4.8.10

Benfica: o balanço da pré época

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Foi uma boa pré época para o Benfica. Permitiu analisar novas soluções e ganhar confiança, com bons resultados e boas exibições. Se calhar, em certos casos demasiado bons, daí que perder o último jogo talvez tenha sido um bom “timing” para descer à terra. É que, apesar da qualidade que se lhe reconhece, este Benfica não é ainda tão forte como o da época anterior. Perdeu algumas unidades, ainda não recuperou outras e conta, ainda, com alguns elementos fundamentais que não estão ainda no seu máximo rendimento. A grande novidade, porém, é o 4-3-3 testado por Jesus. Algo que merece uma análise mais dedicada e que deixarei para os próximos dias. Para já, as notas da pré época.

Notas colectivas
Começando então pelo 4-3-3. Mudar para este sistema representa um elevar de patamar em termos de risco. O Benfica passa a jogar tudo no pressing e assume uma exposição na sua zona mais recuada como não conheço igual. Será que Jesus vai mesmo apostar nesta versão? Eu aposto que não, que a deixará para adversários mais fracos ou momentos de necessidade ofensiva nos jogos. Se o fizer, no entanto, Jesus arrisca-se a ser o treinador mais ousado do mundo em termos tácticos. Nos próximos dias tentarei explicar melhor o porquê.

De resto, o Benfica tem o seu modelo táctico definido e assimilado pela maioria, faltando-lhe perceber como e com quem poderá tirar melhor rendimento. É uma preocupação colectiva, sim, mas que depende muito dos intérpretes, e por isso passarei para a componente individual.

Notas individuais
Em primeiro lugar, referir que, entre os quadros que apresentei para os 3 grandes, o caso do Benfica é o mais interessante porque é aquele que tem mais tempo de análise. Ainda assim, importa também dizer que houve momentos muito diferentes dentro de cada um dos jogos e que, obviamente, há jogadores mais beneficiados do que outros em relação ao momento em que estiveram em campo. Vamos por partes.

Laterais: à esquerda, Coentrão confirmou, sem surpresa, o seu momento e que representa uma enorme mais valia para o modelo (então se for em 4-3-3, é indispensável). Em vários períodos, houve a troca com Peixoto, abrindo-se também aqui a dúvida sobre se poderá haver permuta entre os 2 em determinados momentos. Coentrão é seguramente o jogador mais explosivo do Benfica neste momento, mas sou da opinião que retirar-lhe metros no corredor é um desperdício.

À direita, Amorim tem uma fiabilidade que lhe é reconhecida e que os números não reflectem. Não reflectem simplesmente porque, em 5 jogos, Amorim cometeu 2 erros decisivos, com influência directa no marcador. Algo que não se perspectiva poder repetir-se. Ainda assim, continua-se à espera de Maxi.

Centrais: O espectáculo David Luiz continuou, desta vez com Sidnei ao lado. Mais uma vez reforço a qualidade individual e colectiva deste sector, destacando aquilo que o Benfica faz com a sua linha de fora de jogo, uma das mais perfeitas que conheço. É por isso que mexer na defesa com a saída de David Luiz seria um enorme risco. No tal 4-3-3 agora testado, então, a importância do recentemente convocado para a canarinha é ainda mais importante. Ao seu lado, Luisão deverá ter o lugar assegurado. Sidnei fez uma boa pré época, mas sem um nível e consistência que permita colocar em causa o estatuto de Luisão.

Pivot: Garcia perdeu o lugar. Quando perspectivei a contratação de Airton referi que inevitavelmente estaria à altura do espanhol dentro de algum tempo. Esse momento chegou e, nesta altura, é difícil encontrar algum parâmetro de avaliação onde o brasileiro fique a perder. Mais uma vez, se for em 4-3-3, a sua presença torna-se ainda mais importante. De qualquer modo, a diferença não é enorme e Jesus terá sempre 2 óptimas soluções para o lugar.

10: Aqui começam os problemas de Jesus. Aimar não vem demonstrando ainda o nível que o consagrou, para mim, como o jogador mais importante do modelo anterior. O seu rendimento é bom, mas não ao nível que nos habitou, tendo essa atenuante de ter jogado muito tempo num modelo diferente daquele em que estava habituado (no 4-3-3, a sua função altera-se quase radicalmente). Outro problema poderá ser a disponibilidade física do 10 ao longo da temporada. Sempre que estiver ausente, e jogar em 4-4-2, o Benfica perderá rendimento.

Alas: Outro problema. Saiu Di Maria e agora parece que também Ramires. São jogadores diferentes e a sua saída em comum marca um forte abalo no ADN do desempenho.

Di Maria, disse-o, tem em Gaitan um substituto natural (ao contrário do que se diz). O problema é que a pré época não correu bem ao novo 20, que ao contrário de outras estreias perdeu confiança neste arranque de temporada, em vez de a ganhar. Gaitan não esteve nos melhores momentos da equipa e perdeu a oportunidade que, por exemplo, Jara aproveitou de crescer com a confiança colectiva. Desistir dele será um grande erro, até porque ele poderá ser uma boa parte da solução.

Enquanto se espera um substituto para Ramires, a alternativa é Carlos Martins. Está a fazer um grande inicio de época – como é hábito – e tem em relação a Ramires a vantagem de ser bem mais participativo e criativo do que o brasileiro. Aliás, é como ala interior que Martins mais se destaca. Outra solução, ainda que não testada, é Ruben Amorim, que garantirá um rendimento ao nível de Ramires, excepto em transição. Aliás, Amorim, é mais forte em construção do que Ramires.

Ainda dentro das soluções, está Peixoto que fez um excelente inicio de época e que, como expliquei atrás, poderá funcionar em combinação com Coentrão sobre a esquerda.

Avançados: Não sou um grande fã do futebol de Cardozo. Acho que tem um pé esquerdo raro e uma boa qualidade técnica, mas não aprecio a sua intensidade no jogo, que é invariavelmente baixa. Ainda assim, perante o seu rendimento, não há discussões. Impressionante a qualidade das suas participações. Quase sempre que tocou na bola foi para fazer golo ou criar perigo.

De resto, outro problema em termos de rendimento é Saviola, a milhas do que fez no ano anterior. Pouco certo, pouco interventivo e, mesmo, pouco desequilibrador. De Saviola, no entanto, espera-se que melhore.

O grande destaque, e grande beneficiado com o 4-3-3 foi Jara. Avisei, ainda antes de o ver jogar no Benfica, para a sua intensidade e... ela aí está. Em 4-3-3 é fundamental uma enorme intensidade de todos e aí Jara não fica a perder para ninguém. Mostrou-se participativo e em crescendo de confiança. Não é, nem será a curto prazo, uma enorme mais valia, mas é uma solução útil e está na “pole position” para o 11, se a opção for o 4-3-3.



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