16.1.14

A substituição de Matic

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A saída estava anunciada e vem, até, com algum atraso se considerarmos o que todos pensaram ser inevitável acontecer no passado Verão. Que implicações terá a saída de Matic? Aqui fica a minha ideia:

Pivot: importância da função vs excelência da interpretação
O primeiro ponto que quero abordar, porque ajuda a explicar a minha perspectiva, tem a ver com a função específica do "pivot". É quase regra geral que todas as equipas que recorrem à utilização de um "pivot" (uma opção muito popular na última década do futebol português) fazem desta uma função central no seu modelo táctico. Com uma forte componente posicional, este jogador é, quase sempre, o mais influente em posse e aquele que mais intervenções defensivas realiza. Por isso, frequentemente ouvimos e lemos a referência à importância dos jogadores que desempenham esta função nas respectivas equipas. Ora, eu não discordo dessa observação, mas parece-me que não raras vezes se confunde a importância do papel com a excelência da sua interpretação.

O exemplo de Javi e outros casos bem sucedidos
A consequência do equívoco que identifico no ponto anterior é que normalmente se sobrevaloriza o peso individual do jogador que interpreta esta função. Já aconteceu noutras ocasiões, como foi o caso de Paulo Assunção no Porto, mas é no próprio Benfica que surgirá o exemplo mais recente: Javi Garcia. De facto, parece que já lá vai muito tempo mas foi apenas há pouco mais de um ano que o Benfica perdeu Javi Garcia e poucos foram aqueles que, nessa altura, não anteciparam grandes problemas para o futuro imediato da equipa, em face dessa perda (agravada por ter acontecido em simultâneo com a de Witsel). Não estou com isto, note-se, a equiparar Javi a Matic, porque se no caso do espanhol - e como fui aqui escrevendo durante muito tempo - havia muito pouco de extraordinário para além do jogo aéreo, o mesmo não se pode dizer de Matic que revelou uma qualidade muito mais abrangente do que o seu antecessor.
De resto, é interessante observar o número de jogadores que, nos últimos anos, deu nas vistas no desempenho desta função no futebol português, sem que tenha sido preciso um grande investimento para o conseguir. Paulo Assunção, Fernando, Veloso, Matic e William, são os casos que me vêm à memória, todos eles com elevado rendimento apesar do baixo investimento, numa frequência muito elevada e que a meu ver não acontece por acaso. Desta constatação resulta mais um bom indício para o Benfica e para este processo de substituição de Matic.

Fejsa e Amorim, as alternativas
Considerados os pontos acima, e mesmo reconhecendo que algumas das qualidades de Matic não serão substituíveis no imediato, a verdade é que não consigo ver grande drama para o Benfica com a saída de Matic. A função de "pivot" tem grandes restrições tácticas e precisa sobretudo de uma interpretação lúcida e segura, onde o critério e segurança são sempre a principal prioridade, ao contrário da criatividade e capacidade de desequilíbrio. A solução mais óbvia é Fejsa, que já revelou uma capacidade de trabalho assinalável e parece ter todos os requisitos para cumprir bem o papel de "pivot", tal qual definido por Jesus. A grande dúvida em relação ao ex-Olympiakos é a sua segurança em posse, sendo esse um ponto a meu ver muito importante nesta função (e, já agora, onde Matic não esteve bem nesta temporada) e onde ainda não percebi bem que garantias pode dar, ou não, Fejsa. Outra solução é Ruben Amorim, cujo perfil não é tão ajustado a esta função específica, por ter qualidade para oferecer um envolvimento com mais dinâmica e não ter também a mesma capacidade de intervenção defensiva de Fejsa. Ainda assim, e mesmo parecendo-me mais vocacionado para funções de maior liberdade táctica, é sem dúvida uma alternativa. Sem Matic, o Benfica perderá presença no jogo aéreo (sobretudo se comparado com Amorim) e criatividade (sobretudo se comparado com Fejsa), mas não prevejo que perca aquilo que é mais essencial nesta função.

Matic no Chelsea
O Chelsea é das equipas que mais tenho acompanhado além fronteiras, pelo será com interesse que acompanharei também o outro lado desta mudança. Já aqui tinha escrito que o Chelsea tinha alguns problemas nas soluções para o seu "duplo-pivot", e Matic deverá acrescentar qualidade às opções de José Mourinho para essa zona, nomeadamente a mais-valia que trará em termos de presença aérea e capacidade de trabalho. Ainda assim, a utilização de Matic em funções mais adiantadas nos últimos tempos de Benfica veio mostrar algumas dificuldades na sua movimentação dentro do bloco contrário. Ou seja, parece-me provável que combine melhor actuando ao lado de um jogador de maior capacidade de envolvência em posse, como Lampard, do que com jogadores mais posicionais como será o caso de Obi Mikel.

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