17.1.14

5 jogadas (Benfica-Porto; Sporting e Atlético-Barça)

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1 - A minha ideia inicial era trazer mais imagens sobre este aspecto do jogo, mas não tendo sido possível, recupero pelo menos 1 lance que ilustra a forma como o Benfica condicionou a construção portista em zonas mais adiantadas. Em particular, o papel da linha média, com Enzo Perez a acompanhar o comportamento do duplo-pivot adversário, que em regra baixa pelo menos 1 dos seus elementos (normalmente Fernando) para assumir a posse numa linha muito próxima da dos centrais. O risco de adiantar 3 unidades em simultâneo é, claro, o espaço que se abre nas suas costas. O Benfica tentou atenuar essa exposição com um posicionamento mais interior dos extremos, que acabou por conseguir bons resultados, com várias linhas de passe interceptadas por Markovic e Gaitan ao longo do jogo.
Em relação ao Porto, e como foi evidente, grande parte das suas aspirações no jogo ficaram condicionadas pela fraca resposta que foi capaz de oferecer ao problema que lhe foi colocado. Já escrevi sobre a dificuldade dos elementos mais criativos (Varela, Licá e Carlos Eduardo) em oferecer linhas de passe nas costas dos médios encarnados, mas sobretudo o que me parece questionável é a forma como a equipa surgiu aparentemente surpreendida pela situação que lhe foi criada, sendo que ainda recentemente havia experimentado exactamente o mesmo tipo de bloqueio na visita a Alvalade, para a Taça da Liga. É possível - e este é um ponto que não referi na análise que fiz ao jogo - que a inclusão de Otamendi tivesse a ver com esta situação, com Paulo Fonseca a ver no maior potencial técnico do argentino uma resposta para os problemas que o pressing do Benfica previsivelmente lhe causaria. Correu mal, não só porque a simples alteração individual não teve implicação na dinâmica colectiva, como também porque o critério de Otamendi é muito inconstante e, por isso, também mais propenso ao erro do que o de qualquer outra solução. Algo que vem de encontro à ideia que tenho passado em várias ocasiões, ou seja, e sobretudo para as fazes mais precoces da construção, o critério deve ser um requisito que antecede o potencial técnico.

2 - O lance do primeiro golo é interessante porque há vários aspectos a considerar. Em primeiro lugar, claro, a falta de linhas de passe oferecidas a Otamendi. Depois, a perda de bola de Lucho, na sequência de uma série de ressaltos. No entanto, e tal como já havia escrito, essa perda não deve chamar a si uma grande dose explicativa sobre o que se segue, porque no momento em que ocorre o Porto tem 6 jogadores atrás da linha da bola, havendo todas as condições para que o lance tivesse sido melhor controlado. O ponto seguinte é a forma como o duplo-pivot portista reage à perda de bola. Lucho e Fernando estão posicionados na mesma linha e ambos condicionam a possibilidade do passe interior, como que dando por adquirido que o espaço entrelinhas estaria controlado. Um instinto próprio de quem está a contar com um pivot nas suas costas, mas que neste caso não existe e que determina que a aceleração de Markovic acabe por bater, num só movimento, os dois médios azuis-e-brancos.
Mais à frente, Mangala tenta condicionar a progressão de Markovic, e o Porto continua com condições para controlar a jogada, tanto mais que Danilo ganha rapidamente o interior de Rodrigo. Esperar-se-ia que Otamendi pudesse sair em contenção sobre Markovic e que Danilo controlasse a profundidade, mas a reacção dos dois defensores é, estranhamente, outra. Otamendi perde, claramente, a melhor noção da jogada, dando continuidade ao seu movimento lateral em vez de se aproximar do portador da bola, o que determina que Markovic acaba por não ter a oposição que poderia ter. Danilo, e depois de ter ganho correctamente o interior de Rodrigo, também dificulta a sua própria acção ao colocar-se de frente para Markovic, o que limita depois a reacção quando o passe é colocado nas suas costas.
Para além de tudo isto, claro, há que sublinhar o mérito na construção da jogada, de Markovic, e na finalização, de Rodrigo.

