“(...)depois de aceitar tinha duas opções: ou optava pela atitude de bebé chorão e a arranjar desculpas, mas nunca foi essa nem nunca será a minha atitude, ou arregaçava as mangas e aceitava os desafios. Optei por esta segunda via(...)“
“Se eu de repente começar a falar noutra língua, talvez as pessoas sejam mais generosas. Talvez isso acontecesse se eu falasse espanhol, inglês ou português com sotaque… Mas nem todos os adeptos portugueses têm a memória curta daquilo que eu fiz pelo futebol português e daquilo que tenho feito ao longo da minha carreira.”
“O que não temos é o Mundial'2010 em Portugal. Se isso acontecesse, teríamos dois anos de preparação, iríamos fazer 17 ou 18 jogos amigáveis e estaríamos automaticamente apurados. Mas não é isso. Vou dar este dado: desde o dia que peguei na Selecção e até ao último dia de qualificação, a Selecção vai fazer menos jogos do que Portugal teve desde o primeiro dia até entrar no Euro'2004(...)”
Queiroz, in Ojogo
Não me quero alongar muito sobre o assunto. Primeiro porque não me revejo em qualquer parte duma divergência entre apoiantes de Scolari e Queiroz que parece ter dividido grande parte dos adeptos portugueses. Depois, porque já falei mais alongadamente sobre ele (aqui e aqui), inclusivamente quando primeiro surgiu, na primeira conferência de imprensa da era Queiroz.
Ainda assim torna-se impossível fugir a algumas palavras que o Seleccionador deixou na sua mais recente entrevista. Que Queiroz é quem menos beneficia com as recorrentes comparações com Scolari já todos percebemos. Como também já aqui escrevi, o actual Seleccionador tem muita responsabilidade na alimentação deste “fantasma”, já que foi ele o primeiro a falar do passado, mal chegou. Se já me parece pouco perspicaz não aprender com o sucesso dos outros, reduzindo-o a uma série de criticas mais ou menos directas aos métodos utilizados, esta insistência em comparações com o passado parece-me denotar uma falta de lucidez potencialmente perigosa.
O trabalho de Queiroz é conseguir resultados no presente e no futuro. O passado, quer o seu, quer o de Scolari, não lhe vai valer qualquer golo rumo ao apuramento e muito menos servirá de desculpa para qualquer falhanço. Talvez não se aperceba mas este discurso está precisamente a fazer Queiroz parecer o “bebe chorão” que não quer ser, arranjando desculpas não só para os seus insucessos mas também para o sucesso dos outros. Nas horas dificeis, mais do que nunca, é fundamental manter o controlo emocional que permita conservar a lucidez que é necessária para se ter sucesso. É precisamente por isso que, num líder, este discurso pode ser um pronuncio preocupante.