28.2.11

Sporting, Paulo Sérgio e a importância de saber escolher

ver comentários...
Se há uma coisa perigosa e que devemos sempre desconfiar é da generosidade da nossa memória. Nomeadamente em relação ao acerto das nossas projecções passadas. No caso de Paulo Sérgio, porém, encontro uma grande identificação actual com aquilo que escrevi aquando da sua entrada. Ainda assim, e em boa verdade, posso dizer que esperava um pouco mais do treinador em termos de qualidade táctica. Quer em termos de ideias, quer em termos de capacidade de imposição das mesmas. Enfim, mais do que o passado, importa contextualizar o futuro, e, sobre isso, deixo alguns tópicos de opinião.

O menos culpado, ou o mais culpado?
O termo “culpado” é exagerado e incorrecto, mas o seu uso generalizado compreende-se bem. É a tal natureza humana de que tantas vezes falo, que anseia por estabelecer relações directas e lineares entre efeitos e causas – “culpas”. Seja como for, as análises dividem-se. Desde os que defendem que o treinador não era o “único culpado” (La Palisse não diria melhor), até aos que vêem na sua falta de capacidade um condimento essencial para o insucesso.


Pessoalmente, e como já várias vezes escrevi, defendo que o treinador é uma peça fundamental de qualquer estratégia desportiva. Talvez a distinguisse, até, como a mais fundamental de todas, pelo menos no curto prazo (não faltarão exemplos que sustentem esta tese). O plantel do Sporting não é tão forte como o dos outros 2 “grandes”? Certo. Mas também é para mim uma evidência que o seu valor é bem maior do que aquilo que o seu rendimento hoje faz parecer.

Em suma, se o Sporting 2010/11 teve a história que teve, entendo que nenhum factor teve tanto peso relativo como a escolha insuficiente que fez para o seu comando técnico.

Impossível fazer pior?
A ideia de que se bateu no fundo advém do dramatismo próprio do fenómeno clubístico. Mas, o fundo, normalmente, é muito pior do que aquilo que se pode imaginar. Exemplos? O próprio Sporting, e a transição da época anterior para esta. Parecia impossível fazer repetir, mas aconteceu, e talvez até pior. O Besiktas, na Turquia, que investiu loucuras em talentos de inegável valor e colocou um treinador de renome à sua frente – Schuster. O resultado? 6ºlugar na liga turca e uma eliminação com goleada da Liga Europa. O Feyenoord – talvez o caso mais extremo – um “grande” da Holanda e com valores mais do que suficientes para se bater pelas primeiras posições, muitos deles oriundos da sua boa formação. Onde está? A 6 pontos da linha de água, tendo já perdido por 10-0 em Eindhoven na presente época. Estes exemplos, note-se, são diferentes, mas ambos têm contextos competitivos – Turquia e Holanda – semelhantes ao português.

O risco de fazer pior, para o Sporting, é bem real. Por 2 motivos: primeiro, porque o nível dos adversários é, nesta fase, muito elevado. Há mais investimento, melhores soluções, e também muita competência em termos de orientação técnica. Depois, porque o clube vive um momento em que coincidem o trauma do insucesso e o fervor eleitoral. Uma combinação que potencia soluções populistas e diagnósticos pouco lúcidos. É, dentro deste cenário, provável que se cometam vários erros.

O sucessor: a importância de saber escolher
Não há nada mais decisivo para o futuro imediato do Sporting do que a escolha do treinador. Mais do que Presidentes, modelos e fundos de investimento. Saber escolher é, como sempre tenho referido, o factor de sucesso mais decisivo para qualquer gestão desportiva, e a próxima direcção do Sporting não será excepção.

O processo eleitoral ainda está em fase de definição - e, para ser sincero, estou ainda muito pouco familiarizado com as propostas já apresentadas - no entanto, os indícios deixados nos perfis definidos para o próximo treinador serão desde logo relevantes para aferir sobre o que será o futuro próximo do Sporting. Bons treinadores (como maus), há em todo o lado, mas Portugal tem a particularidade de ser, muito provavelmente, o país que mais bons valores revela neste particular. Ora, se quem escolhe não for capaz de identificar esse valor cá dentro, que probabilidade haverá de que o identifique lá fora?!
Ler tudo»

AddThis