O equívoco da importância do futuro vs. presente
Foi uma bandeira dos primeiros e mais entusiastas defensores do regresso de Queiroz e é, agora, o mais recorrente argumento dos que defendem o seu trabalho das criticas aos primeiros resultados. Diz-se que Queiroz veio, de novo, colocar o futebol das Selecções com a organização devida, sendo um trabalho muito importante para o futuro. Mais importante do que os resultados imediatos.
Posso concordar, como concordei, que é preciso rever a estratégia para as Selecções jovens, mas daí a fazer desse o ponto principal da missão de um Seleccionador vai uma grande distância. Como todos sabemos, o principal trabalho na formação é feito nos clubes e a prova disso é que hoje Portugal tem uma Selecção fantástica do ponto de vista individual. Mas eu pergunto de que serve planear a formação de boas gerações futuras se, no presente, não somos capazes de tirar o melhor partido de uma excelente geração? De que serve semear se não somos capazes de colher?
Por estes motivos, eu digo claramente, que o Seleccionador de hoje tem a responsabilidade primária de ser capaz de retirar o melhor dos jogadores que tem. Só depois vem o resto.
O equívoco do regresso à cultura do individualismo
A grande capacidade que define os vencedores não é um dom divino de ser sempre perfeito, mas sim a capacidade de aprendizagem. Portugal, na pessoa de Queiroz, deu um bom passo no sentido da derrota pela forma como, simplesmente, não quis perceber o que fez de Scolari um Seleccionador de inegável sucesso. Afinal, como é possível que um treinador sem grandes métodos de treino, sem grande capacidade táctica e sem grande preocupação (ou especial vocação) para a detecção de talentos tenha tido tanto sucesso em anos consecutivos? A resposta a esta pergunta esconde a verdadeira herança de Scolari.
Num Seleccionador, sem tempo para treinar como num clube, é fundamental o grupo, a confiança e o sentido de responsabilidade. Scolari valorizou sempre mais isso do que qualquer outra coisa e por isso conseguiu sempre fortes respostas colectivas. Queiroz inverteu esta visão colectivista da Selecção e voltou a fixar-se no paradigma do individualismo. Daí dar tanta importância ao acompanhamento das performances individuais e daí criar critérios de inclusão/exclusão que tornam as escolhas muito mais uma espécie de prémio /punição do que acontece nos clubes do que propriamente uma consequência da relação evolutiva entre jogador e Selecção, enquanto equipa e grupo. Se o futuro dos jogadores da Selecção depende apenas da sua performance nos clubes, que comprometimento poderemos esperar destes em relação aos objectivos de médio prazo da Selecção? A Selecção passa, por tudo isto, a ser muito mais uma “selecção” e muito menos uma “equipa”.
Para mim, esta política é um retrocesso e um erro enorme que representa também uma não aprendizagem dos pontos fortes da era Scolari e um simples regresso a um passado que, convenhamos, não deixa grandes saudades.
O meu equívoco
Não fui um entusiasta da vinda de Queiroz para a Selecção, mas apenas se tratou de uma questão de perfil. Tinha e tenho Queiroz como uma pessoa lúcida e racional, que conhece bem o futebol português e Europeu e tem bons métodos de trabalho. Via na sua escolha uma ameaça natural por considerar incerta a forma como iria dar seguimento ás políticas de Scolari, mas também uma oportunidade por ver nele mais capacidades de desenvolvimento técnico-táctico do que o limitado treinador brasileiro. É que, como fiz questão de salientar na altura, havia reformas que seriam importantes fazer no modelo de jogo da Selecção.
Hoje estou bastante desiludido com Queiroz e tenho poucas dúvidas que, caso permaneça sob o mesmo paradigma do individualismo, com ele Portugal nunca vai conseguir potenciar ao máximo os resultados colectivos. Isto não tem a ver sequer com a qualificação para o Mundial, mas sim com os indícios deixados pelas suas políticas de gestão do grupo e das convocatórias. A isto podia ainda juntar os erros de leitura de jogo revelados em alguns momentos decisivos e que potencialmente nos terão custado alguns dissabores. No entanto, face ao primeiro problema, este é secundário. Equivoquei-me porque nunca pensei chegar tão cedo à conclusão de que Portugal, com este Queiroz (ainda vai a tempo de mudar, mas eu acredito pouco) terá tão pouco futuro.