10.2.11

Argentina - Portugal: Análise e números

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Tal como escrevi ontem, estes jogos, apesar de amigáveis, ficam bem vincados no registo histórico. É aí que começa o sentimento de alguma frustração pela derrota averbada. Uma frustração que se justifica também pelas outras conclusões do jogo. Ou seja, Portugal pode ter defrontado uma das potências do futebol mundial, mas não se mostrou inferior ou com menos possibilidades de poder sair vencedor. Pelo contrário, aliás, creio que mostrou mais qualidades do que o seu adversário. Mais consistência colectiva e menos dependência da sua “estrela”. Messi, de resto, é um personagem fundamental na história do jogo, e não pela penalidade decisiva.

Notas colectivas
A “nuance Messi” começou por marcar o jogo e definiu, também, o único período em que Portugal não foi melhor no jogo: a primeira meia hora.

Messi apareceu a jogar como falso “9”, partindo do meio dos centrais, mas raramente jogando perto destes. Ou seja, ao baixar, Messi criou um problema zonal ao bloco português. Os centrais ficavam sem referência de marcação e o meio campo com uma constante desvantagem numérica, um problema agravado pela qualidade de Messi sempre que tinha a bola. O que fazer?

A resposta é simples. Encurtar os espaços entre sectores, particularmente entre a linha média e a mais recuada. Portugal não o fez imediatamente e, por isso, sentiu algumas dificuldades em controlar os espaços dentro do seu bloco nos primeiros 30 minutos. Quando juntou mais as linhas, Messi teve de baixar progressivamente no campo, recuando para zonas onde o seu protagonismo não tem a mesma consequência.

Aqui, há outro aspecto a abordar, e onde creio que Portugal não esteve tão bem: o pressing. Não era muito fácil, perante o “problema Messi”, subir a linha média para pressionar, mas era importante definir uma zona pressing agressiva e organizada, que diminuísse o tempo de decisão à primeira fase de construção contrária, até pela características incisiva dos extremos – Di Maria e Lavezzi – fortes no aproveitamento das costas. Portugal melhorou na segunda parte, onde subiu linhas com mais critério e menos compromisso dos espaços interiores, mas não teve a agressividade do jogo com a Espanha, por exemplo.

Tudo somado, Portugal perdeu o jogo por algum défice de concentração na recta final, mas foi na parte inicial que menos conseguiu controlar a estratégia argentina. Assim que corrigiu comportamentos e retirou espaço a Messi, Portugal foi claramente a melhor equipa, mais organizada e clarividente em termos tácticos e, também, mais próxima do golo.

Perdemos mas, em definitivo, esta parece-me uma equipa com sérias possibilidades de discutir o título europeu.

Notas individuais
João Pereira – As atenções mediáticas estavam centradas do outro lado do campo, em Coentrão, mas foi João Pereira quem arrancou mais uma excelente exbição. É um grande lateral, com algumas lacunas, é certo, mas não me parece que haja muitas Selecções com alguém melhor do que ele na sua posição.

Coentrão – Não foi, de facto, o melhor jogo para demonstrar o seu valor. Di Maria e Zanetti são um corredor duro de enfrentar. Coentrão bateu-se bem, mas não conseguiu o protagonismo habitual. A pintura, porém, só ficou mesmo borrada no último minuto.

Meireles – Tinha feito um grande jogo com a Espanha e neste não se pode apontar-lhe nada em termos de atitude e entrega. Acontece que foi uma das grandes vitimas da tal liberdade de Messi. Teve sempre mais do que um jogador a cair na sua zona e isso condicionou-lhe a acção de forma determinante. Para mais, acabou por cometer alguns erros invulgares em posse na segunda parte. Note-se, porém, que é um médio de grande qualidade e um indiscutível da Selecção, seja em que posição for do meio campo. A sua valia, aliás, fica bem clara na rapidez com que se impôs no Liverpool.

Hugo Almeida – Todos lhe apontarão o dedo pelos 2 golos que falhou – particularmente o segundo. No entanto, Hugo Almeida teve uma acção preponderante em termos ofensivos. Teve em todos os desequilíbrios da equipa, fez 1 assistência e ainda enviou 2 bolas à barra. Outro aspecto onde esteve bem foi no domínio das primeiras bolas. É importante, porém, que haja um melhor aproveitamento da equipa no posicionamento das segundas bolas, porque poucas foram as vezes em que as suas acções, nesse capítulo do jogo, tiveram consequência.

Messi vs Ronaldo – Aparentemente será um disparate valorizar este duelo. Em termos práticos, porém, a história diz-nos que não é assim. Um particular entre Argentina e Brasil dos anos 80 tem interesse por causa de Zico e Maradona. Nos anos 60, Brasil e Portugal poderiam jogar “a feijões”, que Pelé e Eusébio seriam sempre um ponto de interesse. Se há motivo pelo qual este jogo pode ser relembrado no tempo, é por este duelo e nada mais.
Messi terá levado a melhor, sobretudo pela vitória argentina e pela sua influência directa na mesma. Mas é uma vantagem que se torna irrelevante porque ambos estiveram em grande nível e, claro, porque Ronaldo jogou apenas 2/3 do jogo.



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