Assustador! O golo madrugador, com origem num lançamento lateral ainda no meio campo defensivo do Porto, foi a semente para o que se seguiria. Um domínio total, com o Vitória a alicerçar a sua estratégia numa fortaleza defensiva que foi sendo reduzida a um castelo de areia perante cada ofensiva contrária. O que é assustador não é tanto a qualidade do Porto, ou a debilidade do Vitória, mas a diferença entre os dois.
Em nenhum dos testes de pré época o Porto se conseguiu superiorizar como no jogo de Aveiro. As suas movimentações, até aqui nem sempre fluidas no último terço, apareceram com uma excelente dinâmica em que praticamente todos os jogadores conseguiram oferecer uma óptima mobilidade aos objectivos da equipa. Em particular, destaque para o facto das principais ocasiões terem surgido de cruzamentos a partir do corredor direito, merecendo-me especial realce a forma como a equipa potenciou esse espaço através da sua circulação baixa e à largura, atraindo o bloco vimaranense para o corredor esquerdo e depois fazendo a bola circular até ao lado oposto (aqui, uma nota de diferença relevante para a era Vitor Pereira, onde o
foco passava muito mais por explorar o espaço entrelinhas e o corredor
central). Mas no sucesso desta alternativa há também que falar da movimentação dos jogadores: Fucile a dar profundidade, Varela a definir bem o seu posicionamento (ora dentro, ora fora, em função da situação) e Lucho a aproveitar várias vezes o espaço interior, criado pela atração da bola para o flanco direito. É claro que para as situações de cruzamento serem bem sucedidas, era importante o Porto ter também uma boa presença na zona de finalização, e foi isso que aconteceu, sempre com 3/4 jogadores preparados para responder aos cruzamentos. Mas, se foi pelos corredores laterais que o Porto conseguiu as suas principais jogadas de perigo, não foi seguramente apenas por essa via que a equipa se conseguiu superiorizar. É que apesar da densidade defensiva do Vitória, o Porto conseguiu jogar, e bem, em praticamente todo o lado.
Da parte do Vitória, a ideia foi controlar o domínio territorial do adversário, muito mais do que o evitar. Nada de errado com isso. Na primeira parte, a equipa apareceu em 4-2-3-1, mas sentiu sempre muitas dificuldades em ajustar posicionamentos ao longo das jogadas. Talvez a estratégia passasse por controlar preferencialmente o corredor central, lembrando as versões anteriores do adversário, mas acabou por ser na largura que o Vitória verdadeiramente sucumbiu, nomeadamente com grande dificuldade em ajustar rapidamente o bloco às variações laterais do jogo. Na segunda parte, Rui Vitória optou por mudar a sua estrutura defensiva para 4-4-2, dando maior largura à sua segunda linha e conseguindo melhorar, ainda que ligeiramente, a resposta às tais mudanças de corredor que tantos problemas estavam a criar. Seria fácil, perante tantos problemas de resposta colectiva, ser critico em relação ao treinador, mas não me parece minimamente justo fazê-lo face ao que se viu. Há vários sinais de incapacidade de resposta individual na prestação do Vitória, desde a dificuldade nos duelos individuais, à relutância em intervir no espaço entrelinhas, sempre que a bola lá entrou, e se a resposta individual não for suficientemente competente, não há organização colectiva que possa valer. A julgar por este jogo, o trabalho de Rui Vitória terá ir bem para além do plano táctico e organizacional.
Individualmente, estou plenamente de acordo com distinção de Lucho como melhor em campo. Haverá ainda que realçar Fucile, Jackson, Varela e Licá como elementos fundamentais para a definição do resultado, mas o meu destaque noutro plano vai para o papel de Otamendi na fase de construção. Daí o vídeo, onde para além do bom desempenho técnico do jogador, realço novamente a forma como a circulação baixa e à largura potenciou o espaço para o Porto progredir até ao último terço.