13.9.13

Sobre Eusébio

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Naturalmente, não o vi ao vivo ou em tempo real. Não vivi o seu tempo, por isso há certamente muito que me escapa sobre o que foi realmente Eusébio. Mas, porque o futebol me suscita essa curiosidade, já vi na íntegra vários jogos de Eusébio. Vi de Eusébio, como vi de Pelé, Charlton, Beckenbauer, Cruyff e muitos outros. E, devo dizer, se tivesse de escolher um jogador que me impressionou entre estas glórias de outras décadas, escolheria seguramente Eusébio. Não me esqueço do que fez ao Brasil em 1966, ao Real Madrid em 1962, ou de um simples remate à barra, vindo do nada, na final de 1968. Admito que possa haver alguma parcialidade na minha escolha, e não quero com isto dizer que Eusébio terá sido melhor do que os outros, mas foi aquele que mais impressionou.

A grande figura dos anos 60 - Não sendo eu o melhor juiz para tal apreciação, quer-me parecer que a distância temporal tem feito esbater a consciência do real impacto de Eusébio nos anos 60. Do Eusébio e do Benfica, porque ambos estão umbilicalmente ligados. É que mais importante do que as 2 Taças dos Campeões Europeus, parece-me bem mais relevante sublinhar que o Benfica chegou a 5 finais em apenas 8 anos da competição, um feito raro em toda história da prova (em parte porque o novo formato da Champions o tornou muito mais difícil, bem entendido), e que conferia ao clube português um protagonismo invulgarmente continuado dentro do panorama europeu da época. Sendo a principal figura da equipa mais bem sucedida da década, Eusébio chega ao Mundial de 66 e confirma-se como o destaque individual da prova, num estilo quase 'hollywoodesco' e vergando pelo meio o "papão" Brasil, à altura bi-campeão mundial em título (embora numa versão muito diferente das anteriores). Com tudo isto, e contando ainda com o não desprezível facto do Mundial de 1966 ter sido disputado em Inglaterra, pondo término a uma sucessão edições em países periféricos, é fácil perceber o impacto que teve a figura de Eusébio, e como muito poucos nomes puderam verdadeiramente rivalizar com aquilo que conseguiu o Pantera Negra nesse período, entre Benfica e Selecção.


Eclipse internacional, aos 26 anos - Eusébio chegou ao Benfica, já campeão europeu em título, em 1961, com 19 anos. Depois de 7 épocas extraordinárias, Eusébio disputa a sua última final europeia, em 1968, tinha apenas 26 anos. A partir daí, o máximo que atinge em termos internacionais é uma meia final da Taça dos Campeões Europeus, em 1972, onde inclusivamente o próprio Eusébio tem uma prestação muito modesta, com apenas 1 golo em todo o percurso da equipa. Ou seja, e mesmo continuando a assumir um protagonismo importante, o certo é que este passou a restringir-se exclusivamente ao contexto interno. E se num país ainda bastante virado para dentro, talvez isso não fizesse diminuir o entusiasmo em seu redor, a verdade é que o que Eusébio fazia do lado de cá da fronteira nunca poderia ser suficiente para sustentar o brilho global que a sua estrela alcançara até 1968. E aqui, convém não nos restringirmos apenas ao Benfica, porque se há coisa difícil de compreender para quem, como eu, olha para tudo isto em retrospectiva, é como é que a Selecção Nacional conseguiu apenas 1 presença em grandes competições internacionais num período tão de vasto protagonismo europeu de um Benfica apenas composto por jogadores portugueses. Mesmo no rendimento do próprio Eusébio podemos encontrar uma disparidade atípica entre o que fez na campanha de 66 e no resto da sua carreira. Em jogos oficias, Eusébio acumula 38 jogos e 26 golos pela Selecção, mas se retirarmos o registo de 66 (incluindo a qualificação), ficamos com uns bem menos impressionantes 10 golos em 26 jogos, distribuídos por 6 fases de apuramento, onde Portugal não conseguiu sucesso algum.


Eusébio vs Ronaldo - A comparação tornou-se tema de conversa, em parte pelo golo 41 de Ronaldo, mas também, parece-me, muito por falta de assunto, numa semana de selecções e apenas com 1 jogo oficial da equipa portuguesa. De facto, não vislumbro grande pertinência em discutir a altura do pedestal de cada um, acima de tudo porque qualquer comparação entre jogadores de gerações tão diferentes tem sempre de incluir uma enorme dose de subjectividade. Há uma coisa que, porém, me parece imprescindível referir: é que Eusébio e Ronaldo só podem ser comparados em termos de projecção relativa e nunca na sua dimensão absoluta. Isto é, não se pode comparar a qualidade de jogadores dos anos 50, 60 ou 70 com aquilo que fazem os jogadores actuais. Essa é a vantagem que assiste a quem, como eu, vê com olhos de hoje os jogos de outros tempos, porque quem o fez apenas em tempo real, estará sempre mais susceptível a enviesamentos e floreados de memória. Recorrendo a uma analogia, seria como comparar os 100m de Usain Bolt com qualquer outro sprinter de outros tempos. Só que se no atletismo os registos não deixam espaço a sofismas, no futebol não há cronometragens individuais que nos salvem de comparações igualmente incomparáveis. Eusébio e Ronaldo, Pelé e Messi, Brasil de 82 e Barcelona de Guardiola, estes ou qualquer outro emparelhamento anacrónico, só fará algum sentido numa perspectiva relativa.

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