Um resultado deste género só se pode explicar pelo lado emocional e pela perda do controlo que ambas as equipas tiveram neste aspecto em vários momentos do jogo. O lado emocional é, de resto, quase a única variante que explica as variações que se assistiram no jogo, com os golos a terem um efeito altamente relevante no comportamento dos jogadores nos minutos seguintes. Primeiro, o golo inaugural, num erro lamentável de Cech, não só pela forma como abordou o cruzamento mas pela deficiente orientação dada ao homem que está a fazer oposição à cobrança de Fábio Aurélio. Esse golo fez o Liverpool acreditar e tornou Cech num elemento altamente intranquilo na partida. O Chelsea encolheu-se e só por muito pouco não acabou em desvantagem na eliminatória no primeiro tempo. Depois, numa segunda parte potencialmente mais equilibrada, criou-se novo desequilíbrio emocional mas no sentido oposto. O golo de Drogba deu ao jogo um cenário oposto, com o Chelsea, agora sim, a controlar devidamente o jogo, mais agressivo a reagir e a pressionar e mais incisivo nos momentos de transição perante um Liverpool incapaz de se impor no jogo. Daí a reviravolta. Depois da oscilação emocional entre a primeira e segundas partes, veio a loucura total nos minutos finais do jogo, com o Liverpool a ganhar nova vantagem com 2 golos consecutivos. O jogo ficou completamente aberto e imprevisível e foi o Chelsea quem, tal como em Anfield acabou por ser mais feliz. Podia muito bem ter acontecido ao contrário...
O novo Chelsea
Este jogo pode ter sido sensacional para quem assistiu mas do ponto de vista do Chelsea terá sido um sofrimento no mínimo dispensável. É certo que o Liverpool teve um excelente comportamento e que tem uma grande equipa, mas a este nível exige-se mais consistência, mais rigor e maior controlo táctico e emocional. Uma coisa é sofrer 4 golos num jogo em que se é obrigado a arriscar, outra é poder sofrer 2 golos e ser-se tão permeável. A este nível, diria, é um mau pronuncio.
Tacticamente o Chelsea não difere muito dos anteriores, havendo algumas nuances relevantes como o papel de Lampard, claramente mais próximo de Drogba, deixando Ballack para um posicionamento muitas vezes quase a par de Essien. O que se percebe é que esta equipa não tem um grande nível de concentração defensiva e que está muito mais vulnerável ao erro do que no passado. Por outro lado, o seu bloco defensivo parece muitas vezes permeável, demorando a reagir tacticamente e permitindo que a bola chegue com anormal facilidade às zonas de finalização.
Tudo isto poderá ser um indicador francamente negativo para a meia final com o Barcelona. Contra o Barça a consistência defensiva é fundamental perante uma equipa que apresenta tanta dinâmica em posse. O Chelsea pode ter capacidade mais do que suficiente para fazer golos aos catalães e até tem uma grande vantagem nas bolas paradas, mas será praticamente impossível pensar em vencer a eliminatória com tanta incapacidade para controlar o jogo, quer táctica, quer emocionalmente.