1ª Parte – É incontornável a importância do primeiro golo. Entrar a ganhar foi fantástico do ponto de vista mental. Este era um jogo onde havia um risco em relação à pressão que os jogadores sentiriam, pela importância do momento e pelo simbolismo do palco em que actuavam. O golo foi uma injecção de confiança e crença nos jogadores do Porto, que teve um efeito contrário do outro lado. Isso sentiu-se claramente pelo desnorte do United e o enorme acerto técnico e táctico dos portistas nos minutos que se seguiram. O Manchester teve muitas dificuldades em ultrapassar o bloco portista, extraordinariamente organizado, concentrado e solidário, numa demonstração daquilo que é um comportamento zonal praticamente perfeito, onde o espaço entre os jogadores é curto e há muito pouca margem para desequilíbrios individuais. O Porto saiu depois muito bem em transição, construindo boas jogadas que, com um pouco de felicidade, até poderiam ter dobrado a vantagem. Tudo isto antes e depois do golo do empate, uma imprudência de Bruno Alves que tem, também, enorme mérito de Rooney. Se se reparar, o posicionamento do inglês é totalmente intencional, correndo para aquela zona, numa antecipação do erro de Bruno Alves, perante a pressão que lhe era exercida.
2ªParte – A segunda parte foi diferente. Mais risco por parte do United e mais dificuldades defensivas, ainda que apenas a espaços, do Porto. Neste período sentiu-se sempre que o golo era possível, quer pela forma como o United se aproximou da área de Helton, quer pela forma como o Porto colocava 4 e 5 jogadores em transição. Na verdade, creio que o Porto terá sido vitima de alguma desinspiração nesse momento de transição ofensiva na segunda parte, não tirando o devido partido das condições que teve para o protagonizar. Uns dos destaques evidentes foi Hulk que, sobretudo nesta etapa, esteve muito infeliz na definição dos seus lances. O United foi, ao contrário da primeira parte, mais perigoso e acabou por chegar à vantagem quando já tal não parecia possível, num golo novamente muito consentido. Valeu um último folego para dar justiça a um marcador que, claramente, não merecia ter o Porto como derrotado.
Individualidades – à excepção de um erro de Bruno Alves e uma má segunda parte de Hulk, foi uma exibição globalmente excelente, com as individualidades a tirarem partido dos méritos do colectivo. Falou-se muito em Fernando que cumpriu de forma soberba um papel altamente relevante do ponto de vista táctico. Não retirando mérito à individualidade, a sua exibição é também o reflexo do triunfo táctico do Porto no jogo, já que se há posição essencialmente táctica é a de Fernando. Houve ainda a desinibição do novato Cissokho, assim como o decisivo e trabalhador Rodriguez, o inconformado Lisandro ou mesmo Helton que, desta vez, não fraquejou minimamente, tendo estado a grande altura em alguns lances. A mim, no entanto, se me perguntarem, elejo Lucho como o melhor em campo. “El Comandante” foi o jogador que mais espelhou a amplitude da exibição portista. Inteligente e concentrado tacticamente, ocupando sempre muito bem os espaços e, depois, sendo competente e arrojado ofensivamente. Lucho esteve em várias jogadas ofensivas, mas fica ligado aos 2 golos. No primeiro, pelo roubo de bola que inicia a jogada e, no segundo, pode não ser evidente, mas é Lucho quem faz toda a diferença. A sua chegada à zona de finalização cria a superioridade numérica que o United não soube colmatar e é por causa desse movimento que Neville vem ao meio, libertando Mariano nas suas costas.
Jesualdo – Há ainda quem viva preso a ideias préconcebidas e não queira ou não saiba reconhecer, mas o principal mérito deste Porto vai, sem qualquer favor, para Jesualdo Ferreira. O seu trabalho no Porto tem sido excelente, mesmo antes desta temporada. A equipa é organizada e potencia as suas individualidades por mérito do trabalho do treinador que conseguiu este ano, dar sequência na fase a eliminar às excelentes fases de grupos que sempre protagonizou. Diz-se que no Porto qualquer um tem sucesso, mas eu vejo as coisas um pouco ao contrário. Independentemente da importância da boa organização que tem o futebol do clube e que já vem de há muito, o segredo do sucesso está sobretudo em saber identificar a qualidade na escolha dos recursos humanos. A principal prova disso mesmo é que quando essa escolha não foi bem feita, o Porto também não ganhou.