O que se viu nos primeiros 45 minutos foi um jogo fechado de parte a parte, com ambas as equipas intencionalmente a tentar jogar em transição, mas sem que nenhuma delas arriscasse o suficiente (quer na gestão da posse de bola, quer no posicionamento do pressing defensivo) para que isso pudesse acontecer. Mais surpreendente a opção da Roma,não só porque jogava em casa, mas porque esta Roma de Spalletti é uma formação eminentemente ofensiva e é a atacar que se sente melhor. O jogo prosseguiu sem ocasiões até que mais um passe para o espaço entre linhas foi abordado de forma diferente por Rooney, rodando e surpreendendo, criando um raro desequilíbrio que resultaria depois em mais um golo de Ronaldo.
Com 0-1 ao intervalo não se podia esperar outra coisa que não fosse uma Roma ofensiva no segundo tempo e, por outro lado, um United finalmente a poder actuar em transição. Os primeiros 20 minutos do segundo tempo não surpreenderam por isso e a Roma podia nesse período ter chegado ao empate nas 2-3 ocasiões criadas. Menos previsível foi a incapacidade do United em aproveitar o espaço existente. Ferguson alterou e introduziu Hargreaves no lugar de Anderson, definindo uma linha de 4 homens no meio campo que tinha como objectivo principal defender e libertar Rooney e Ronaldo para as transições. Mas foi por mais um golpe de eficácia que o jogo voltou a mudar. Quando o United tentava sacudir a pressão, chegou ao golo num erro de Doni que teve um efeito anímico enorme no jogo. Se até aí o United havia sido eficaz, a partir do 0-2 pode dizer-se que os Ingleses desperdiçaram uma boa oportunidade de sair de Roma como uma goleada na bagagem.
Importa mencionar dois aspectos sobre esta Roma: 1) É uma equipa fortissima em ataque continuado, primeiro porque ataca bem na forma como promove as constantes movimentações entre os seus jogadores e, depois, porque arrisca muito colocando muita gente nas acções ofensivas. 2) Totti foi uma ausência de muito peso para um jogo como este. Não só pelo que joga mas igualmente pelo peso psicológico que tem no Universo Romano.
Última nota para um comentário que ouvi na transmissão da partida e que classificava o Manchester United como uma equipa defensivamente frágil e que recorre com frequência ao passe longo... Só não cheguei a perceber a que temporada do United se referia esta análise. Ironias à parte, convém não confundir o jogo das meias finais do ano passado frente ao Milan (disputado num contexto totalmente favorável aos italianos, pela sobrecarga de jogos decisivos que o United teve nessa altura) com a qualidade que a equipa vem evidenciando de forma continuada na última centena de jogos.
Schalke 0-1 Barcelona
Frente ao habitual 4-3-3 de Rijkaard, o Schalke deu seguimento à estratégia utilizada no Dragão, apresentando um 4-4-2 com duas linhas de quatro elementos que esperavam pela iniciativa que o Barça inevitavelmente iria ter. O problema para os alemães foi a qualidade da posse de bola catalã na sua primeira fase de construção, com Iniesta e Xavi em plano de destaque pela certeza no passe que os caracteriza. Juntando a esta incapacidade germânica para perturbar a primeira fase ofensiva do Barça à incapacidade dos espanhóis em utilizar da melhor forma o seu tridente ofensivo, tivemos como resultado um jogo mastigado a meio campo e sem grandes desequilíbrios. A excepção foi mesmo aquele passe de Iniesta a encontrar o movimento de Henry nas costas de Rafinha, explorando a distância entre o lateral e o central. O Francês não marcou à primeira mas ainda foi a tempo de oferecer o único golo da partida a Bojan.
No segundo tempo, mais posse de bola e especulativa do Barça e mais incapacidade alemã para mudar muito o jogo. Ainda assim as coisas alteraram-se ligeiramente com o adiantamento das linhas germânicas nos últimos 20 minutos da partida, que conseguiram, nesse período, ser finalmente perturbadoras para a posse do adversário. O resultado foram algumas oportunidades que poderiam ter dado o empate ao Schalke, fruto da maior presença numérica de jogadores nas imediações da área do Barça e do poderio aéreo a que os alemães passaram a recorrer com mais frequência com o aproximar do final do jogo. No Barça saliente-se dois aspectos: 1) a equipa não recuou deliberadamente as suas linhas mesmo no final do jogo, mantendo uma pressão o mais alto possível e 2) triste ver uma equipa com tantos valores ser incapaz de se revelar mais perigosa ofensivamente e perante um adversário que teve de arriscar. Diz muito do momento do Barça.
Nota para as limitações reveladas pelo Schalke, sendo inevitável pensar que o Barça teria dificuldades bem maiores se tivesse de visitar o Dragão. Do lado do Barça, a passagem às meias finais está próxima e tudo se pode esperar desta equipa de enormes valores. Não posso, no entanto deixar de fazer um paralelo com o Barça que encantou a Europa de 2004 a 2006. Rijkaard mantém uma equipa que gosta de ter a bola e que a tenta recuperar o mais rapidamente possível. O problema no meu ponto de vista são as referências da primeira fase de construção da equipa. Quando Ronaldinho era o centro das operações a equipa tinha uma série de movimentos desequilibradores que surgiam assim que a bola entrava no brasileiro. Actualmente isso não acontece e o Barça parece passar a improvisar assim que ultrapassa a linha do meio campo.