A diferença decisiva foi de... 1 dia!- A questão da necessidade dos dois jogos finais se realizarem em simultâneo é, obviamente, relevante. O futebol - ou, de resto, qualquer outro desporto - é fortemente marcado pelo factor humano, e qualquer equipa joga em função do resultado que precisa de obter, sendo este um comportamento inclusivamente muito difícil de mudar nos jogadores, de tão instintivo que é (isto vê-se, por exemplo, na mudança de comportamento das equipas após os golos, que quase sempre acontece independentemente das instruções que lhes sejam dadas desde a parte de fora). E esta constatação serve tanto para criticar o pouco profissionalismo na organização destes 2 jogos, como para constatar que os 3-4 minutos de diferença entre os jogos de Penafiel e do Dragão não foram, na prática, um ponto especialmente relevante para o desfecho final. É que aquilo por que se bateu o Porto nos minutos finais do seu jogo foi apenas pela vitória, coisa que aconteceria em qualquer outro jogo de qualquer outra prova, não tendo havido da parte dos jogadores, sequer, a percepção da situação classificativa relativamente ao número de golos que seriam precisos marcar.
Ainda assim, e apesar da desvalorização que faço nesta minha leitura dos 3-4 minutos de diferença entre os dois jogos (que, repito, nunca deveriam ter sido permitidos), parece-me que o Porto foi, de facto, beneficiado pelo tempo em que os seus jogos foram realizados, sendo que esse benefício resulta de bem mais do que alguns minutos. Isto é, na segunda jornada os portistas jogaram quase 24 horas depois do Sporting, conhecendo já o resultado do seu adversário. Na recepção ao Penafiel, foi visível a preocupação em forçar a goleada nos minutos finais, num comportamento - esse sim! - específíco da situação classificativa e que tinha em mente o facto do Sporting ter marcado 3 golos no dia anterior, tendo havido inclusivamente tempo para consciencializar todos os jogadores sobre a necessidade da situação. E, este sim, parece-me ter sido um factor decisivo para o desfecho final das contas do grupo, e que, claramente, favoreceu as aspirações portistas.
Falta de profissionalismo habitual - Se se pode criticar a liga pela forma como negligenciou a importância dos jogos serem iniciados em simultâneo, a meu ver deve-se também criticar a forma como os clubes - particularmente, o Sporting - não souberam acompanhar com rigor a sua situação relativamente ao apuramento. Não é algo que deva ser garantido pelo treinador - que terá outras preocupações ao longo do jogo - mas este deveria ser rigorosamente informado por alguém sobre a situação que tem pela frente. Algo que no caso do Sporting claramente não aconteceu - inclusivamente, a dúvida subsistiu nos responsáveis do clube já após o final dos dois jogos. Aliás, é curioso como o 3-1 não representava para o Sporting qualquer vantagem relativamente ao 2-1, já que com ambos os resultados a equipa só se qualificaria em caso do Porto não vencer o seu jogo. Com 2-1 ou 3-1, o Sporting seria eliminado em caso de reviravolta no Dragão. Ou seja, com 3-1 o Sporting viu-se colocado numa situação em que não tinha, verdadeiramente, nada a perder em arriscar. Porque ganhava, aí sim, mais margem se conseguisse mais 1 golo, e porque ficava exactamente com as mesmas hipóteses de qualificação caso sofresse o 3-2. Mas a reacção que vimos na gestão do jogo por parte da equipa, após o 3-1, não foi de acordo com esta realidade, o que é revelador de alguma falta de noção sobre a realidade da situação da equipa naquela altura do jogo.
Já agora, se estranhamos que este tipo de lapsos aconteçam a este nível, é também bom ressalvar que se trata de uma situação tudo menos incomum. Muitos se lembrarão de Peseiro incluir-se na luta pelo título quando isso já não lhe era matematicamente possível, em 2005, mas vários outros casos vêm acontecendo pelo mundo fora. Recentemente, por exemplo, Pellegrini confessou desconhecer que lhe bastaria mais 1 golo para liderar o seu grupo da Champions, desconsiderando assim essa oportunidade nos últimos minutos do derradeiro jogo da fase de grupos.