Aproveitar o método individual
Não é preciso sequer ver os jogos com muita atenção para perceber as dificuldades que o Marítimo para defender as bolas paradas contrárias. Em Alvalade a derrota começou a desenhar-se precisamente num lance desse tipo onde, para além da evidente falta de agressividade defensiva, se notou o trabalho colectivo do Sporting para tirar partido do método de marcação individual.
Com marcações individuais a serem movidas pelos jogadores do Marítimo, o Sporting cobrou o livre para o segundo poste, procurando um desvio que desfizesse esses emparelhamentos. Para o fazer houve ainda um outro pormenor trabalhado. Todos os jogadores se afastam do segundo poste, colocando-se em posição para abordar uma segunda bola e permitindo que se criasse uma situação de 1x1 com Polga como protagonista. O resultado, no caso, não podia ser melhor.
Sobre esta questão dos métodos defensivos nas bolas paradas, já tenho defendido que, nos cantos, a opção deve ser sobretudo dependente do perfil da equipa. Já nos livres defensivos tenho uma visão mais radical. Creio que a zona será o método mais aconselhado por um motivo muito simples: muitos livres defensivos são feitos com a definição de uma linha de fora de jogo. É um contra senso e uma vantagem para quem ataca se os defensores estiverem simultaneamente concentrados em marcar um opositor e controlar a linha do fora de jogo.
Veloso na Lua
Já com um resultado duplamente favorável ao Sporting, o Marítimo usufruiu da sua melhor ocasião, num lance que surge pouco depois de uma bola parada na área contrária e favorável ao Sporting. Este facto fez com que a defesa leonina partisse de um posicionamento diferente do que é comum para a abordagem do lance. Particularmente, Polga disputa uma bola numa zona mais adiantada, mantendo-se fora da sua posição. Neste tipo de situações é fundamental que o lateral feche no espaço interior, independentemente da presença ou não de um jogador naquela zona. Esse é o grande erro no lance, com Veloso completamente desconcentrado perante as suas responsabilidades tácticas, mantendo-se preso a uma marcação individual que não faz qualquer sentido, até, pelo facto da bola estar a ser disputada do outro lado do campo.
Num outro plano, há um aspecto que também sobressai e que ontem aqui abordei. Perante uma solicitação directa, Carriço não se conseguiu impor apesar de abordar de frente o lance. Os duelos mais físicos são claramente o ponto onde o jovem central precisa de melhorar para se tornar num fora de série na sua posição.
As pequenas conquistas de Reyes
São 6 lances que têm, para além do intérprete, muito em comum. Todos eles se passam no meio campo ofensivo e quase todos resultaram em livres cobrados para a área de Beto – dois deles dão origem nas melhores ocasiões encarnadas no jogo. O mais importante, no entanto, é perceber que todas as faltas “arrancadas” são conseguidas com a defesa contrária perfeitamente organizada e na sequência de lances que não ameaçavam qualquer perigo (excepto, talvez, o último). Ou seja, as faltas são uma vantagem para quem as sofre e não beneficiam em nada quem as comete.
É apenas uma das “artes” de Reyes que muito inteligentemente convida os adversários ao desarme provocando muitas faltas que resultam em livres que, em muitos casos, permitem colocar a bola na área contrária. Normalmente a bola nos pés do espanhol tem sempre bom destino, nem sempre é vistoso, nem sempre aparecem nos resumos, mas quase sempre adiantam algo para a jogada em causa. Uma mais valia individual de excelência num campeonato como o Português.