Jogada 1 - O golo do Arsenal, decisivo no duelo londrino do passado fim de semana. A jogada começa com uma fragilidade do próprio Arsenal, facilmente exposto no espaço entrelinhas, pela troca posicional entre o médio (Dembele) e o extremo (Chadli). O primeiro problema para o Tottenham vem precisamente da decisão na acção ofensiva, com Chadli a transformar a situação de vantagem numa intervenção relativamente fácil para a linha defensiva, e que dá ínicio à transição. Depois, e apesar de não estar muito bem posicionado, o Tottenham consegue uma boa reacção à perda, retardando sucessivamente a progressão e conseguindo recompor-se numericamente. O problema surge depois, na organização defensiva. Com Rosicky em posse, Rose e Capoue saem simultaneamente em contenção, abrindo mais espaço nas suas costas. Mais ao centro, há duas decisões diferentes, com Dawson a tentar controlar a profundidade enquanto Vertonghen se posiciona para tirar partido do fora de jogo. Como se não bastasse esta dessincronização, Dawson vai ainda perder o controlo sobre Giroud, afinal o motivo pelo qual ele não terá ficado alinhado com a restante linha defensiva.
A julgar por este e outros lances do jogo, Villas Boas terá bastante mais com que se preocupar, para além da ausência de Bale. Nomeadamente, o critério de decisão com bola em várias circunstâncias e, sobretudo, a organização defensiva.
Jogada 2 - A primeira nota no lance, vai para o movimento de Rosicky, percorrendo uma grande distância para vir assumir o jogo em posse. Isto ilustra alguma anarquia da linha média do Arsenal, onde várias unidades têm uma enorme tentação de baixar para assumir o jogo. Depois, e para além da distância entre sectores do Tottenham, há ainda que notar a presença interior de um dos extremos dos 'gunners', no caso Walcott. Esta foi uma situação repetida, que criou vários problemas à linha defensiva contrária e que potenciou o espaço várias vezes disponível nas costas dos médios do Tottenham.
Será interessante acompanhar como o Arsenal irá incorporar Ozil, dada alguma redundância nas características das suas soluções. Talvez Ozil consiga oferecer maior movimentação em zonas mais adiantadas e menos necessidade de intervir numa fase mais precoce do jogo ofensivo. Mas esse é só um dos problemas de Wenger...
Jogada 3 - A nota, aqui, vai para Giroud, que fez um jogo tremendo, para além do golo que marcou. Sobretudo neste tipo de jogadas, respondendo ao pontapé longo do seu guarda redes, onde ganhou inúmeros duelos, permitindo qua a sua equipa se instalasse imediatamente no meio campo adversário. É uma situação que tenho feito menção no comentário a outros jogos, e que me parece muito importante para o sucesso de certos planos de jogo.
Jogada 4 - O destaque para o Atlético de Madrid, também porque será adversário do Porto, mas sobretudo pelo rendimento extraordinário que a equipa tem tido com Simeone, aproximando-se inclusivamente de Barcelona e Real, o que era até há pouco tempo impensável. Curiosamente, vejo na "fórmula Simeone" algo muito parecido com aquilo que fez Paulo Fonseca no Paços, alicerçando o seu modelo num grande desempenho defensivo, havendo grande enfoque no papel do "duplo-pivot". Sem ir a mais detalhes, destacaria o respeito que o Atlético denota pelos espaços fundamentais do jogo, dando prioridade ao controlo da zona entrelinhas e ao equilíbrio na sua última linha.
Relativamente ao golo que seleccionei, em evidência o papel de Villa, aberto nas costas do lateral, num posicionamento que permite ao Atlético fixar os 4 jogadores da última linha contrária e criar espaço interior para o extremo. Tudo isto é característico e não circunstancial. Outra nota para o facto do Atlético envolver apenas 4 unidades, o que sucede também no lance do segundo golo, conservando um enorme equilíbrio da equipa para o caso de perda. A ideia ofensiva do Atlético parece ser fazer mais com menos...
Jogada 5 - Em sentido contrário do Atlético, temos o caso do Valência. A sua postura frente ao Barça foi muito pressionante, tentando condicionar a construção catalã em praticamente todo o campo, e com toda a equipa. Pontualmente, isto implicou algum espaço que o Barcelona pôde aproveitar, como foi o caso do terceiro golo. Nessa situação, é visível a abertura posicional da equipa, com os elementos do "duplo-pivot" posicionados em paralelo e distantes da linha defensiva. A consequência é o espaço entrelinhas, que Fabregas aproveita e, depois, a incapacidade de qualquer dos dois médios do Valência para controlar o movimento vertical de Messi, que antecede a finalização. Nota também para a exposição da zona central da defesa do Valência, motivada pela atracção de Ricardo Costa para a presença interior de Pedro, no inicio do lance. Neste ponto específico há uma dupla atenção dada ao extremo do Barça, com um dos médios preocupados com a linha de passe enquanto a bola está em Messi.
Do lado do Barça, haverá muita coisa que não é hoje tão minuciosamente trabalhada como num passado recente, mas a qualidade individual da equipa continua a não ter paralelo no planeta. Ou pelo menos, é essa a minha opinião...