Fase defensiva (descrição) - Ao que tudo indica, com Leonardo Jardim o Sporting passará a dispôr-se em 4-4-2, perante a organização ofensiva contrária. A equipa distribui-se em 3 linhas, tendo o objectivo de perturbar a construção contrária em praticamente todo o campo. Este propósito, porém, não implica uma subida da totalidade do bloco defensivo, havendo uma preocupação clara em manter próximas as duas linhas mais recuadas, o que implica algum distanciamento entre os primeiros dois jogadores e o restante bloco defensivo. A ideia parece ser que estes elementos consigam condicionar a primeira fase de construção contrária para que os jogadores nas suas costas identifiquem depois a oportunidade de sair, pressionar e recuperar. No entanto, se essa oportunidade não surgir, a equipa tende a baixar no terreno, diminuindo o risco de exposição na profundidade e tentando conservar duas linhas defensivas atrás da bola.
Relativamente à transição defensiva, a presença de dois médios mais posicionais (mais clara frente à Fiorentina) garante à equipa uma boa presença numérica para a reacção defensiva. Há a preocupação de equilibrar rapidamente a largura da última linha, nomeadamente com um dos médios a compensar o lateral mais adiantado.
No que respeita às bolas paradas, há uma marcação individual, mas com 3 jogadores colocados zonalmente, ao primeiro poste.
Fase defensiva (opinião) - O Sporting conseguiu, nos testes de pré época, um controlo defensivo muito bom, com poucas oportunidades a serem concedidas. A meu ver, este sucesso explica-se principalmente por dois factores. O primeiro tem a ver com a protecção que é feita à última linha defensiva, com a equipa a arriscar pouco em termos posicionais, preferindo baixar e manter um bloco compacto do que avançar para um condicionamento mais rápido da posse contrária. O outro factor tem a ver com o bom controlo do momento de transição defensiva, que resulta não apenas do equilíbrio posicional com bola, mas também do critério que a equipa revelou em posse, acumulando muito poucas perdas de risco, durante os 5 jogos analisados.
O outro lado da estratégia defensiva aplicada tem a ver com a redução de presença em posse. Um óptimo exemplo disto é o jogo frente à Fiorentina, particularmente na segunda parte. Superada a primeira linha de pressão e sem condições para pressionar a primeira fase de construção, a equipa manteve-se baixa, equilibrada, mas também passando grandes períodos sem ter bola, esperando pacientemente pela oportunidade. Claro que, nem a liga portuguesa apresentará adversários com a mesma qualidade dos italianos, nem o próprio Sporting poderá manter essa abordagem não estando a ganhar. Aí, ter-se-á de ver um maior risco de exposição.
Entre as dificuldades reveladas, destaco particularmente a resposta a cruzamentos. 9 das 17 ocasiões consentidas resultaram de cruzamentos, e embora nem todas possam ser catalogadas da mesma maneira, houve alguns lances em que a equipa pareceu exposta na sua zona central. Sobram-me particularmente dúvidas na forma como a equipa reage ao recuo da bola nos corredores laterais, mas é algo a confirmar. Também ao nível das bolas paradas, há a questão do espaço ao segundo poste. O Sporting tem um elemento posicionado ao primeiro poste e nenhum ao segundo. Sendo uma marcação dominantemente individual, não faz muito sentido contar com uma subida em bloco imediatamente após a cobrança do canto (porque esse é um comportamento zonal), sendo que o problema deriva dos desvios que possam acontecer, com a bola a sobrar para o segundo poste, onde não há nenhum defensor a proteger essa zona.
Fase ofensiva (descrição) - Ofensivamente, há ainda algumas dúvidas sobre a forma como a equipa se apresentará, resultando estas em boa parte das características individuais dos jogadores escolhidos. Se sem bola, a equipa se dispõe muito claramente em 4-4-2, com bola há uma assimetria clara no papel dos dois elementos mais adiantados e, possivelmente também, dos dois elementos da linha média. Relativamente aos médios, com Adrien a equipa distinguiu claramente um jogador mais posicional e outro mais livre (Adrien), embora este se mantivesse preferencialmente sobre um dos lados do campo (esquerdo). A implicação disto foi que o elemento mais móvel da linha da frente descaiu preferencialmente para o lado oposto, permutando posicionalmente com o ala desse lado. Aliás, a relação entre o elemento mais móvel do ataque e um dos alas é uma marca clara no modelo de Jardim e manteve-se quando a equipa alinhou com dois médios mais posicionais (Rinaudo e William). Também nos alas, a especificidade individual é importante para a definição das dinâmicas colectivas, nomeadamente na ocupação de espaços mais interiores ou exteriores.
Em transição, há a intenção de fazer uso da largura da linha média, ligando o jogo até ao corredor oposto àquele onde ocorre a recuperação da bola, para tirar partido do espaço e da velocidade do extremo.
Nas bolas paradas ofensivas, a opção tem passado por cobranças directas e 5 jogadores posicionados para finalizar.
Fase ofensiva (opinião) - Se defensivamente a equipa tem conseguido um bom desempenho, ofensivamente as dificuldades têm sido maiores, o que acaba por não ser surpreendente tendo em conta o contexto do clube. Em organização, a intenção passa por ligar o jogo ofensivo fazendo apelo à circulação baixa, numa primeira fase, e à mobilidade nas zonas mais adiantadas. Nem sempre a equipa conseguiu uma grande eficácia nestes processos, revelando dificuldades em ser dominadora em diversos períodos dos seus jogos. Manteve-se, porém, uma equipa lúcida com bola, não fazendo com que esses problemas de afirmação fossem estendidos ao equilíbrio e controlo defensivos. Há ainda algumas indefinições relativamente ao que a equipa poderá apresentar em termos dinâmicas ofensivas e, como referi acima, penso que isso estará dependente das características individuais dos jogadores escolhidos.
O Sporting dificilmente poderá sonhar com o céu em termos exibicionais, mas poderá certamente ter a expectativa de alavancar o seu sucesso através da lucidez no ajuste da sua abordagem estratégica, e é isso que tem feito. Nomeadamente, a equipa tem tentado potenciar o erro contrário e tirar partido das bolas paradas, de onde retirou uma assinalável eficácia até aqui.