16.9.07

A dor do crescimento

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(Texto enviado por Bruno Cabral)

A propósito das dificuldades que Portugal tem sentido na qualificação para o próximo Europeu – depois de ter feito um Mundial 2006 sensacional -, decidi escrever pela primeira vez sobre uma constatação (minha) que, no mínimo, dá muito que pensar.
E essa constatação é a seguinte: deste 1992, uma selecção que se revele a surpresa/sensação de um Europeu ou Mundial não se consegue apurar para o evento que vem a seguir. Nestes 15 anos há apenas uma excepção, mas já lá vamos.
Comecemos pelo Euro 92, na Suécia. A Dinamarca fez história, ao sagrar-se campeã europeia, depois de ter sido repescada para substituir a então Jugoslávia. Dois anos depois, a Dinamarca era uma das ausências principais do Mundial dos EUA.
Nesse Campeonato do Mundo (1994), uma outra selecção nórdica dava nas vistas, a Suécia. Os “canarinhos” da Europa só foram parados nas meias-finais pelo Brasil e terminaram a prova num espectacular terceiro lugar. Porém, seguiu-se a qualificação para o Euro 96 em Inglaterra e a Suécia não conseguiu apurar-se.
Em 1996, a Republica Checa participava pela primeira vez num grande certame (com o seu novo nome) e, para surpresa de todos, chegou à final, onde perdeu somente no prolongamento com a poderosa Alemanha. Só que, tal como a Dinamarca e a Suécia nos anos anteriores, a República Checa também não obteve o apuramento para o evento que veio a seguir, neste caso o Mundial de França.
Em 1998, a principal surpresa foi a Croácia. É verdade que tinha uma super-equipa, reconhecida por todos na altura, mas não possuía grande estatuto, até porque o país havia nascido há pouco tempo. Os croatas eliminaram a Alemanha, com um inesquecível 3-0, estiveram com um pé na final, perdendo 2-1 com a França, e acabaram em terceiros, à frente da Holanda. Foi fantástico para os croatas, mas a alegria sentida em 1998 não foi possível repetir-se em 2000, no Europeu da Bélgica e da Holanda, porque a sua selecção falhou redondamente na qualificação.
Foi então no Euro 2000 que surgiu a excepção de que falo no início do texto. Portugal foi a selecção-sensação desse evento e deu continuidade aos bons resultados com o apuramento para o Mundial 2002. Ainda assim, o outro terceiro desse Campeonato da Europa, a Holanda, não conseguiu estar presente no Mundial do Oriente. Mas pela tradição e grande nome que tem e já tinha, a Holanda não poderá ser considerada surpresa em 2000, por isso afirmo que nesses anos registou-se a única excepção.
Porém, os casos não se ficaram por ali. Tivemos mais dois. Primeiro a Turquia e depois a Grécia. A Turquia ficou num fantástico terceiro lugar no Coreia/Japão, mas não esteve em Portugal para o Euro 2004. Os gregos sagraram-se campeões europeus, numa das maiores surpresas da história do futebol, e depois não tiraram o passaporte para viajarem até à Alemanha para o Mundial 2006.
Enfim, são muitos os casos e, coincidência ou não, Portugal, quarto no Mundial da Alemanha, está a sentir muitos problemas – bem mais que o esperado – para qualificar-se para o Euro 2008. Espero, no entanto, que Portugal volte a ser a excepção.
Sinceramente é difícil de encontrar uma explicação para estes casos algo estranhos, mas, sendo tantos, parece-me que isto não é uma simples curiosidade. É a crise do sucesso, mais fácil de perceber nos clubes, ou então a “dor do crescimento” como lhe chamou Jorge Jesus, referindo-se ao Belenenses.

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