Relativamente à transição defensiva, a presença de um "duplo-pivot" muito posicional faz com que a equipa esteja normalmente muito bem posicionada para reagir defensivamente. Particularmente, há por regra um elevado número de jogadores na linha da bola, no momento da perda (desde que esta suceda no meio campo ofensivo, obviamente).
Finalmente, as bolas paradas mantêm a preferência por um posicionamento zonal.
Fase Defensiva (opinião) - Nestes primeiros jogos, o Porto conseguiu um bom controlo defensivo na generalidade dos seus jogos, fruto sobretudo da forma compacta como a equipa permanece em campo, particularmente na protecção ao espaço entrelinhas. Partindo da disposição que a equipa definiu para a sua organização defensiva, parece-me que a zona entre a primeira linha de pressão (avançado e médio ofensivo) e o "duplo pivot" pode ser chave. Há em regra algum espaço entre estas duas linhas e isso convida os adversários a construir por aí. Nessa circunstância, é decisiva a reacção que se segue, primeiramente pela leitura e antecipação dos médios mais recuados, mas também pela reacção dos elementos da primeira linha, pressionando por trás do portador da bola. Neste particular, o Porto teve desempenhos diferentes em função dos protagonistas, com a equipa a ser muito mais eficaz com a presença de Lucho em campo, devido à percepção do argentino para baixar e condicionar o portador da bola. Quando este espaço foi bem controlado, o Porto conseguiu fazer dele uma boa zona de recuperação, iniciando situações de transição com algum potencial. Por outro lado, se isso não acontecer criar-se-á uma ameaça ao controlo defensivo, primeiro porque poderá forçar os médios mais recuados a sair da sua posição sem grande vantagem para tal (abrindo o espaço entrelinhas), e depois porque se o portador da bola não for condicionado (nomeadamente o tempo de passe) o risco de um passe bem sucedido para as costas da defesa aumenta consideravelmente.
Em termos de transição defensiva, a equipa tem-se revelado igualmente muito forte, aproveitando o posicionamento favorável para recuperar rapidamente e permanecer com bola. O risco principal tem a ver com as perdas em zona/situação de risco, já que o Porto promove uma circulação baixa durante grande parte dos seus jogos, e evidentemente é sempre muito complicado reagir à perda nesse tipo de situações.
Fase Ofensiva (descrição) - Tal como nas acções sem bola, o "duplo pivot" fica bem vincado quando a equipa está em posse, havendo também aqui uma simetria no papel dos dois médios mais recuados. A sua presença muito posicional favorece a intenção de promover uma circulação muito paciente e que pretende fazer progredir a bola metodicamente em apoios curtos desde trás. Tendencialmente, a equipa começa por circular à largura até encontrar liberdade para entrar num dos corredores. Depois, e mesmo numa segunda fase ofensiva, mantém a paciência usando agora o "duplo pivot" para circular por fora assim que a progressão se torna mais difícil. A opção de construção longa apareceu quase exclusivamente como recurso, não parecendo haver uma grande preparação colectiva para a solução de jogo directo.
No momento de transição, a equipa faz uso frequente do médio ofensivo para o primeiro passe vertical, aproveitando o seu posicionamento mais adiantado, criando assim uma referência de apoio frontal para além do avançado.
Nas bolas paradas, não foram visíveis grandes combinações ofensivas, com a equipa a preferir cobranças simples dos livres/cantos a seu favor.
Fase Ofensiva (opinião) - Em termos de aproveitamento ofensivo, não se pode dizer que o Porto tenha para já sentido grandes problemas. No entanto, há algumas dúvidas que se me levantam relativamente à forma como a equipa constrói o seu jogo ofensivo, nomeadamente no que se refere à sua dinâmica na fase criativa. Em parte, porque a equipa não revelou grandes variações nos movimentos colectivos, e noutro plano, porque o tipo de oposição que irá encontrar durante a época poderá colocar um novo tipo de problemas. Relativamente aos movimentos ofensivos, o destaque vai para a aparente importância da componente individual na definição das dinâmicas, já que as variações aparentaram surgir sobretudo por iniciativa de cada um dos jogadores (não vou entrar em detalhes individuais, que guardo para a segunda parte da análise), sendo isto observável para todas as posições do meio campo e ataque, e podendo a equipa permanecer relativamente estática em alguns momentos. Quanto à oposição, a dúvida que tenho tem a ver com o encaixe estratégico, isto é, se o Porto até agora circula pacientemente tentando atrair a oposição para fora do bloco, antes de progredir, também é bastante provável que os adversários internos se sintam confortáveis com este jogo de paciência, jogando se possível com a pressão que irá inevitavelmente crescer no seu opositor com o passar do tempo (algo que na pré época não acontece). São dúvidas que existem numa equipa que, assinale-se, conseguiu exercer um grande (e invulgar) domínio territorial sobre praticamente todos os adversários que teve pela frente, um dado que atesta bem sobre a sua qualidade.
Esta será a primeira das análises de pré época que farei aos três "grandes". Naturalmente, há muito a dizer e tentarei sintetizar as minhas considerações, dividindo-as em duas partes, uma centrada nos aspectos colectivos e outra nos individuais. As duas componentes estão obviamente muito ligadas, pelo que tentarei fazer a ponte entre as duas, apesar desta divisão estrutural.