Guarda redes - Se ontem referia a influência que a eficácia adversária teve no mau desempenho defensivo na pré época, hoje é inevitável falar do desempenho dos guarda redes, até porque os dados se agravam quando olhamos para a sua incapacidade de intervenção decisiva neste período preparativo. Das 26 oportunidades concedidas, 16 foram finalizadas com enquadramento na baliza, e 13 resultaram em golo. Ou seja, a capacidade de intervenção dos guarda redes neste tipo de lances decisivos foi quase nula (com Artur em destaque negativo). Importa aqui dizer claramente que nem estes dados representam uma base sólida para aferir de grandes conclusões, nem tão pouco é minimamente provável que se mantenham num registo percentual tão baixo, seja qual for o desempenho dos guarda redes e da equipa. No mesmo sentido, convém dizer que o número de erros cometidos pelos guarda redes não foi muito elevado (contei 2, dentro dos meus critérios), o que serve de atenuante. Seja como for, quando se acede à tradicional expressão "guarda redes que valha pontos", dificilmente existirá um argumento que a enquadre no actual desempenho dos guarda redes encarnados. Diria que, seguramente, melhores dias acabarão por vir, mas também que o Benfica faria bem em introduzir maior competitividade na luta por um lugar que tem já bastantes motivos para seja questionado.
Defesas laterais - A meu ver, e para além das funções mais óbvias, a relevância desta posição no modelo de Jesus tem muito que ver com a incidência dada aos corredores laterais no jogo ofensivo da equipa. Tanto ao nível da progressão, como do envolvimento no último terço. Nesse sentido, as características das soluções no plantel não me parecem totalmente de acordo com estas necessidades. Maxi será aquele que, sem dúvida, mais se enquadra com este perfil, conseguindo um excelente envolvimento ao longo do seu corredor, ainda que nem sempre complementado com as melhores abordagens defensivas. Do lado esquerdo, a aposta em Cortez tem sido muito forte, com muitos minutos a serem dados ao jogador. Na minha leitura, a envergadura física terá sido importante para a opção do Benfica, com Jesus a querer adicionar uma boa capacidade na disputa das primeiras bolas às características do seu lateral. Cortez tem revelado alguns problemas defensivos (talvez até excessivamente sublinhados), nomeadamente no que respeita à gestão do seu posicionamento ao longo do seu corredor e também na resposta a cruzamentos provenientes do lado oposto ao seu. A limitação que mais relevo me merece, porém, é a dificuldade de enquadrar os seus movimentos ofensivos com os seus companheiros. As suas iniciativas são sobretudo marcadas pela sua própria progressão com bola, e várias vezes desconsideram o contexto colectivo para o fazer, resultando numa dinâmica muito menos envolvente e, por consequência, muito menos eficaz. Jesus tem feito evoluir vários jogadores ao longo dos anos e estou certo que o fará também com Cortez, restando apenas saber qual o limite para essa evolução. Ainda nas laterais, há ainda Sílvio, André Almeida e, para já, Melgarejo. Sílvio cometeu alguns erros nesta pré época, mas é um jogador bastante seguro e assertivo nas suas acções, sendo que o principal problema tem a ver com a tal capacidade de envolvimento ofensivo, em que não é tão forte. André Almeida será outra solução com características algo parecidas às de Sílvio, mas a julgar pelo tempo de utilização na posição durante a pré época, dificilmente será uma opção preferencial.
Defesas centrais - Foram adquiridos 3 novos jogadores, confirmando-se a exigência da estatura dentro do perfil idealizado por Jesus para esta posição. Dentro das soluções actualmente existentes, claramente Luisão e Garay levam vantagem, tanto pela sua qualidade como pelo maior conhecimento que detêm sobre o que lhes é exigido dentro deste modelo. Garay, particularmente, é um jogador que oferece grande qualidade de passe à primeira fase de construção, algo que o Benfica dificilmente recuperará em caso de saída do jogador. Dentro das novas soluções, o tempo de jogo não deu para definir grandes diferenças. Todos cometeram erros e todos mostraram também algumas competências, com o jogo aéreo a surgir como destaque. Neste sentido, é-me difícil fazer uma análise consistente sobre que podem valer cada um dos novos jogadores, mas sobra-me também a convicção de que Jesus resolverá bem o problema, na eventualidade de saída de um dos seus centrais.
