24.9.13

Porto: bem mais do que um tropeção

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O verdadeiro feito do Estoril - A primeira nota sobre o jogo tem forçosamente de ir para o Estoril. Porque uma coisa é ser o primeiro a não perder com o Porto 13/14, outra é consegui-lo com uma estratégia que tanto serviria para defrontar o Porto como outra equipa qualquer. E isso, tendo em conta o contexto das duas equipas, é extraordinário. Praticamente todos os indicadores estatísticos do jogo saíram fora daquilo que seria esperado, desde o número de ocasiões claras de golo às dificuldades de intervenção defensiva dos médios portistas, mas nenhum dado me merece tanto espanto como o número de passes que a equipa conseguiu. Ou melhor, que não conseguiu. Em todos os jogos até agora, incluindo os da pré época, o Porto conseguiu sempre impor o seu domínio através da circulação baixa, o que tem uma implicação directa no elevado número de passes completados (perto dos 500) e numa elevada % de acerto em posse (acima dos 80%). Pois bem, contra todas as expectativas, foi o Estoril a primeira equipa a vulgarizar estes indicadores, o que equivale a dizer que a equipa de Marco Silva não foi apenas a primeira a roubar pontos ao Porto, mas também aquela que primeiro conseguiu neutralizar o ponto mais marcante da equipa portista, a sua circulação baixa.

Dificuldades dos médios - A principal consequência do sucesso da abordagem estratégica estorilista vai para a enorme exposição das linhas defensivas, quer de um lado, quer do outro. Do lado do Estoril, porque esse é um risco que faz parte da sua ideia de jogo, acabando por ser por aí que a equipa foi sempre exposta, com passes a surgir nas costas dos seus defensores. Do lado do Porto, porque os médios tiveram um jogo invulgarmente pouco participativo, não só perdendo a habitual envolvência em posse, como também sentindo muitas dificuldades para filtrar o jogo na sua zona. O Estoril conseguiu frequentemente ficar com as segundas bolas (uma parte importante na explicação das dificuldades que conseguiu criar), mas mesmo quando saiu de forma mais apoiada, nunca os médios portistas tiveram capacidade de filtrar o jogo, o que se reflecte num número invulgarmente baixo de intervenções defensivas, quer de Fernando, quer de Defour.

Insensibilidade dos treinadores - Esta dificuldade de protecção de ambas as linhas defensivas tinha como consequência óbvia o risco e a volatilidade do resultado, algo que se tornou mais claro na segunda parte do jogo. Primeiro Marco Silva e depois Paulo Fonseca tiveram a oportunidade de pelo menos tentar controlar mais o jogo, de acordo com os respectivos objectivos, mas tanto um como outro revelaram-se insensíveis ao problema. No caso de Marco Silva, talvez fosse aconselhável tê-lo feito antes do segundo golo portista. No caso de Paulo Fonseca, sê-lo-ia seguramente, assim que a sua equipa se colocou em vantagem. Nenhum o fez, restando saber se, num caso e noutro, esta insensibilidade foi, ou não, consciente.

O problema dos extremos - É, na minha leitura, um problema anunciado no Porto. A equipa parece hoje ter duas formas dominantes de se aproximar do golo: as aparições de Lucho entrelinhas e os lances de bola parada. Não quer isto dizer que não existam outras vias, mas antes que estas não surgem com a fluidez desejável numa equipa como o Porto. E aqui, claro, sobressai o problema dos corredores laterais, onde a produtividade dos extremos tem sido bastante reduzida, quando comparada quer com outros jogadores da equipa, quer mesmo com extremos de Benfica e Sporting. É um problema que, a meu ver, resulta em parte da incapacidade de substituir unidades como Hulk e James, nos últimos dois anos, mas também da incapacidade colectiva de potenciar movimentos colectivos, que pudessem ajudar a contornar essa lacuna. Quer Varela, quer Licá têm tido uma boa presença em zona de finalização, mas no que respeita a criar oportunidades, os dois juntos conseguiram a presença em apenas 4 lances desde o inicio da época. Ou seja, em média o Porto precisou de cerca de 150 minutos até que 1 oportunidade fosse criada por qualquer dos seus extremos. Mesmo ignorando outros pontos, onde o seu envolvimento no jogo me parece bastante criticável (sobretudo de Licá), é muito pouco e provavelmente insuficiente.

Otamendi, Lucho e Jackson - Destaque para estes três jogadores, os grandes pilares do jogo portista no momento actual. Os dados de Otamendi no jogo são impressionantes, com um volume de participação no jogo que está completamente desfasado com os restantes companheiros. Um indicador que mostra de forma clara como o argentino é cada vez mais a grande referência para a construção baixa da equipa. Lucho e Jackson, porque são, neste momento e de forma bastante nitida, os jogadores que conseguem resolver os problemas ofensivos que a equipa vem sentindo. Paradoxalmente, é interessante que o primeiro tenha sido dos poucos a ser preterido no onze, e que o segundo tenha sido praticamente o único a receber reparos públicos por parte do treinador. Não tendo sido ironias, só podem ser classificados como disparates.

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