24.7.08

Ronaldo: Mas o que é que se passa?!

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A par do talento, desde cedo reconhecido, e da sorte, indispensável para o sucesso de qualquer um, a carreira de Cristiano Ronaldo foi desde muito cedo marcada pela força mental, traduzida em vários aspectos. Primeiro, na capacidade do jogador para suplantar os momentos de pressão, marcando na estreia pelo Sporting e, mais tarde, mostrando uma invulgar capacidade de adaptação ao futebol inglês, para onde emigrou ainda cedo, constituindo-se um desafio arriscado tendo em conta as exigências que sobre ele recaíram e, não menos importantes, as diferenças culturais, tantas vezes um entrave decisivo para a afirmação de outros jovens jogadores talentosos.

Noutro plano, a sua evolução como jogador foi sempre ascendente, desenvolvendo várias capacidades que hoje fazem dele um jogador temível em aspectos em que não era forte quando, há não tanto tempo quanto isso, apareceu como profissional. Também para este aspecto, a mentalidade de Ronaldo foi decisiva, não se conformando com o seu já enorme talento e mostrando vontade em ser sempre melhor. Tudo isto levou o jovem madeirense a atingir aquele que foi o pico da sua carreira, quando a 21 de Maio conquistou, como principal estrela da equipa e da prova, a mais prestigiada prova ao nível de clubes, tornando-se, unanimemente, no favorito a conquistar a Bola de Ouro de 2008.
"Mais nada a provar"?!
De lá para cá vão poucas semanas. Um espaço de tempo demasiado curto para que se pudesse pensar ser possível um tão grande contraste com a tal característica mental que marcou todo o percurso de Ronaldo ao longo da carreira. Primeiro, o Euro. É normal que o jogador não tenha estado no seu melhor, tendo em conta as características da prova, mas a forma como desvalorizou aquele objectivo tão imediato e relevante com o seu “não tenho mais nada a provar”, antes do inicio prova não bate certo com o Ronaldo que se conhecia. Esta frase, aliás, é a antítese do que se recomenda a um campeão. Os objectivos devem ser eternos, de grau de complexidade crescente e a próxima etapa deve ser sempre encarada como mais importante do que a anterior. Esta ideia pode, por exemplo, ser encontrada no auto-discurso de José Mourinho. “mais nada a provar” é uma inversão de mentalidade perigosa e que pode dar frutos indesejáveis num futuro que vai bem para além do Euro.

Mas, se esta poderia ter sido uma frase infeliz, o que dizer da “novela Real Madrid”? O jogador pode ser vitima de algum exagero dos media, constantemente em busca de frases e declarações que façam capa de jornais, mas ninguém poderá advogar uma inocência na forma como Ronaldo se tem alimentado a polémica. A questão que me fica é, onde é que no meio disto tudo está a vontade de ser melhor, de superar o que já fez no passado? A transferência para o Real Madrid, ou melhor, esta vontade quase desesperada para que esta se concretize, encerra mais um exemplo de um desvio em relação àquilo que é fundamental para que se possa atingir a excelência de forma progressiva, trocando uma motivação competitiva por uma série de factores que, em boa verdade, se tornam supérfluos quando comparados com o que o jogador ainda pode fazer por si e pela sua história no futebol mundial.

Por tudo isto, vale a pena perguntar, o que se passa em volta deste rapaz para que, de repente, troque aquela que foi a sua fórmula de sucesso por prioridades que, honestamente, dificilmente lhe trarão algo de bom no longo prazo?

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