16.8.13

Sporting: revisão de pré época (aspectos individuais)

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Guarda redes - Caso Rui Patrício fique, claro, não haverá grandes dúvidas sobre o lugar. Sobre o actual titular da Selecção, assinalo sobretudo a sua evolução ao longo dos anos, em particular nos últimos tempos, o jogo de pés. Mas a pergunta que se coloca sobre esta posição tem mais a ver com a possibilidade de Patrício sair. A hipótese de ser oferecida a baliza Marcelo Boeck parece forte, e sobre o até aqui suplente de Patrício não tenho muito a dizer. Isto porque o tempo de análise é curto, e no caso dos guarda redes o tempo de análise é absolutamente determinante para se poder ter uma ideia consistente sobre o valor de cada caso. A única certeza, porém, não é positiva e tem a ver com o jogo de pés de Marcelo Boeck.

Defesas laterais - Há, ao que tudo indica, duas hipóteses para cada lado da defesa. Do lado direito, Cedric parte à frente neste arranque de época. A meu ver, é um jogador ainda com vários pontos a melhorar em termos defensivos, sobretudo ao nível do posicionamento (espaço interior). Ofensivamente, Cedric não tem características que lhe permitam ser um agitador do seu corredor, mas por outro lado, tem uma definição muito capaz no último terço, o que fará dele um candidato a ser protagonista de várias assistências. Welder teve ainda pouco tempo, mas duvido que possa discutir a curto prazo o lugar, devido a algumas dificuldades de integração colectiva que, na minha leitura, ainda existem. Do lado esquerdo, Evaldo foi a surpresa da pré época. Não pelas exibições, obviamente, já que o tempo de jogo foi muito curto para que estas pudessem ser valorizadas, mas porque não era esperado que integrasse o plantel. O que é facto é que entrando Evaldo nas contas, torna-se um candidato a discutir o lugar. Aqui, e novamente, o tempo de análise revela-se curto para que possa ter uma opinião consolidada sobre Jefferson, tendo a meu ver o ex-Estoril feito uma pré época em crescendo. Uma nota mais sobre Evaldo, para referir que me parece haver um menosprezo em relação à qualidade de muitos jogadores que têm contrato com o Sporting e que não irão integrar o plantel. Outra coisa será o aspecto financeiro, mas do ponto de vista técnico tenho a convicção de que vários desses jogadores teriam algo a acrescentar ao actual elenco. É um problema clássico e que tem a ver com a forma como os resultados colectivos enviesam a avaliação individual que é feita após a frustração de uma má temporada.

Defesas centrais - Também aqui me sobram ainda grandes dúvidas sobre o que podem valer no longo prazo as diferentes opções. Pela pré época, Maurício justificará a titularidade acima de qualquer outro caso. Como já destaquei, foi impressionante em alguns jogos, ao nível dos duelos, e mesmo não sendo um jogador particularmente forte tem termos técnicos, também não me parece que isso tivesse sido especialmente relevante para as aspirações da equipa. A meu ver, muito mais importante do que o capítulo técnico, é o critério que mais influencia o rendimento dos centrais, e aí Mauricio não terá grandes tido ainda grandes motivos para reparos (o que se reflecte, por exemplo, na % de acerto em posse e na ausência de perdas de risco). Rojo, por outro lado, esteve bastante mais instável em praticamente todos os aspectos do jogo. Sentiu mais dificuldades no domínio do seu espaço defensivo, e embora seja um jogador mais forte tecnicamente, acabou por forçar com maior frequência a construção longa, tendo tido pouco sucesso nessa iniciativa. Sobre Eric Dier, que não conheço como central para além dos 172' que vi nesta pré época, tenho ideias distintas. No jogo com a Real Sociedad, fiquei mal impressionado pela dificuldade (e relutância, até) em sair da linha defensiva, nomeadamente sendo permissivo perante o jogo entrelinhas. Frente ao Nacional, pareceu-me bastante melhor, mas como infelizmente se lesionou, não me foi possível desfazer dúvidas sobre estes indicadores. Aparentemente, só resta Ruben Semedo, que parece de facto ter características muito favoráveis para ser uma revelação nesta posição. No entanto, no seu caso o tempo de análise é ainda mais curto.

