4.4.08

Taça Uefa: Controlo de um Rangers "Continental"

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Começo por falar do Rangers. Nas ilhas britânicas fala-se há muito do confronto de estilos futebolísticos quando as suas equipas são deparadas com os desafios europeus. O denominado “estilo Continental” – termo que denota algum desconhecimento táctico, pondo tudo o que não o estilo britânico no mesmo saco – foi durante muito tempo visto como algo estranho e conceptualmente inferior, ainda que houvesse uma estranha incapacidade de o derrotar de forma sustentada. Esta ideia foi há muito desmistificada em Inglaterra, percebendo-se isso pela súbita importação de outros estilos para o futebol de topo em Inglaterra. Já na Escócia a ideologia tem-se mantido com o passar dos anos e invariavelmente assistimos aos 4-4-2 combativos, acompanhados pelo característico estilo directo das ilhas britânicas e com comportamentos muito em função dos contrastes emotivos trazidos pelos ambientes dentro ou fora dos seus estádios. Não tenho a certeza do porquê desta incapacidade em evoluir tacticamente, mas suspeito que o peso da rivalidade interna seja muitas vezes, e tal como por cá, bem superior a questões de afirmação nas competições europeias.

Pois bem, Walter Smith parece querer aproximar este Rangers um pouco mais do tal “estilo Continental”, introduzindo nuances tácticas sobretudo nos confrontos europeus, tal como aconteceu nesta recepção ao Sporting. Smith fez alinhar Darcheville sozinho na frente e colocou Ferguson um pouco mais adiantado em relação a uma linha de 4 que também não foi tão “linear” quanto é hábito, com os alas a aparecerem em espaços mais interiores e Hemdani a ter a preocupação de fechar o espaço entre linhas. Outros aspectos notórios foram, a menor tendência para recorrer ao jogo directo e a uma racionalização da pressão e do posicionamento do bloco que, não sendo baixo, não caiu na asneira de pressionar cegamente como muitas vezes acontece.
Do lado do Sporting a estrutura habitual e uma notória preocupação de controlar o adversário. O jogo começou assim mesmo, com o Sporting a controlar e mesmo a dominar o meio campo. Este domínio não demorou muito e cedo a posse de bola começou a denotar dificuldade em desprender-se da pressão escocesa. Alguma demora em tirar a bola das zonas de pressão fazia com que as linhas de passe se reduzissem e com que a necessidade de não correr riscos acabasse por forçar à realização de passes que, não sendo arriscados defensivamente, tinham poucas hipóteses de ter seguimento em termos ofensivos. O controlo do adversário, esse, manteve-se sempre, resultando num jogo onde rarearam as oportunidades. No segundo tempo o Sporting esteve um pouco melhor na gestão da sua posse de bola, tirando igualmente partido de algum adiantamento das linhas do Rangers, mas sendo mais capaz de sair das zonas de pressão e explorar os espaços criados pelo bloco escocês. Esta capacidade impediu o Rangers de arriscar mais e instalar-se junto da área do Sporting e o melhor elogio à capacidade de controlo do Sporting esteve no facto de Gladstone – nitidamente preparado para ser um recurso nos minutos finais, em caso de assédio do Rangers – não ter sido utilizado.
No final uma exibição que confirma o crescimento da equipa num jogo objectivamente difícil. O 0-0 é um resultado positivo, particularmente se considerarmos o factor casa um ponto forte deste Rangers. É, no entanto, em termos europeus bem menos favorável do que em décadas anteriores onde o factor casa era bem mais determinante. Última nota para referir que o crescimento da equipa terá novo teste sério pela frequência dos jogos que se avizinham. Não haverá, mais uma vez, a possibilidade de fazer do normal microciclo de treino a preparação ideal para cada jogo e esse tem sido um problema para Paulo Bento desde a sua chegada ao Sporting.


Vídeos dos outros jogos:
Leverkusen 1-4 Zenit
Fiorentina 1-1 PSV
Bayern Munique 1-1 Getafe

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