27.5.11

Final da Champions: O derradeiro(?) desafio de Ferguson

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É curiosa a relação de Alex Ferguson com Barcelona. Não foram muitos os duelos - aliás, foram estranhamente poucos nos últimos anos, dada a performance europeia dos dois emblemas - nem, tão pouco, o treinador escocês se pode gabar de não ter passado por dissabores (as dores de cabeça que Romário deu em 1994!). Mas, sem dúvida, poucas palavras terão suscitado tão boas memórias como "Barcelona", durante muito tempo. Foi frente aos catalães que Ferguson conquistou o seu primeiro troféu europeu pelo United (1991), e foi em Camp Nau que ganhou a sensacional final de 1999. Mas "Barcelona" deve, hoje, soar de forma diferente nos ouvidos de Ferguson...

Tudo parecia correr de feição em 2008. Antes de vencer o Chelsea em Moscovo, teve de se deparar com o Barcelona de Xavi, Messi e Henry. Era uma equipa difícil de conter pela qualidade e capacidade que tinha para se impor pela posse, mas Ferguson passou bem pelo teste. Controlou sempre o adversário, quer em Camp Nau, quer em Manchester, manteve, sem grande surpresa, as suas redes invioláveis e esperou pelo momento certo para capitalizar um erro que o adversário haveria de cometer em posse. Foi Scholes, em Manchester, mas até já podia ter sido Ronaldo em Barcelona. O que ficou, para lá do bilhete para a final, foi a sensação de que o Barcelona, sendo difícil, estava longe de ser insuperável ou, sequer, merecedor de figurar entre os desafios mais complicados da carreira do escocês.


Um ano mais tarde, porém, tudo mudou. Em Maio de 2009, já ninguém se surpreendia com o poderio do novo Barça de Guardiola. Porém, uma coisa é ver, outra coisa será sentir. Poderia ser tão diferente, de um ano para o outro, e sem grandes novidades no elenco, aquela equipa que havia sido tão seguramente controlada apenas 1 ano antes? A resposta dada pela final de Roma foi um gigantesco "sim". O Barcelona não ganhou apenas a final, mas dominou-a por completo. O United começou por não conseguir defender, e, quando tentou reagir tacticamente, não só se viu neutralizado ofensivamente, como exposto na rectaguarda. A boa notícia para Ferguson, no final desse embate, foi que aquele Barcelona seria apenas um problema hipotético no futuro. Pois bem, dois anos volvidos, ele aí está de novo...

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Ter bola ou atacar, não é uma mera questão de vontade. É preciso conseguir fazê-lo e isso, frente ao Barcelona, será para além de difícil. Ou seja, e voltando a discordar por completo de algumas teorias avançadas aquando dos duelos entre Barça e Real, não há outra alternativa, para quem quer vencer o Barça, se não começar a pensar a estratégia pelo que se vai fazer sem bola. Afinal, é sem bola que se vai passar a maior parte do tempo, quer se queira, ou não.

Não é a primeira vez que o escrevo e, como continuo a acreditar na ideia, volto a repeti-la. É fundamental - senão decisivo - ter a capacidade para manter a posse do Barça longe da sua área. Se o Barça for capaz de ter bola junto da área contrária, torna-se uma tarefa hérculea sobreviver a 90 minutos de jogo. Não só pela qualidade que tem nas suas soluções e movimentações no último terço, mas, talvez até mais, por aquilo que o Barça faz depois de perder a bola. A sua reacção, sendo no meio campo contrário, é de tal forma forte que normalmente o momento de transição do adversário se torna numa ameaça maior para o próprio (pelo o instinto de "abrir" posições), do que para o Barcelona. Foi assim, por exemplo, no "massacre" frente ao Arsenal.

Um dos grandes problemas de Ferguson para este duelo pode ter a ver com a sua pouca propensão para subir a linha defensiva. Ou seja, se quiser defender alto e não arriscar na exposição que oferece nas costas, abrirá a zona entre linhas, onde cada palmo de terreno é capitalizado por Messi, Xavi e Iniesta. Se, por outro lado, se quiser manter compacto, poderá ter de fazê-lo em zonas demasiado baixas, submetendo-se à situação que especifiquei anteriormente.

O que vai fazer Ferguson? Honestamente, não sei, nem tão pouco desejo adivinhar. Mas há duas notas que quero deixar no final desta antevisão:

1) Não há treinador no mundo, e provavelmente na História do jogo, que mereça mais crédito do que Ferguson. Nascer na Escócia no inicio dos anos 40 e ser hoje um treinador no topo da pirâmide do futebol europeu é um feito absolutamente impensável. Para chegar onde chegou, Ferguson teve de se "dobrar" muitas vezes. Teve de superar o problema interno do United, ainda nos anos 80. Teve de superar a cratera filosófica e qualitativa que se abriu entre o "kick 'n rush" britânico e o "Continenental football", nos anos 90. Teve de superar a ascensão do meteórico Chelsea de Mourinho, ou mesmo o "fancy football" de Wenger, na primeira década deste milénio. Todos estes foram desafios dados antecipadamente como perdidos, que todos perderam, mas que ele venceu. Ele e só ele. Ninguém é eterno, nem infalível, mas há que ter respeito por quem, ao longo destes anos, foi sempre capaz de ter a humildade e inteligência para não ficar preso a dogmas, reconhecer as suas limitações e, assim, superá-las. Como a História testemunha... é perigoso substimá-lo.

2) O Barcelona é, a meu ver, amplamente favorito. A verdade, porém, é que o futebol não se compadece com quem facilita. Não há lugar a notas artísticas ou a aplausos antecipados. Ganha-se apenas no final dos jogos e a vitória mede-se por critérios absolutamente objectivos. O principal trabalho de Guardiola, agora e no futuro, passa pela sua capacidade de gerir a "temperatura" motivacional dos seus jogadores, porque não basta ser-se bom e ter-se um grande modelo, é preciso interpretá-lo nos limites, outra e outra vez. Guardiola tem-no feito muito bem e é pouco provável que o problema surja agora, mas é também bom de lembrar que a natureza humana aponta precisamente para que a percepção de sucesso redunde em facilitismo na etapa imediatamente seguinte. Ou seja, esta é uma ameaça está e estará sempre presente...

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