pouco conseguido, especialmente enquanto esteve no papel de médio mais ofensivo, destacando-se a dificuldade que teve em aparecer em jogo. Um problema que se repetiu desde o jogo de Alvalade e que ajuda a explicar o, também repetido, bloqueio da primeira fase de construção do Porto. Ainda assim, destaca-se a sua boa entrega e capacidade de trabalho, parecendo mais confortável na parte final, quando baixou para o lado de Fernando. É um bom executante e poderá ter um futuro interessante na equipa, mas não se lhe pode pedir que seja um elemento muito forte nas movimentações sem bola e no espaço entrelinhas, estando mais vocacionado para procurar espaços laterais e o transporte de bola. Cabe a Paulo Fonseca ser capaz de o integrar, de forma a que as suas características façam sentido para a missão colectiva, algo que claramente não aconteceu neste jogo.
Varela - Muitas dificuldades ao longo de todo o jogo, praticamente sem criar nada de relevante em termos ofensivos, mas também com muito poucas condições para o fazer. Depois da lesão de Danilo, foi ala-direito.
Licá - Foi o protagonista da principal ocasião de golo da equipa, ainda que num lance irregular, e esse é o ponto mais alto da sua exibição. De resto, só se pode estranhar como é que Paulo Fonseca lhe voltou a dar a titularidade depois das dificuldades que revelou no jogo frente ao Sporting. Sem surpresa, voltou a sentir os mesmos problemas para aparecer em jogo, não contribuindo em praticamente nada para ajudar a equipa a encontrar linhas de passe verticais. Ou seja, mais difícil do que entender a sua exibição, é entender a sua utilização.
Jackson - Jogo obviamente difícil em face do bloqueio da equipa em zonas mais atrasadas. Ainda assim, quase sempre que a equipa conseguiu chegar à zona de finalização, Jackson apareceu e esse é um mérito que lhe deve ser creditado, ainda que como sempre o primeiro instinto será para criticar o facto de não ter marcado quando o podia ter feito. Um ponto potencialmente importante neste jogo, passava por utilizar Jackson como referência para a construção longa, onde o colombiano é bastante forte. O facto é que, apesar da luta que deu, Jackson também não conseguiu grande impacto a este nível, sendo igualmente verdade que a equipa não terá explorado da melhor maneira esse recurso, nomeadamente por não ter retirado a bola da zona de Matic.
Quaresma - Os primeiros minutos de jogo neste regresso mostram bem o que dele se pode e deve esperar. Ou seja, risco permanente e assumido a cada posse, o que na maioria dos casos resulta na perda da bola e descontinuidade da acção ofensiva, mas que poderá resultar também em algumas excepções de elevado potencial. Este é o perfil que Quaresma tem e certamente terá, restando saber quantas excepções conseguirá Quaresma extrair daquela que será a regra das suas intervenções.
Josué - Uma nota sobre a sua utilização, que não tem a ver com o seu rendimento no jogo. É que depois de ter sido utilizado durante meses como segundo-pivot ou ala, Josué aparece agora como primeira prioridade para função de médio-ofensivo, nas contas de Paulo Fonseca. Foi aí que jogou frente ao Atlético, tendo para isso recuado Lucho (que foi sempre primeira opção para médio-ofensivo até há pouco tempo), e foi aí que jogou também agora, tendo para isso recuado Carlos Eduardo. Paulo Fonseca continua a trocar as opções individuais no seu meio-campo e eu não sei exactamente quais as suas motivações, mas continuo a pensar que está, não só a escolher o foco errado, como a procurar a forma errada de resolver o problema que tem pela frente, ou seja, centrando-se em absoluto nas valências individuais em vez de desenvolver dinâmicas colectivas que, inevitavelmente, precisarão de mais estabilidade para ser optimizadas.