Merecido – A emoção e incidências do final de jogo acabaram por fazer com que se esquecesse grande parte do jogo, mas a verdade é que se fizermos as contas à totalidade da partida, temos de realçar uma exibição globalmente fraca do Benfica que acaba por não justificar a totalidade dos pontos. Aliás, se no assédio final o Benfica poderia facilmente ter arrancado o golo que lhe daria essa vitória, o Nacional justificara claramente um golo pelas ocasiões verdadeiramente clamorosas que construiu no primeiro quarto de hora da segunda parte. Recordo-me de referir que se o Benfica repetisse exibições como aquela que lhe valeu os 3 pontos frente à Naval se arriscaria a perder várias vezes pontos em casa. O tempo passou e muitos dos problemas desse e de outros jogos arrastaram-se também até hoje. A única coisa que me parece desacertada é o facto desta partida não ter tido golos, porque os justificava para os 2 lados.
Nacional –O Nacional tem muito das virtudes que fazem do Leixões uma sensação (aliás, não está muito distante pontualmente). Essencialmente pode-se falar de qualidade individual e, sobretudo, dessa qualidade fundamental que é perceber a capacidade de definir e interpretar um estratégia realista e de acordo com as aspirações da equipa no jogo. Digamos, que, mais do que organizada, é uma equipa com ordem. De resto, um bloco baixo com muitas referências individuais na marcação foi suficiente para neutralizar o Benfica em grande parte do tempo e, depois, uma posse de bola que tirou partido da boa técnica dos seus jogadores e que acabou por, em vários lances, aproveitar as lacunas defensivas do adversário. Será uma grande oposição também para Porto e Sporting na abertura do ano.
Problemas – Já falei tantas vezes do problema do espaço entre linhas que penso ser desnecessário voltar a detalhes sobre o mesmo, numa noite em que, mais uma vez, o problema se manifestou. O jogo com o Nacional, ou melhor grande parte dele, denotou outras lacunas. A equipa tem dificuldade em encontrar soluções ofensivas e quando os adversários percebem como impedir as principais individualidades de fazer a diferença, o Benfica parece bloquear colectivamente. Primeiro, faltou Reyes, o jogador que, como já havia referido, parece ser a principal solução para ligar o jogo do Benfica, num recurso à valia individual para tentar colmatar as dificuldades colectivas. Depois destaco também o equivoco de colocar Cardozo com Suazo. Cardozo é um jogador de perfil totalmente desajustado a este modelo, ainda que tenha qualidades verdadeiramente invulgares e que podem decidir a qualquer momento. Ao colocar-se o paraguaio ao lado de Suazo está-se a obrigar a que seja o hondurenho a procurar apoios recuados, já que Cardozo tem muito pouca mobilidade. Assim, Suazo vem para a “floresta” do miolo, sendo totalmente incapaz de aplicar a sua capacidade de explosão.
Tem-se falado na falta de um jogador com mais cultura de posse para o meio campo. É um hábito (não só neste caso) recorrente ouvirmos abordar problemas colectivos com referências a individualidades. Se é óbvio que a qualidade individual pode, no limite, resolver quase tudo, também me parece extremamente limitado essa abordagem na análise. Sobretudo neste caso.
Balanço – Não é um balanço exaustivo, mas apenas uma opinião sobre a evolução deste Benfica. Os problemas identificados na pré época não foram resolvidos e houve mais do que tempo para o fazer. A equipa lidera o campeonato e, na minha opinião, permanece um candidato claro ao título, dada a vantagem que tem e, sobretudo, a capacidade individual que possui. É, no entanto, claro que o Benfica não poderá manter o rendimento global (verificado em todas as competições) para poder pensar em lutar por esse objectivo até ao fim.