Desfecho previsível - Venho escrevendo pontualmente sobre a forma como, particularmente em Portugal, os jogadores são olhados após entrarem na casa dos trinta. Lucho era um dos casos mais evidentes nesta temporada, e também já me tinha referido à probabilidade desta ser a sua última época no futebol português, tanto mais que estava em final de contrato. Não era óbvio que fosse tão imediato, mas era previsível que a saída estivesse para acontecer...
Rendimento elevado, apesar do B.I. - Pessoalmente, penso que o Porto faz mal em não ficar com Lucho, e mesmo tentar prolongar-lhe o contrato. Não sei quantificar o peso da sua influência no grupo, mas sei que dentro do campo Lucho era, ainda e como sempre, uma das unidades de maior rendimento da equipa. Apenas atrás de Jackson, que a meu ver está noutro patamar. É verdade que nos últimos tempos foi recuado para uma posição que não potenciava a mais valiosa das suas características, que é a capacidade de, sem bola, encontrar espaços e linhas de passe virtuosas, dentro do bloco defensivo contrário. Lucho não era - nem nunca foi - um jogador que se evidenciasse pelo seu envolvimento na primeira fase de construção, e foi sempre quando teve liberdade para se soltar numa segunda fase ofensiva que mais se destacou, mas recentemente criou-se essa ideia e Paulo Fonseca acabou ceder, ignorando a mais-valia que o jogador vinha trazendo ao jogo entrelinhas da equipa. Seja como for, o seu rendimento era incomparavelmente superior à média da equipa, sendo que foi inclusivamente o jogador portista que mais quilómetros correu nos jogos da Champions League. Tudo somado, e considerando ainda a sua parca propensão para lesões, dá para dizer que, no caso de Lucho Gonzalez, o problema da idade é mesmo, apenas e só, um problema de preconceito, porque tudo apontava para que o jogador tivesse ainda vários anos para poder jogar ao mais algo nível.
Mudança no ADN do meio-campo - Obviamente que o Porto não deixará de ser competitivo sem Lucho, perspectivando-se agora a aposta mais continuada noutros protagonistas. O caso mais sério, e revelado recentemente, é o de Carlos Eduardo, mas também Josué e mesmo Quintero terão agora outra margem para se afirmar no onze base. Uma coisa é certa, porém, se o Porto teve como marca mais forte dos primeiros tempos de Paulo Fonseca o jogo entrelinhas, muito dificilmente na era pós-Lucho manterá essa identidade. É que, não havendo dúvidas sobre a capacidade técnica de qualquer das alternativas para jogar na frente do triângulo, nenhuma tem especial vocação para trabalhar a sua aparição no jogo sem bola e dentro do bloco contrário, como acontecia com Lucho. Mais incidência no jogo exterior, é o que se aguarda (e o que já se tem visto, de resto).