31.8.13

Mourinho vs Guardiola: notas do duelo táctico

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Como ponto prévio, quero deixar claro que este é o primeiro jogo que vejo com atenção do Bayern 13/14, ao contrário do Chelsea, que tenho acompanhado. Isto para dizer que algumas das indicações que retirei da equipa de Guardiola podem estar ligadas à especificidade do jogo e não tanto a comportamentos enraizados no modelo de jogo da equipa. Duvido que esse seja o caso, mas ainda assim não quero deixar esta nota de cautela.

Honestamente, penso que ambas as equipas têm de evoluir bastante para atingir os patamares a que se propõem, e parece-me provável que assim venha a acontecer. Há, porém, a diferença na forma como ambos os treinadores parecem abordar esse processo de crescimento, com uma alicerçar-se nos comportamentos defensivos e a outra nas dinâmicas ofensivas. Poder-se-á dizer que o Chelsea 13/14 se construirá de trás para a frente, enquanto que o Bayern, ao contrário, da frente para trás.

Relativamente ao Chelsea, já escrevi um pouco sobre a equipa, que me parece precisar de evoluir sobretudo nas suas dinâmicas em organização ofensiva, algo que não foi muito testado nos dois últimos embates, frente a Man Utd e Bayern, mas que me pareceu ficar claro nos dois primeiros jogos, frente a Hull e Aston Villa. Neste tipo de jogos, frente a adversários de maior poderio, Mourinho estará para já bastante mais confortável, com o seu bloco defensivo a conseguir já grande eficácia no controlo dos espaços essenciais (ainda que me pareça que o duplo pivot tem algumas dificuldades no encurtamento de espaços no corredor central). No caso específico deste jogo, Mourinho deu grande enfoque ao trabalho defensivo dos extremos, conseguindo na minha opinião um bom condicionamento das dinâmicas do adversário nos corredores laterais, apesar da sua evidente qualidade. Depois, também em destaque o momento de transição, com o Chelsea a expor diversas vezes o risco assumido pelos alemães. Dentro deste perfil, o Chelsea seria já um forte candidato a estar nas rondas finais da Champions, dado o tipo de jogos que aí encontrará. A nível interno, por outro lado, haverá mais de terreno a percorrer, mas como não se vislumbram equipas muito mais avançadas dentro do quadro da Premier, o prognóstico também tem de ser favorável a Mourinho.

Mais interessante ainda o caso do Bayern. Enorme enfoque no momento de organização ofensiva, com dinâmicas pouco ou nada vistas, mesmo em equipas de equivalente dimensão. Muito do que se vê, claro, já se havia visto no Barça, mas há também algumas diferenças, nomeadamente nos movimentos do seu 9, bem como na preparação de situações de cruzamento, algo que no Barça pouco se via, mas que na Baviera seria um desperdício não aproveitar. Não quero alongar-me muito sobre cada uma das dinâmicas, mas ainda assim destaco a movimentação do trio da frente, com Mandzukic deliberadamente a aproximar-se de um dos extremos (normalmente do lado oposto ao da bola) no inicio de cada ataque, fomentando a dúvida no lateral e criando espaço no corredor central. Este comportamento de Mandzukic, que de certa forma sacrifica um maior envolvimento directo no jogo colectivo, permite depois que um dos extremos se aventure por outros corredores, mantendo-se a complementaridade pela tal abertura posicional de Mandzukic (que serve também para preparar o avançado para a resposta aos cruzamentos).
De todo o modo, não me parece que a equipa esteja já no patamar ideal para ser bem sucedida frente adversários de maior qualidade. Isto porque o risco que assume em praticamente todos os momentos tácticos é elevadíssimo - provavelmente difícil de encontrar paralelo no futebol europeu - e a sua eficácia não é, de todo, suficiente para tanto risco. Ou, pelo menos neste jogo não revelou ser. Em organização ofensiva, a equipa arrisca o adiantamento de muitas unidades, ficando com uma estrutura de equilíbrio frequentemente deficitária em termos numéricos. Isto força o Bayern a ser excepcionalmente seguro em posse e competente na reacção à perda, o que ainda não me parece acontercer. Relativamente à posse, a comparação com o Barça é inevitável, e se os catalães se protegiam da sua exposição pela qualidade que tinham com bola, o Bayern não denota a mesma capacidade, duvidando muito que o venha a fazer no curto prazo. No que respeita à reacção à perda, onde o Bayern revelou dificuldades importantes frente ao Chelsea, será bem mais fácil conseguir aprimorar a eficácia da equipa. Mas também em organização a equipa se expôs bastante, frequentemente com a sua linha defensiva a ficar isolada e sem que as coberturas fossem devidamente acauteladas. Enfim, há aqui alguma relativização a considerar, como as ausências do lado do Bayern, ou a competência do lado do Chelsea (nomeadamente no momento de transição). Mas, repito, se o Bayern será inevitavelmente uma equipa poderosa pela qualidade que tem, também me parece que pode haver um bom caminho a percorrer para que possa aspirar a ter sucesso continuado frente a equipas que, como foi o caso do Chelsea, têm grande qualidade e vêm preparadas para explorar cada uma das suas fragilidades.

Relativamente ao vídeo, seleccionei apenas 5 jogadas que ajudam a perceber alguns dos pontos que identifiquei. Mais exemplos haveria para qualquer das situações realçadas...

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