13.1.14
Benfica - Porto (I): Aspectos tácticos (colectivos)
Jogo tecnicamente pobre e desfecho justo
O ambiente e carga emocional envolvente garante o interesse do espectáculo, mas do ponto de vista estritamente técnico, este foi um mau jogo. O Benfica venceu com justiça, porque foi quem mais próximo do golo esteve e também quem retirou melhor partido da abordagem estratégica que trazia para a partida, mas não creio que o sucesso encarnado seja suficiente para que se veja grande brilhantismo na sua exibição. Foi, essencialmente, a melhor (ou, muito melhor) de duas exibições não muito conseguidas.
Porto: a responsabilidade de Paulo Fonseca
Já aqui tenho discordado várias vezes da ideia de que Paulo Fonseca é o principal responsável pelas dificuldades em que a equipa mergulhou na presente temporada. Em particular, discordo completamente da focalização das criticas nos aspectos fundamentais do seu modelo de jogo, nomeadamente no sistema. Há, no entanto, outros pontos onde o treinador atrai a minha crítica e, nesse sentido, este jogo será um dos capítulos mais flagrantes no ainda curto tempo que ainda leva como treinador azul-e-branco.
De facto, penso que Paulo Fonseca é o grande responsável pela forma como o Porto perdeu. Não que o Porto não pudesse ter perdido o jogo se tivesse jogado de outra maneira, mas porque a surpreendente previsibilidade da sua abordagem estratégica facilitou enormemente a tarefa do Benfica. E, para explicar este meu ponto de vista é fundamental olhar à leitura que fiz da recente visita portista a Alvalade. Nesse jogo, o Porto conseguiu até mais presença em posse, mas acabou por se ver refém da sua incapacidade para progredir com bola, não só chegando com muito pouca frequência ao derradeiro terço ofensivo, como expondo-se também ao enorme risco das perdas de bola que foi acumulando perante o pressing do Sporting. Ainda nessa partida, ficaram claras as dificuldades da equipa em encontrar linhas de passe que tivessem como destino as costas dos médios sportinguistas, aproveitando o adiantamento destes. Nomeadamente, sobressaiu de forma flagrante a incapacidade de unidades como Carlos Eduardo e Licá em se movimentarem no espaço entrelinhas.
Para o jogo da Luz, e após essa análise, tinha duas convicções: 1) O Porto dificilmente sobreviveria ao destino da derrota caso se se voltasse a expor da mesma maneira; 2) Paulo Fonseca dificilmente repetiria a mesma abordagem, com os mesmos protagonistas. Acertei na primeira, errei na segunda. Paulo Fonseca introduziu Lucho e Jackson, que é certo fazem bastante diferença, mas no essencial repetiu a mesma abordagem, nomeadamente apostando nos mesmos protagonistas para procurar linhas de passe dentro do bloco adversário: Varela, Carlos Eduardo e Licá.
Como Jesus também viu esse jogo da Taça da Liga, imagino que terá tido a primeira sensação de vitória bem antes do primeiro golo de Rodrigo...
(Há outros pontos a criticar na abordagem de Paulo Fonseca sobre os quais não me vou alongar aqui, como a não-preocupação de retirar as reposições longas da zona de Matic, ou a volatilidade com que vem gerindo o papel dos diversos protagonistas do seu meio-campo)
Benfica: estratégia bem sucedida e liderança após tantas críticas
Jesus preparou-se estrategicamente para o adversário, com um pressing muito agressivo sobre a fase de construção portista, que exigia, não só duas unidades na primeira linha de pressão (Lima e Rodrigo), como o adiantamento constante de um outro elemento no corredor central (Enzo) para garantir presença pressionante numa zona onde, para além dos centrais, o Porto fazia baixar o seu duplo-pivot (Fernando e Lucho). Para isto, parece-me, houve uma preocupação especial em Matic para guardar posição e nos alas (Markovic e Gaitan) em aproximar-se do corredor central perante o adiantamento de Enzo. Uma abordagem estratégica que poderei ilustrar com mais detalhe quando trouxer algumas jogadas do jogo, mas que claramente conseguiu grande propósito na sua aplicação prática, acabando por ser o grande alicerce do sucesso da equipa. Aliás, à margem desta 'nuance' táctica decisiva, o Benfica fez até uma exibição relativamente medíocre, não conseguindo grande eficácia nas suas iniciativas em ataque-posicional (também com alguns erros em posse) e perdendo até várias das oportunidades que se lhe abriram em situações de contra-ataque.
Se tenho discordado de algumas críticas feitas a Paulo Fonseca, o mesmo posso dizer da crucificação que vendo sendo feita às opções de Jorge Jesus, praticamente desde a pré-temporada. Aliás, parece-me que os efeitos do desgaste mediático do treinador são tais, que a certo ponto tudo o que o treinador fazia, fosse num sentido ou noutro, era motivo para as mais contundentes críticas. É natural, portanto, que a liderança do Benfica seja agora encarada com alguma surpresa, mas isso terá sobretudo a ver com a perspectiva excessivamente pessimista com que a equipa vem sendo olhada há muito tempo a esta parte. Não vou dizer que o Benfica seja, claramente, a melhor equipa de uma prova que tem sido pautada por muito equilíbrio na performance dos seus principais competidores, mas parece-me clara essa subvalorização da equipa do Benfica. Talvez agora passe a haver maior razoabilidade na apreciação nas análises ao seu desempenho e, já agora, também uma perspectiva menos dogmática e maniqueista em torno das opções do seu treinador (nomeadamente na célebre questão do 4-4-2 vs 4-3-3, a meu ver muito mal tratada).
Nos próximos 2 dias darei seguimento à análise deste jogo, primeiro com a opinão (e dados estatísticos) às exibições individuais e, depois, com a análise táctica de algumas jogadas relevantes do jogo (vídeo).