6.4.07

Espanhol - Benfica: Falhanço estratégico

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No lançamento da partida com o Porto referi que preparar uma estratégia demasiado específica para um jogo em apenas 2 ou 3 treinos poderia ser uma opção de risco não sendo, por isso, aconselhável. Ora o 4-3-3 de ontem acabou por representar isso mesmo: um risco. Fernando Santos explicou, no final, que a estratégia passaria por explorar os avanços dos laterais do Espanhol com a colocação de Simão e Derlei sobre as alas. À primeira vista até poderia fazer sentido, mas olhando melhor para as características do jogo do seu adversário, talvez os laterais não fossem o aspecto que mais justificasse a atenção do treinador...

Referi, antes do jogo, que o clube Catalão depositava muitas esperanças nesta competição. Isso sentiu-se claramente na concentração e intensidade de jogo do primeiro tempo, bem diferente de um Benfica atordoado e aparentemente surpreendido com o que estava a acontecer. A estratégia dos espanhóis passava por um “pressing” alto, criando dificuldades à primeira fase de construção encarnada. Há ainda um pormenor importante e que, na minha opinião, explica grande parte do desacerto da opção de Santos: o Espanhol nunca teve receio de adiantar a sua última linha defensiva, apertando o bloco e jogando com as suas unidades num espaço reduzido de campo. Ora, perante este cenário, jogar no espaço entre linhas tornava-se um suicidio para o Benfica. Com os jogadores tão perto uns dos outros o primeiro passe encarnado encontrava sempre um elemento que era imediatamente pressionado e, por isso, assistimos a uma primeira parte com tantas perdas de bola. Acontece que no trio que Santos lançou para o seu ataque, Simão e Nuno Gomes são jogadores que gostam de “bola no pé” e mesmo o próprio Derlei não procurou jogar com o adiantamento da defesa adversária. Ao falhanço estratégico dos processos ofensivos juntou-se a insuficiência atroz da defesa encarnada e assim se explica a derrocada até aos 3-0.
O cenário estava negro mas o Benfica não trouxe de Barcelona um resultado assim tão negativo. Santos refez o losango, lançou Rui Costa (que não fazendo um jogo brilhante, impôs serenidade) e... Miccoli. O ajustamento da entrada do italiano está precisamente no ponto que frisei acima: Miccoli gosta de jogar no limite do fora de jogo e esse foi o principal factor que motivou o seu impacto na partida (basta ver o lance do primeiro golo). Dois golos em dois minutos lançaram o jogo para um cenário impensável até ali. Podia ter sido 3-3, se o Benfica tivesse aproveitado o ascendente que conseguiu após o seu “golpe-duplo”, mas foi o Espanhol quem acabou, de novo, por cima com Quim a salvar o Benfica de prejuízos maiores.
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Não quero estar sempre a bater na mesma tecla, mas a verdade é que se torna impossível ignorar os erros defensivos que o Benfica tem acumulado. Importa também referir que o Espanhol não é uma formação fácil de defender. Imprime muita mobilidade, tem bons jogadores e sabe escolher os momentos para ser letal (lembro que o Barcelona também levou 3 em Montjuic). Trago aqui o lance do segundo golo que espelha exactamente o que acabei de escrever: falta de coordenação defensiva perante um adversário que tem muito mérito...




- Partindo para um ataque rápido (não se pode falar em contra-ataque), o Espanhol coloca em Luis Garcia, no espaço entre linhas. Note-se que neste momento já o Benfica está inexplicavelmente descompensado: Nelson e Léo estão adiantados (o que não se compreende no caso de Nelson) abrindo espaços proibidos para aquela fase defensiva. De la Peña está prestes a isolar-se perante o acompanhamento tardio de João Coimbra e apenas o facto de Garcia estar virado para a direita faz com este solicite o também liberto Tamudo.
- Com Tamudo a encarar Anderson e Léo, é visível a falta de coordenação da defesa do Benfica. Ninguém se coloca na zona central da área (atrás de David Luiz) e há uma diferença de referências defensivas dos jogadores. Petit adopta um comportamento posicional, ficando à entrada da área. João Coimbra inocentemente acompanha De la Peña que, saindo para fora da área, arrasta o jovem médio. Rufete vai atacar a zona livre e será Nelson a acompanhar o jogador que vem da zona central. Neste caso aconselhar-se-ia que um dos médios se colocasse nas costas de David Luiz e outro à entrada da área. Nelson ficaria na zona do segundo poste.
- Com a bola a sobrevoar Quim é visível como Nelson foi arrastado por Rufete. Esta situação vai libertar o espaço onde aparece Riera a finalizar. Note-se ainda que Rufete tinha ganho posição sobre o lateral encarnado.
- Finalmente, Riera aproveita o espaço que foi libertado para rematar. Petit tenta a compensação, mas é tarde. O Benfica vai permitir que um jogador finalize completamente solto, num lance em que teve sempre superioridade numérica defensiva (6 para 5).

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