24.1.14
5 Jogadas (Sporting, Benfica, Man Utd, Roma)
Arouca - Sporting - O lance do golo do Arouca tem como ponto mais evidente a forma como o Sporting perde a bola após um arremesso lateral. De facto, é incontornável que está aí a génese do desequilíbrio. O principal protagonista nesse instante, em que se dá a perda de bola, é Maurício, mas na minha interpretação haverá pouca margem para criticar o defesa-central do Sporting. Tratando-se de um lançamento lateral naquela zona do campo, o mais aconselhável é colocar a bola junto à linha, tentando apelar ao jogo aéreo de uma referência ofensiva (no caso, Wilson Eduardo). A explicação para esta opção está no desfecho deste mesmo lance, e tem a ver com o risco de exposição em que a equipa incorre em caso de perda nesta zona do campo. Actualmente, várias equipas recorrem a um lançamento mais curto, com um jogador a aproximar-se para repentinamente, e sem deixar a bola bater no solo, colocá-la nas costas da linha defensiva contrária. À margem de uma alternativa deste tipo, qualquer outra solução só se justifica quando houver total garantia de segurança no seguimento da jogada, coisa que não acontece neste caso, sendo a ameaça da presença pressionante do Arouca agravada pelo estado do relvado. Sendo assim, e focando-me ainda na origem do lance, é sobre a opção de Piris que penso que se justifica centrar a critica.
Mais à frente, e porque o lance deu, apesar de tudo, tempo para reagir defensivamente à perda, parece-me igualmente importante sublinhar a antecipação de Bruno Amaro relativamente a Adrien, criando o desequilíbrio final na zona de finalização. Um problema que tem a ver com a percepção posicional dos médios relativamente ao espaço nas suas costas, e que se vem repetindo nas análises que venho aqui deixando desde o início da época.
Benfica - Marítimo - O lance do primeiro golo do Benfica resulta de alguns ressaltos, é verdade, mas creio que justifica um sublinhado sobre 1) o mau posicionamento defensivo do Marítimo e 2) a importância da movimentação de Rodrigo, entrelinhas. Ambos os pontos já foram aqui realçados por mais do que uma vez. No caso do Marítimo, e como escrevi há dias, importa não confundir "futebol positivo" com "defender mal". A dificuldade com que a equipa madeirense ajusta o seu posicionamento ao longo da jogada determina a criação de espaços entre os jogadores e, consequentemente, a perda de condições para retirar partido da maior presença numérica com que inicialmente aborda cada lance, nomeadamente expondo-se em zonas fundamentais e facilitando a criação de situações de 1x1 com vantagem para o portador da bola. No caso de Rodrigo, primeiro solicita o passe na zona entrelinhas e, posteriormente, é de novo ele quem aproveita o espaço criado pela presença mais baixa de Gaitan, arrastando consigo um dos centrais adversários. A movimentação neste espaço é, já de si, muito útil, mas quando o Benfica consegue combinar isso com uma boa relação com o golo, seja na forma de golos marcados ou assistências, então tem no seu segundo-avançado uma das funções de maior valor para o sucesso colectivo. E é bom que não se perca isto de vista quando se sugerem alternativas tácticas que não incluem um jogador com esta função.
Chelsea - Man Utd - Quem olha para o resultado, ou mesmo para a evolução do mesmo, ficará com a ideia de que se tratou de um jogo completamente dominado pelo Chelsea. Não foi, de todo, o caso. O United conseguiu criar muitos problemas, tendo inclusivamente estado mais perto do golo nos minutos iniciais. A diferença, como tantas vezes acontece com Mourinho, esteve nos pormenores de organização. É que o Chelsea não denotou - nem denota, porque o que se passou não foi ocasional - os meus problemas de organização defensiva do seu adversário. Em particular, no caso do Man Utd, penso que se deve sublinhar a frequência com que a sua linha média é atraída para zonas e situações pouco desejáveis para o equilíbrio colectivo. A meu ver, isto tem a ver com algum excesso de valorização das referências individuais.
No caso dos dois lances que recupero, é visível a forma como os elementos da linha média não fazem o trabalho defensivo ideal, nomeadamente ao nível das coberturas. No caso do primeiro golo, parece-me que o principal visado deve ser Ashley Young, pela forma como não se integrou defensivamente num lance que acontecia no seu corredor. Embora, claro, também haja outros pontos de possível revisão, nomeadamente na resposta que é dada ao movimento vertical de Hazard.
Sem as mesmas consequências mas talvez mais interessante, é o segundo lance do vídeo sobre este jogo. Isto porque é visível a forma como os médios do Man Utd são atraídos pela circulação lateral da bola, acabando por ficar o lateral-direito demasiado exposto no duelo individual com Hazard, precisamente um dos jogadores mais fortes do Chelsea para este tipo de situação.
Roma - Juventus - Referência para o interessante duelo entre duas das melhores equipas do futebol italiano da actualidade. Não conheço bem qualquer das equipas, pelo que abordo este jogo com alguma cautela. Para quem não teve oportunidade de ver, esclarecer que este foi um jogo muito fechado, praticamente sem qualquer desequilíbrio até à abertura do marcador. A Juventus, com a sua tradicional defesa a 3, apostou quase sempre num bloco bastante baixo, denso e muito difícil de bater em situações de ataque posicional, sendo que as suas iniciativas ofensivas de maior relevo ocorreram em lançamentos para as costas da defesa romana, tentando aproveitar - sem sucesso - as poucas situações em que esta o permitiu. Do lado da Roma, um pouco mais de risco posicional, ainda que não muito, havendo sempre uma grande preocupação com a acção de Pirlo, e uma tendência para utilizar o corredor direito nas acções ofensivas.
Relativamente ao lance decisivo do jogo, acaba por acontecer numa das raras situações de ataque rápido e, curiosamente, teve no duelo entre Pirlo e Totti um ponto chave. Com o bloco subido na tentativa de pressionar uma saída de bola complicada da Roma, era fundamental que Pirlo tivesse controlado o pontapé longo no inicio da jogada. O posicionamento até foi o correcto, mas a agressividade não foi a ideal e, num duelo de veteranos, foi Totti quem levou a melhor. A partir daí, o desequilíbrio está criado, ainda que se deva sublinhar também a parte final da jogada e a forma como Bonucci perde a frente do lance, perante Gervinho. É uma situação muito difícil para o defensor, obviamente, porque tem de controlar o atacante, não perdendo o contacto visual com a bola e sendo que tudo acontece em velocidade, de todo o modo, a primeira prioridade é sempre não perder a frente do lance.