15.2.11

Benfica - Guimarães: Análise e números

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Avassalador! Haverá certamente outros adjectivos para classificar a exibição encarnada, mas não é adjectivação que me parece mais importante no balanço, quer do jogo, como do momento da equipa. Tem sido um ano realmente interessante do ponto de vista da análise: uma equipa que era – como agora volta a ser – demolidora, quebra subitamente os seus níveis de performance, voltando depois a recuperar os níveis mais altos, com uma série de vitórias. Salvo novas evidências – e continuarei obviamente a acompanhar – o “caso Benfica” está para mim encerrado. O seu problema nunca foi táctico ou individual – os motivos que, como tanto tentei explicar, erradamente foram mais apontados. O seu problema foi sempre emocional. É que este Benfica de Jesus, tacticamente forte e tecnicamente rico, é “confiançodependente”!

Notas colectivas
A importância da confiança no jogo do Benfica explica-se pela forma como a equipa privilegia a velocidade sobre o critério nas suas acções. Ou seja, os jogadores tentam sempre imprimir um ritmo muito elevado no jogo, verticalizando o mais rapidamente possível, mesmo que esse nem sempre seja o caminho mais seguro para avançar. A importância da confiança está nos índices de sucesso de cada acção: isto é, quando a equipa está bem, torna-se muito difícil de parar porque é muito forte em termos técnicos e tácticos. Quando está mal, porém, os riscos que assume tornam-se uma ameaça tremenda para o seu equilíbrio e recuperação defensivas.

Em relação ao jogo propriamente dito, há 3 aspectos que quero destacar na forma como o Benfica conseguiu a sua superioridade.

O primeiro tem a ver com a agressividade e capacidade reactiva à perda de bola. Muito agressiva toda a equipa, mas especialmente o corredor central. Javi e Aimar estiveram – como poucas vezes esta época – muito fortes na reactividade à perda, ganhando quase todos os duelos e dominando um corredor onde nem sempre estiveram em superioridade numérica. Este aspecto foi muito importante, obviamente, para manter a bola no meio campo ofensivo e não deixar o Vitória jogar.

O segundo aspecto tem a ver com a opção de utilizar quase exclusivamente os corredores laterais em ataque posicional. Javi baixou para a zona dos centrais, dando maior largura à circulação nessa linha, e Aimar apareceu poucas vezes a construir e muito mais a jogar a partir de posicionamentos mais adiantados (caso do 2ºgolo). A bola entrava quase sempre nos corredores laterais e nos extremos. Foi fundamental para o Benfica a produtividade destas combinações, quase sempre bem sucedidas. Há muito mérito da movimentação colectiva, algum demérito da falta de agressividade do Vitória, mas um também notável desempenho técnico dos jogadores, que conseguiram, muitas vezes, sair com bola de situações pouco favoráveis – mais uma vez, está aqui bem presente a importância da confiança.

O terceiro aspecto tem a ver com as bolas paradas. O Benfica é uma equipa com uma qualidade extraordinária neste plano. Extraordinária! A importância deste aspecto não está apenas circunscrito aos golos que consegue, mas estende-se também ao impacto emocional que os lances de perigo podem ter no jogo. Por serem situações emocionalmente intensas (de golo eminente) podem afectar os jogadores, positiva e negativamente, fazendo-os sentir mais confiantes ou inseguros, consoante o caso. Neste caso, isso pareceu-me importante. O Benfica, mesmo antes do golo (por sinal, conseguido de canto), fora ameaçador de bola parada e isso terá contribuído para o entusiasmo dos adeptos, para a confiança dos seus jogadores e para a insegurança do adversário. Isso reflectiu-se na grande diferença no desempenho técnico dos jogadores.

Sobre o Vitória, finalmente, importa dizer apenas que a equipa não esteve à altura das adversidades que lhe foram colocadas e sucumbiu à pressão a que foi submetida. Em termos tácticos, Machado optou por um 4-3-3 largo e pouco profundo, mas não foi por isso que o Vitória perdeu. Quando os jogadores não são capazes de controlar zonas em que têm superioridade, de dividir duelos directos e de manter um desempenho técnico que garanta, no mínimo, a segurança em posse, não há táctica ou estratégia que lhes possa valer...

Notas individuais
Maxi – Está num óptimo momento, crescendo com a equipa e, também, com o entendimento com Salvio. Já em Setúbal tinha sido dos melhores.

Sidnei – A influência decisiva é óbvia e suficiente para ofuscar, quase por completo, qualquer outro aspecto. Ainda assim, foi também um jogador importante a jogar em antecipação na fase em que a equipa exerceu maior domínio. Foi bom para ele entrar neste momento positivo, dá-lhe - a ele e à equipa - maior margem na integração.

Javi Garcia – Esteve mais junto dos centrais em posse, o que lhe valeu maior presença e também mais segurança com bola. Sem bola, esteve também bem e sobretudo melhor do que é hábito, contribuindo de forma relevante para o "sufoco" da primeira parte.

Aimar – Indiscutivelmente o melhor em campo, combinando influência decisiva com um desempenho táctico bem acima do que lhe vem sendo hábito. Porém, convém não confundir grandes exibições com grande rendimento continuado. Aimar vai oscilando o óptimo com o insuficiente e esse é o seu problema desta temporada. Por exemplo, em Setúbal, tinha tido uma prestação bastante fraca, com muita insegurança em zona de construção.

Gaitan – Marcou em Setúbal e vem assumindo maior protagonismo mediático. Digo, porém, que o seu rendimento nos últimos 2 jogos foi inferior ao que era hábito. Particularmente, quando o jogo fica fácil, Gaitan torna-se displicente. É giro, porque torna-se uma espécie de “show” individual, com calcanhares e pormenores deliciosos. A equipa é que não ganha muito com a atitude.

Salvio – Um rendimento global fantástico. Desequilibra, trabalha e ainda consegue manter níveis de concentração muito elevados a cada posse de bola. Dificilmente o Benfica arranjará outro jogador com este rendimento e com a sua idade.

Cardozo – Uma nota para ele, porque, apesar de não ter marcado e de ter desperdiçado um penalti, apareceu mais solicito no jogo colectivo. Algo que acontece muito raramente. É que, apesar de algumas considerações em sentido contrário, Cardozo trabalha normalmente muito pouco para a equipa, para além dos golos que marca. Acredito que muito menos do que aquilo que pode e deve fazer.



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