19.8.13

Benfica: Os mesmos problemas, mas agora é a sério

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O campeonato, diz-se, é uma maratona. No caso da liga portuguesa, porém, há bastantes pormenores que se assemelham mais a uma prova de sprint, nomeadamente a importância que os pequenos detalhes têm tido na definição do vencedor final. E se assim for novamente este ano, o Benfica pode bem arriscar-se a comprometer toda uma maratona só por não ter preparado bem a saída dos blocos de partida.
Os 3 pontos são, ainda assim, obviamente recuperáveis, e o risco não estará tanto na derrota em si, mas no facto de ela resultar dos mesmos problemas que se detectaram na pré temporada, o que pode indicar mais dificuldades num futuro próximo. Nomeadamente, e na minha análise, o Benfica voltou a reforçar a minha ideia sobre o carácter decisivo que dois aspectos têm neste momento do futebol encarnado: 1) a lenta integração das novas unidades; 2) a surpreendente facilidade com o Benfica é punido a cada ocasião contrária.
Quanto ao primeiro ponto, ele reflecte-se sobretudo nas dificuldades de ser consequente no último terço. Como escrevi no balanço de pré época, o Benfica parece-me nesta altura fortemente dependente das presenças de Salvio e Gaitan, havendo um grande desfasamento qualitativo se tiver de recorrer a outras alternativas para estes dois jogadores. Sulejmani é um caso que me levanta mais dúvidas, mas Markovic (sobretudo este) e Djuricic são dois jogadores sobre quem mantenho a convicção de que renderão bastante no médio prazo, mas que, para já, revelam ainda grandes dificuldades em integrar os seus movimentos na dinâmica colectiva. Não é uma situação nova, e se recuperarmos os primeiros meses de vários jogadores (Salvio, Gaitan, Bruno César, Ola John, etc...), talvez possamos encontrar um paralelismo com a situação actual. Neste sentido, parece-me que o Benfica teria a ganhar em tentar uma integração progressiva dos novos jogadores.
Sobre a questão da eficácia adversária, é um tema que apesar de ser difícil explicar, se vai mantendo. O Benfica voltou a sofrer 2 golos em tantas ocasiões consentidas, transformando um jogo em princípio bem controlado defensivamente, num registo altamente comprometedor para poder chegar à vitória. Aqui, a questão do guarda redes começa a ganhar importância, já que Artur continua a não conseguir ser decisivo nos lances chave, mantendo um registo muito negativo que vem da pré temporada. Torna-se difícil vincar conclusões de causalidade num tema como este, mas existe pelo menos uma certeza: se os adversários mantiverem esta eficácia, vai ser mesmo muito difícil ao Benfica ter sucesso!

Indo mais directamente ao jogo, o meu destaque vai para a estratégia inicial de Jesus. Sou extremamente céptico sobre as análises em retrospectiva, que criticam ou elogiam as estratégias do treinador, e estabelecem relações fatídicas de causalidade entre estas e o resultado de cada jogo. Neste caso, porém, a ideia de alterar a estrutura para utilizar dois "pivots" não faz sentido algum. E não faz sentido, por três motivos: Porque o Marítimo iria, ele próprio, escolher uma estratégia cautelosa, o que retirava qualquer enquadramento a esta opção táctica. Porque ao Benfica o empate não servia, logo a equipa teria forçosamente de assumir o jogo perante um adversário previsivelmente satisfeito com o nulo. E, finalmente, porque esta opção justifica-se sobretudo perante adversários com maior qualidade na fase de construção (e que possam expor o corredor central perante o atrevimento da estratégia habitual), o que não é o caso do Marítimo.

Relativamente aos lances dos golos, ambos resultam de situações de transição, com perdas de bola evitáveis em fase de construção, e ambos têm Matic como primeiro protagonista, devido a decisões de passe pouco próprias para um primeiro "pivot". Esse é sempre o primeiro ponto a realçar, porque as situações de transições devem-se controlar sobretudo pela prevenção. Depois, há a questão da reacção, que é sempre a mais abordada. No caso do primeiro golo, é evidente o erro de Garay, não na decisão de acompanhar a diagonal de Derley e abdicar da linha de fora de jogo, mas no timing da sua saída deste posicionamento para recompor o seu lugar na linha defensiva. Esta segunda decisão deveria apenas ter acontecido quando Sami estivesse completamente condicionado, e não, como aconteceu, enquanto o portador da bola ainda tinha controlo sobre o tempo e linha de passe. Depois, também Artur tem uma abordagem sensurável, já que naquela situação, sem o jogador estar enquadrado e a perder ângulo de finalização, evitar o contacto deveria ser precisamente a primeira prioridade. No segundo golo, de novo uma má decisão de Matic na origem da transição, com Enzo Perez a não ter capacidade para evitar o cruzamento de Heldon, e com Cortez a ter responsabilidade, não só pela antecipação de Sami, como por ter perdido a noção do seu enquadramento colectivo, colocando o extremo em jogo. Ainda assim, e repito, estas são situações muito rápidas e dificeis de controlar, devendo sobretudo evitar-se que aconteçam.


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