5.9.07

Afinal, qual é o problema de Fernando Santos?

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Foi uma figura raramente apreciada entre os adeptos daquele que era o seu clube e, se houve alguns que consideraram que o ‘timing’ não terá sido o melhor, a verdade é que se contam muito poucos aqueles que discordavam da necessidade do Benfica ter outro treinador. Afinal, qual era o problema de Fernando Santos?

Para mim, um treinador pode-se avaliar em 3 componentes básicas. (1) Pelas suas competências enquanto líder, (2) pelas sua filosofia de jogo, e (3) pela capacidade de a implementar. Poucos são os homens à face do planeta que conseguem ser excepcionalmente competentes nestas 3 componentes e, por isso, cada vez mais é importante a complementaridade de toda uma equipa técnica e não apenas do seu líder.

(1) – Liderança – Há vários modelos de liderança e, embora exista a ideia pré concebida de que quanto mais autoritário for um líder, melhor ele é, a verdade é que a maioria dos estudos aponta precisamente em resultados contrários a esta ideia. Naturalmente esta é uma avaliação que não posso fazer directamente a Fernando Santos, porque nunca estive num balneário de uma das suas equipas nem assisti ao seu relacionamento com os jogadores. No entanto, que se saiba em vários anos de carreira são raros os casos de indisciplina e problemas nas equipas de Santos. A motivação é outra questão, mas o testemunho de Deco – treinado por Mourinho e Scolari – afirmando que o “Engenheiro” foi o treinador que mais apreciou, parece-me um forte ponto a favor do treinador.
(2) – Filosofia de jogo – Várias vezes analisei aqui o jogo do Benfica e fui apontando aqueles que considerava os suas virtudes e defeitos. De facto creio que Fernando Santos é dos treinadores mais ofensivos que os grandes conheceram nos últimos anos, utilizando pressão em zona média alta e atacando sempre com muitos. Esta é uma mentalidade com que estou em algum desacordo, porque entendo que expõe demasiado a zona defensiva, tornando-a vulnerável perante equipas mais letais no contra ataque. Adiciono a esta critica a concepção algo individualizada de defender, deixando aquele que, em meu entender, é o maior ponto forte do treinador.

(3) – Treino – Fernando Santos é um ex-jogador, formado em engenharia e o futebol moderno precisa de especialistas em matéria de treino desportivo. Esta é, certamente, a lacuna mais fácil de colmatar num treinador. Basta delegar em alguém mais capaz. Santos fez isso no Sporting e no AEK com João Aroso (agora um dos homens fortes de Paulo Bento) e no Benfica com Bruno Moura. Não é por aqui que se pode criticar o treinador, até porque as suas ideias foram sempre implementadas fielmente pelas equipas no terreno de jogo.

O problema da perseguição a Fernando Santos não esteve, no entanto, em nenhum destes pontos, mas num outro que, embora não tenha directamente a ver com o jogo em si mesmo, faz parte do seu mundo – a imagem pública. O perfil de “boa pessoa” que sempre transpareceu nunca lhe foi favorável desde os tempos do FC Porto. As pessoas preferem um “mão de ferro” de aparência, mesmo que, de facto, não o sejam e, por isso, inconscientemente classificaram-no desde o inicio como perdedor. Sacrificado após 1 vitória e 1 empate em 07/08, Fernando Santos regressa agora agora à Grécia, onde vai para um clube conhecido pela impaciência e irracionalidade dos adeptos.

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