Duas vitórias, com sinais idênticos - Poderá fazer sentido, parece-me, agrupar os dois últimos jogos da equipa. Primeiro o Gil Vicente, depois o Áustria de Viena. Nos dois casos, o resultado faz esquecer alguns problemas que a equipa sentiu, e que provavelmente não eram muito esperados, sobretudo reflectidos na dificuldade em criar situações claras de golo e, ainda que mais pontualmente, em problemas de controlo defensivo. Há também que fazer alguma justiça, e traçar as diferenças entre estes dois casos, porque em Viena as dificuldades foram mais pronunciadas, e ao contrário do que sucedeu na recepção ao Gil, não tiveram de esperar pelo conforto do marcador para fazer a sua aparição. São, enfim, sinais para continuar a acompanhar, até porque se seguem alguns embates de maior exigência do que aqueles que já ficaram para trás.
Dificuldades no último terço - O Áustria apareceu estruturado em 4-1-4-1, a servir de esqueleto para um estratégia muito prudente em termos de exposição espacial. De ínicio ainda pareceu que os seus médios pudessem ser atraídos pelo baixar do duplo-pivot (já agora, este terá sido o jogo em que o comportamento dos dois médios foi mais assimétrico), abrindo espaço nas suas costas e isolando o elemento mais defensivo do meio campo austríaco. Mas isso acabou por não se confirmar também, parece-me, porque o Porto não teve paciência suficiente para o potenciar. Há, no entanto, muito mérito alheio nas dificuldades que o Porto sentiu em entrar no último reduto contrário, porque o posicionamento do Áustria foi sempre muito eficaz, conseguindo ajustar repetidamente a sua linha média de forma a manter uma boa presença numérica na zona da bola e nunca expor a sua linha defensiva. Ainda dentro deste problema, e no que respeita a culpas próprias, destacaria 2 pontos: 1) o critério em posse, talvez faltando alguma paciência para circular ainda mais e criar condições antes de entrar no bloco contrário; 2) a incapacidade que a generalidade dos jogadores criativos teve em encontrar soluções para o problema que lhes foi colocado, salvando-se Lucho e as suas habituais movimentações dentro do bloco adversário.
Dificuldades de controlo defensivo - Se o comportamento defensivo do Áustria justifica ser elogiado, também me parece interessante o outro lado da sua estratégia. Particularmente, a forma como abriu os extremos em profundidade, fixando os laterais portistas e impedindo-os de intervir mais por dentro. Ainda que não me pareça a única, esta poderá ser uma explicação para a dificuldade de intervenção do duplo pivot, mais isolado por este condicionamento dos laterais. Com alguma frequência o Áustria conseguiu sair de zonas de pressão, encontrando depois espaço para enfrentar a linha defensiva em condições de algum potencial. Aqui, não pode deixar de ser creditado algum mérito aos jogadores austríacos, mas é também bom sublinhar que problemas semelhantes haviam já emergido na segunda parte da recepção ao Gil Vicente.
Posse, Posse, Posse - Ao ouvir alguns comentários, parece há algum cansaço relativamente ao jogo pausado e algo repetitivo do Porto. O certo é que esta capacidade de ter bola e promover uma circulação baixa por períodos prolongados não é só uma opção, mas é também uma força. Nem é fácil de contrariar e nem, tão pouco, é fácil encontrar muitos casos com que se possa estabelecer paralelo qualitativo. O grande desafio do Porto vem depois, na capacidade que a equipa terá para melhorar a sua consequência no último terço, mas isso não deverá nunca passar por um retrocesso nesta capacidade de ter e valorizar a posse de bola.
Os suplentes - De facto, parece-me que boa parte das dificuldades que o Porto sentiu no jogo derivam de algum défice de critério em posse, quer porque a densidade do bloco austríaco aconselharia um pouco mais de paciência antes de entrar, quer porque as precipitações em posse seriam sempre a origem do outro lado da estratégia adversária: a transição. Aqui, as substituições produziram um efeito positivo e muito visível no jogo portista. Izmailov, pela enorme diferença que marcou relativamente a Licá. Herrera, porque trouxe outra capacidade de movimentação àquela zona (um atributo que já havia revelado na pré época, sendo claramente o jogador que mais se aproxima de Defour neste aspecto). Com a entrada destes dois, o Porto como que agarrou na bola e não mais a largou. Já sobre a entrada de Quintero, tenho alguma dificuldade em compreender, porque é um jogador com características exactamente opostas ao que o jogo pedia: mais risco em posse e menor intensidade defensiva.