5.9.13

Siqueira, Piris, Vitor, Bale e Ozil

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Siqueira (Benfica) - Surpreende-me a frequência com que surgem opiniões convictas sobre jogadores provenientes das mais diversas paragens. Só este ano, e sem fazer uma procura específica, já me cruzei com projecções sobre reforços vindos da liga sérvia, segunda divisão do Brasil, liga norte americana, liga mexicana ou mesmo da popular liga argelina. Projecções que por vezes mais parecem sentenças, tal a firmeza com que são proferidas. Enfim, pessoalmente tenho de confessar a minha incapacidade de formar tantas opiniões sobre tantos jogadores, simplesmente porque para o fazer necessito de ver um número considerável de jogos, e com uma atenção específica, o que me leva bastante tempo. Também sobre Siqueira não tenho qualquer opinião convicta. Vi jogos do Granada, claro, mas confesso que não estive propriamente atento às características de Siqueira. Ainda assim, vindo da liga espanhola, há sempre a expectativa de que seja um jogador com maior facilidade de integração colectiva do que, por exemplo, Cortez.
Sobre Cortez, já referi a minha estranheza em relação à aposta feita pelo Benfica, mas também me parece que a questão do defesa esquerdo está a entrar num patamar algo psicótico. Ou seja, Cortez tem dificuldades no posicionamento defensivo, mas isso é algo que pode perfeitamente ser corrigido com o tempo. Também ofensivamente, não tem o perfil ideal, a meu ver, para o futebol do Benfica, porque é muito mais um jogador de progressão individual com bola, do que alguém que possa dar outra qualidade ao envolvimento colectivo ao longo do corredor. Mas não é por causa de Cortez que o Benfica perdeu 5 pontos no campeonato! Aliás, se reflectirmos o foco para o lado oposto, encontramos em Maxi um inicio de época bem mais desastroso, e nem o uruguaio é crucificado por isso, nem o Benfica surgiu desesperadamente à procura de alternativa no último dia do mercado. Voltando a Siqueira, parece claro que faltava concorrência no lugar, agora se vai ou não ser melhor do que Cortez, isso é matéria a que me reservo para mais tarde...

Ivan Piris e Vitor (Sporting) - São dois casos distintos, mas ambos algo inesperados. O caso de Ivan Piris, parece-me sobretudo uma oportunidade de ocasião. O Sporting apostou em Cedric no inicio de época, e fez chegar uma alternativa (Welder), que embora não tenha dado grandes sinais, também teve pouco tempo para o fazer. Nem Cedric estava a fazer um mau arranque, nem a questão da alternativa aparenta ter sido um problema, num clube com soluções na equipa B e sem competições europeias para disputar. Seja como for, Piris poderá ser uma opção com outra projecção ofensiva, talvez conseguindo oferecer ao corredor direito aquilo que Jefferson tem dado ao esquerdo. Essa será a esperança de Jardim, aguardemos pela confirmação.
O caso de Vitor parece-me mais lógico. A posição em que actua André Martins não tem exactamente uma alternativa directa (na equipa A), e a solução utilizada até aqui foi a passagem de Wilson para esse lugar, com Magrão a entrar como médio esquerdo. Mas, esta é uma solução com outra especificidade, e que foge ao perfil que Jardim resolveu dar à posição a partir do momento em que fez entrar André Martins. Vitor vem preencher esse espaço, tendo actuado em funções muito idênticas no Paços. É um jogador com qualidades óbvias, mas precisará de um impacto forte para roubar o lugar a André Martins, até porque na dúvida a tendência será sempre para apostar no elemento mais novo.

Bale (Real Madrid) - É impossível falar da transferência de Bale, sem falar dos milhões envolvidos. Em relação ao que escrevia ontem, sobre a inflação desproporcionada das verbas de transferências, devo dizer que o caso destas transferências de valores pornográficos podem até, por paradoxal que pareça, fazer mais sentido. Por exemplo, no caso de Ronaldo, para o Real Madrid só havia essa hipótese. Messi era impossível, e o Real não podia ir buscar outro jogador em alternativa a Ronaldo, porque em termos qualitativos essa hipótese simplesmente não existia. Numa perspectiva de oferta vs procura, se só existe um, é normal que o seu valor seja absurdamente elevado. A questão que surge, portanto, é se Bale é uma dessas aves raras, como Messi ou Ronaldo. Provavelmente não será, ainda que seja seguramente um enorme jogador. A questão sobre a mais valia que Bale vai trazer terá sempre de ser colocada de uma forma relativa, comparando com o que Ozil oferecia à equipa, porque é nessa diferença que o Real investiu. Com Bale haverá outra característica, mais potência, mais explosão, mas será que vai acrescentar assim tantos golos e assistências, comparativamente a Ozil? Não será fácil...
Importa também explorar o outro lado da transferência, o Tottenham. Aqui, parece-me mais provável que Villas Boas venha a lamentar esta transferência. Os Spurs compraram uma palete de jogadores com o dinheiro de Bale, muitos deles de bom nível, mas o ponto aqui é que no lugar de Bale só vai jogar um. E todos vimos o número de vezes em que foi o galês a valer pela equipa, no ano anterior. É precisamente por ser praticamente impossível render Bale, que ele terá sido tão caro. Para já, e pelo que mostrou frente ao Arsenal, Villas Boas tem vários problemas por resolver, desde logo em termos organizacionais, mas também nalguma falta de critério na posse e no último terço ofensivo. O meu prognóstico, tendo em conta esse jogo, não é muito favorável.

Ozil (Arsenal) - Mourinho diz que é o melhor 10 do mundo, e embora não tenha dúvidas relativamente a segundas intenções nas suas declarações, ela não me parece exagerada. Ozil teve um rendimento excepcional em toda a sua carreira, quer no Bremen, quer em Madrid, e é muito improvável que não o leve também na bagagem até Londres. Quanto à mais valia individual, não há dúvida, resta saber até que ponto ela será suficiente para fazer regressar o Arsenal aos níveis de há uma década atrás. E aí, eu já tenho mais reservas. Aliás, o Arsenal parece uma equipa inundada de médios criativos, o que lhe oferece qualidade, sem dúvida, mas que lhe retira também alguma ordem colectiva. Frente ao Tottenham, por exemplo, a equipa nem sempre defendeu da forma mais organizada, negligenciando o espaço entrelinhas e reorganizando-se defensivamente com pouca naturalidade, nomeadamente nos corredores laterais, tal a propensão dos médios para integrar zonas centrais do terreno.

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