29.8.13

5 jogadas (jornada 2)

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Jogada 1 - Este lance ilustra, a meu ver, a importância dos movimentos entrelinhas na primeira parte do jogo. O objectivo do bloco baixo do Marítimo passava por dar uma maior protecção à linha defensiva, com a proximidade da linha média. Ora, como o próprio nome o sugere, quando a bola entra em boas condições entrelinhas, essa pretensão é momentaneamente anulada, obrigando a linha defensiva a reagir directamente. Aqui, destaque para a forma algo desorganizada como o Marítimo reage na linha média, havendo relutância em fazer uma unidade sair sobre o portador da bola, mas acabando por haver dois jogadores a serem atraídos em simultâneo para Defour (1). O papel de Lucho é fundamental, pela sua capacidade de entender muito rapidamente as oportunidades dentro deste espaço, e é isso que faz aqui, movimentando-se e antecipando o espaço que Danilo Pereira vai abrir ao ser atraido pela condução de Defour (2). Importante, em paralelo, o movimento no corredor esquerdo, com Alex Sandro a aproveitar o espaço criado pelo movimento interior de Licá, "levando" com ele o lateral (3).
O efeito do movimento é a oportunidade de cruzamento e a dificuldade que a zona central do Marítimo tem em ajustar correctamente o seu posicionamento, desguarnecendo por completo a zona em frente do guarda redes (4). É uma situação difícil para a linha defensiva do Marítimo, mas a sua reacção também não parece suficientemente competente. O lance termina com uma finalização de Josué, beneficiando do erro do guarda redes, mas poderia facilmente ter tido outro final caso Licá tivesse atacado o espaço criado, tendo ficado estático provavelmente por crer estar em fora de jogo (5).

Jogada 2 - O outro lado de Lucho! Já o destaquei várias vezes, e confirma-o em praticamente todos os jogos: a utilidade do entendimento do jogo do argentino não se fica pelas acções com bola, sendo um jogador de enorme eficácia também nas defensivas. Note-se que o seu papel é dos mais exigentes neste particular, porque tem de se juntar à primeira linha de pressão e ajustar o posicionamento para zonas mais baixas, sempre em função de cada jogada. Neste caso, Lucho começa por auxiliar a linha média na pressão, forçando a posse do Marítimo a recuar. Depois, junta-se a Jackson na primeira linha e instantaneamente detecta o momento de pressão sobre o central contrário, o que lhe vai valer a recuperação numa zona de enorme potencial. Não quero cometer o erro de dizer que as características físicas não são relevantes para o desempenho defensivo, mas o caso de Lucho mostra como o bom entendimento do jogo pode ser suficiente para se ser um dos jogadores de maior eficácia defensiva da equipa, mesmo jogando numa posição onde não é nada fácil consegui-lo.

Jogada 3 - Talvez tenha sido o movimento ofensivo em maior destaque no jogo do Sporting: o aproveitamento de Jefferson no corredor esquerdo. Importa realçar o contexto em que este tipo de acção foi sempre protagonizada, o que explica o seu sucesso. Ou seja, o Sporting potenciou sempre este movimento através da ligação de corredores, dificultando o ajustamento lateral do adversário e potenciando o espaço para Jefferson se libertar. No caso, a circulação por fora, que leva a bola da direita à esquerda, gera a exposição do lateral direito da Académica, que fica numa situação de 2x1, com Carrillo e Jefferson (6). Outra nota tem a ver com a necessidade de exposição do lateral, o que representa um risco potencial em caso de perda de bola durante a circulação entre um flanco e outro. No caso de Jefferson, esse risco parece estar a ser assumido e o lateral está sempre muito próximo do extremo quando a bola chega ao seu corredor. Para além deste lance, o Sporting criou pelo menos mais duas boas situações em contexto semelhante a este (um deles, resultou no primeiro penalti).

Jogada 4 - Não há muito a dizer sobre esta jogada, tornando-se fácil perceber o potencial negativo que tem a perda de critério em zona de construção. De facto, nenhuma equipa está estruturalmente preparada para reagir a uma perda de bola nesta zona, e tudo o que acontece depois é, em certa medida, feito em desespero de causa. Frequentemente, este tipo de erros acabam por gerar responsabilização dos defesas por parte do público, especialmente quando a perda não é tão flagrante como neste caso, o que me parece uma tendência muito injusta e de pouca utilidade correctiva. Isto, e como prova a acção de Cedric, apesar de não ser impossível evitar males maiores, mesmo numa situação tão complicada como esta. De todo o modo, o ponto principal aqui tem a ver com a importância do critério em posse no jogador que assume a primeira fase de construção. A tendência é avaliar a competência do jogador pela capacidade de passe ou progressão com bola, mas eu penso que nesta fase específica do jogo é o critério que assume um peso avassalador para um bom desempenho colectivo.

Jogada 5 - O destaque para Gaitan! Nesta jogada, o extremo do Benfica tem uma acção verdadeiramente completa, começando por vencer o duelo aéreo, em resposta à tentativa de construção longa do Gil, e partindo depois para um desequilíbrio apenas possível pela sua enorme qualidade individual. Aqui, acho importante destacar a acção sem bola, onde Gaitan mantém um bom desempenho, apesar de isso lhe ser raramente reconhecido (provavelmente devido ao seu estilo por vezes desleixado, mas que a meu ver se manifesta sobretudo nas acções com bola). De resto, este foi o melhor período do Benfica no jogo, em particular pela forma como, tal como neste lance, conseguiu ser mais rápido a reagir após as reposições em jogo e potenciou a desorganização do seu adversário. Em termos individuais, Gaitan assumiu o maior protagonismo em termos criativos, tendo sido o jogador que mais ocasiões de golo criou, mesmo apesar de ter sido (na minha opinião, precocemente...) substituído.

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