3 - Outro lance de muito perigo por parte do Benfica, e onde a reacção da defensiva portista é bastante questionável. Em particular, qualquer equipa terá sempre de exigir mais de si própria quando um pontapé-de-baliza termina com um jogador isolado na cara do seu guarda-redes. Neste caso, e à margem da resposta à primeira bola, salta à vista a forma como, muito rapidamente, a linha defensiva fica numericamente exposta (e demasiado aberta, já agora). O principal ponto a destacar é, claro, a saída de Otamendi, que é atraído pela presença interior de Gaitan, mas que ao tentar controlar a presença entrelinhas do extremo, acaba por debilitar a linha defensiva, passando esta a estar em igualdade numérica e com muito espaço nas suas costas. Depois, Danilo perde o segundo duelo aéreo, com Lima (aconselhava-se fazer falta), o que desde logo determina que se a bola seguinte não fosse ganha por Mangala, haveria necessariamente um desequilíbrio porque para além de Rodrigo, também Gaitan surgia sem qualquer oposição sobre a esquerda.

4 - O lance mais perigoso do jogo da Amoreira acontece numa altura em que o Sporting estava à procura de resgatar ainda os três pontos. O primeiro ponto a realçar é a forma como o Sporting perde a bola, revelando novamente dificuldades em utilizar o corredor central para as suas acções ofensivas. Ainda assim, a perda de bola, na zona em que acontece, não é responsável pelo descontrolo defensivo que se segue. Apenas com dois jogadores, e em franca inferioridade numérica, o Estoril constrói uma ocasião de golo na cara de Patrício. Na minha leitura, é decisiva a perda de controlo sobre Balboa, que fica livre para progredir vários metros sem oposição. Aqui, a responsabilidade maior parece-me estar na reacção de William Carvalho, que deveria ter controlado a linha de passe para Balboa, e revela depois muitas dificuldades em acompanhar a velocidade do lance. Mais à frente, Piris acaba por não conseguir controlar o movimento de Gerso, num contexto que não era também muito fácil para o lateral. Finalmente, destaque para Rui Patrício que tem feito uma época muito boa. Se o Sporting é a melhor defesa, tal acontece em grande parte porque o seu guarda-redes tem conseguido uma eficácia decisiva bastante superior à dos rivais.

5 - Impossível não falar do Atlético - Barcelona. Não que tenha sido um jogo especialmente emotivo - obviamente não foi - mas pela qualidade das duas equipas, em estilos perfeitamente opostos. O lance que recupero é interessante porque mostra boa parte do mérito de ambas as equipas. Do lado do Atlético, nota para o posicionamento da equipa, envolvendo todos os jogadores mesmo em zonas muito recuadas e fazendo um ajustamento posicional notável, sempre privilegiando a relação espacial entre os jogadores (inter e intra sectores) e permitindo-lhe ajustar sem problema às sucessivas mudanças de corredor dos adversários. A principal referência de pressão da equipa é o posicionamento dos apoios do portador da bola, passando a haver uma atitude pressionante forte sempre que o adversário recebe de costas para a baliza (como se vê pela reacção de Tiago). No vídeo, chamo à atenção para o papel de Koke, que começa por pressionar junto à linha, depois fecha no corredor central e acaba por estar na área na altura do cruzamento, mantendo um ajustamento posicional sempre em função da situação e do equilíbrio colectivo. Outra análise interessante - que guardo para outra ocasião - será perceber como ataca a equipa do Atlético, porque para andar no topo da liga espanhola não basta defender bem.
Mas, mesmo com todo o mérito defensivo do Atlético, o lance acaba mesmo por chegar muito próximo da baliza de Courtois, o que nos leva até ao Barcelona. Já todos conhecemos a qualidade geral da equipa, que permanece em grande medida intacta independentemente de quem está no comando técnico da equipa (o que não quer dizer que a equipa não tenha perdido qualidade desde a saída de Guardiola, evidentemente), mas como a jogada documenta será ainda o factor-Messi aquele que será capaz de transportar o potencial colectivo para outro patamar. E será assim, no Barcelona ou em qualquer equipa, enquanto Messi for Messi.

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