Médios defensivos - Vou considerar o duplo pivot, porque me parece que apesar de uma possível assimetria com bola, os dois médios terão papeis muito próximos. Começando por Adrien, provavelmente o elemento de maior rendimento nesta pré época, há que referir que até agora foi o jogador que deu outra característica a esta função, soltando-se mais com bola. No entanto, não há alternativas a este perfil, e gostaria de ter visto André Martins ter sido testado nestas funções. Os outros candidatos ao lugar têm um perfil mais posicional, o que não será necessariamente um problema para a equipa. William Carvalho foi a revelação da pré época, um destaque que, como já escrevi, entendo justificar-se apenas pela sua sobriedade em posse, impressionando a forma como permanece imune à pressão, mantendo um bom critério e eficácia na circulação de bola. Por outro lado, e ao contrário do que sugere a sua envergadura física, o seu desempenho defensivo deixa ainda bastante a desejar para quem desempenha as suas funções, com dificuldades na antecipação e na capacidade de intervenção no espaço. Algo que se reflecte no número bastante reduzido de acções defensivas que protagonizou (média inferior à de Adrien, por exemplo). A Rinaudo, por outro lado, sobra capacidade de intervenção e de envolvimento no jogo, seja com bola ou sem bola. É verdade que tem de trabalhar o seu critério de intervenção, mas isso não me parece assim tão complicado, e penso que é um desperdício abdicar da capacidade que Rinaudo tem para oferecer à equipa em termos de capacidade de trabalho e envolvimento no jogo (sem surpresa, foi entre todos o jogador com maior média de passes completos e intervenções defensivas bem sucedidas).

Alas - Aqui, parece-me existir alguma indefinição nas escolhas de Jardim. À esquerda, Magrão terá conquistado rapidamente o seu espaço. Revelou boa capacidade posicional e sentido colectivo, e essas características ter-lhe-ão dado ascendente sobre Capel. O espanhol, aliás, não podia ter um perfil mais contrastante com o de Magrão. A outra implicação da opção pelo brasileiro são os seus movimentos interiores, que devem ser complementados pela dinâmica colectiva (profundidade do lateral, ou abertura de um dos avançados) para criar desequilíbrios no corredor esquerdo, já que Magrão não parece ter vocação para o fazer individualmente. À direita, mais problemas. Carrillo mantém alguma inconsistência, Chaby parece ter ainda algum caminho a percorrer, e André Martins não estará vocacionado para jogar junto à linha. A outra solução poderá ser a verticalidade de Wilson Eduardo, embora este pareça mais confortável a jogar a partir do flanco contrário. De todo o modo, se há coisa que não abunda neste Sporting são jogadores com capacidade de desequilíbrio individual, e tendo no elenco um jogador como Carrillo, provavelmente justificar-se-á uma aposta séria no jogador. E, em caso de sucesso, os benefícios podem ser mesmo muitos!

Avançados - Aqui, também ainda muitas indefinições, particularmente no elemento mais móvel da linha da frente. Será até possível que essa unidade venha a ser catalogada como "médio" e não tanto como "avançado". Para já, a tendência parece apontar para Wilson Eduardo, cujo papel passará por oferecer mobilidade à linha da frente, nomeadamente com movimentos sobre as alas. Wilson tem a vantagem de ser um jogador vertical, capaz de jogar fora ou dentro da área, e um bom executante. No entanto, parece-me bastante dependente do seu pé direito, o que o torna algo previsível. De todo o modo, tem conseguido uma boa relação com os movimentos interiores de Magrão e pode ainda evoluir num papel onde ainda leva pouco tempo de jogo. Outra opção testada, e naturalmente com características muito diferentes, foi André Martins. No entanto, também tenho dificuldade em ver Martins a evoluir muito a partir desta posição, onde não joga encostado à linha mas parte sempre de uma linha muito adiantada. Mantenho a minha curiosidade por vê-lo numa linha mais recuada. Para o papel de avançado mais fixo, haverá Montero, Slimani e Cissé (pelo que mostrou, não deverá ser capaz de entrar na luta por um lugar, a curto prazo). Sobre o colombiano, não tenho ainda uma opinião completamente formada em relação ao que pode exactamente valer, mas estou bastante seguro relativamente ao seu perfil. Montero será um jogador que alicerça o seu rendimento na forma como alia o desempenho técnico ao repentismo em espaços curtos. E isso pode torná-lo num jogador muito difícil de controlar dentro da área, onde pode fazer vários golos devido a essa característica. Por outro lado, não me parece ter grande capacidade de intervenção no jogo aéreo (não me refiro à estatura), o que é claramente um ponto fraco para quem jogará possivelmente sozinho na frente. De resto, tenho a convicção clara de que não terá um bom rendimento se for utilizado em posições mais recuadas, porque apesar de ter uma boa capacidade técnica e vontade de ter bola, o seu perfil de decisão está completamente desajustado para intervenções em zonas mais baixas. Relativamente a Slimani, causa-me algum cepticismo o seu percurso na liga argelina, mas só depois de ver é que se poderá realmente avaliar...

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