Médio defensivo - Matic começa a época como uma das mais valias da equipa, para muita gente mesmo, a maior de todas. De facto, o seu rendimento é muito elevado e a todos os níveis. Como alternativas, o Benfica tem Ruben Amorim e André Almeida, com o primeiro a parecer mais bem posicionado nas preferências do treinador, ainda que lhe falta a estatura que Jesus tanto valoriza. Amorim, porém, tem-se exibido muito bem na pré época, com bom envolvimento colectivo com bola, e bom sentido posicional, sem ela. Ruben Amorim é, a meu ver, um candidato sério a entrar no onze, mas mais para fazer dupla com Matic do que para ser alternativa a este. Relativamente às implicações de uma possível saída de Matic, sou da opinião de que o Benfica dificilmente encontrará uma melhor solução no imediato, mas que isso não será decisivo para as aspirações da equipa, pelo menos no contexto interno. Isto é, poderá fazer-se (e far-se-á, certamente!) à posteriori o típico nexo de causalidade, caso as coisas corram mal, mas não tenho dúvidas de que Jesus encontrará uma solução que cumpra as exigências da posição e que assegure um rendimento pelo menos semelhante ao que tinha com Javi. Aliás, o caso de Javi, durante tanto tempo sobrevalorizado por quase toda a gente, é para mim elucidativo sobre esta questão.
Médio centro - Como já escrevi, esta posição é hoje muito mais próxima do médio defensivo do que no passado. Aliás, penso até que as diferentes soluções para estas duas posições poderiam perfeitamente desempenhar qualquer dos papeis. A consequência deste perfil é que esta é agora uma posição de maior relevo posicional, mas com menor potencial criativo. Dentro das diferentes opções, Enzo Perez será provavelmente o mais completo, nomeadamente relativamente a essa capacidade de envolvimento no último terço. Amorim, porém, revelou-se também muito competente na dinâmica da posição e parece-me uma solução a ter muito em conta. A outra alternativa é André Gomes, também capaz de oferecer competência à função, sobretudo devido à forma como facilmente entende o jogo e a sua dinâmica, mas igualmente parecendo-me a unidade mais limitada em termos de potencial criativo. Dentro desta posição, e ainda que em abordagens diferentes daquela que será a mais habitual, poderá aparecer Gaitan ou, quem sabe, Djuricic.
Extremos - Esta parece-me ser a posição mais critica em termos de implicações no potencial colectivo da equipa. Pelo menos, para já. É que há uma grande diferença entre o rendimento de Salvio e Gaitan e das restantes soluções. Salvio, particularmente, fez uma pré época excepcional e é o jogador que promete mais rendimento nesta posição. Gaitan, noutro estilo, tem também um rendimento muito elevado, embora num patamar abaixo do seu compatriota. O problema tem sido o rendimento das restantes soluções. Sulejmani teve uma integração complicada, com pouca capacidade de envolvimento colectivo e, consequentemente, pouca capacidade de desequilíbrio. Ola John terá um perfil diferente das restantes soluções, sendo muito forte no 1x1 e cruzamento, mas com menor propensão para o envolvimento colectivo. Provavelmente haverá uma evolução destes dois jogadores, mas para já o que ofereceram foi curto para as exigências da equipa. Resta, claro, Markovic. Como extremo, Markovic mostrou-se participativo, mas também com pouca consequência, provavelmente fruto de estar ainda a meio do processo de integração.
Avançados - Há algumas dúvidas sobre esta posição, nomeadamente à relação que será estabelecida entre as duas unidades de ataque. Jesus parece ter preferência por uma solução do tipo "Saviola-Cardozo", ou seja com um elemento mais interior e de criação, e outro mais profundo e de finalização. Mas, por exemplo, se jogarem Rodrigo e Lima, poderá haver maior simetria entre os dois papeis. Aqui, o problema maior nesta altura tem a ver com a dinâmica do elemento mais móvel, com as soluções existentes a serem novas no plantel e a não revelarem ainda o entrosamento ideal. Markovic foi uma das revelações da pré época, e espanta realmente a sua capacidade com apenas 19 anos, nomeadamente ao nível da movimentação. O problema é que o rendimento do ainda adolescente sérvio não foi propriamente consistente. Oscilou entre exibições muito conseguidas, onde a sua qualidade disfarçou o entrosamento que ainda não tem, com outras onde o contexto competitivo o ofuscou completamente, como foi o caso do jogo com o Nápoles onde não conseguiu entrar em jogo e acabou por ser encostado à linha por Jesus, por troca com Gaitan. Mas, pessoalmente, fiquei com grandes expectativas em relação a Markovic. Djuricic também mostrou qualidade, mas tal como o seu compatriota não conseguiu o melhor envolvimento colectivo, acabando por ter um rendimento relativamente modesto no conjunto da pré temporada. É mais um caso para quem o tempo poderá ser um forte aliado, e é essa também a minha expectativa.
Finalmente, na posição mais adiantada, Lima leva vantagem clara, tendo conseguido uma pré época muito boa. Há ainda Rodrigo, cujo valor se conhece, mas que não revelou a mesma consistência (revelou-se, aliás, invulgarmente inconsistente nesta pré época), servindo a integração tardia de atenuante. O espanhol é também uma solução para jogar com mais mobilidade, e acho até que se sente mais confortável nesse papel. Haverá ainda uma terceira opção, provavelmente Funes Mori, que irá ao encontro do perfil idealizado por Jesus para esta posição, ou seja um jogador de maior estatura, servindo nomeadamente de referência para cruzamentos e primeiras bolas aéreas.