26.4.08

Serão assim tão "apetecíveis"?

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A recente crise desportiva de Benfica e Sporting tem suscitado uma série de análises catastrofistas sobre os respectivos clubes. A “febre” provocada pelo mau campeonato dos dois emblemas é tanta que, nos últimos dias, tem havido gente com algum peso nos respectivos “universos” a mostrar-se favorável a uma mudança nos estatutos do clube de forma a permitir a entrada de accionistas capazes de, com investimento, dar outra força à vida desportiva dos clubes. Uma das expressões que normalmente acompanham esta análise é de que o “clube “X” é apetecível para investidores”... o que pergunto é: serão os clubes portugueses realmente “apetecíveis”?

Os motivos que justificam o adjectivo “apetecível” são, invariavelmente, o número de adeptos e a história dos clubes. Para ver a coerência destes argumentos, pergunto se acham que clubes como, por exemplo, Fenerbahce, Galatasaray, Olympiacos ou Steaua de Bucareste são igualmente “apetecíveis”? É que, estando igualmente na Europa, estes clubes têm pelo menos tantos adeptos como qualquer clube português, sendo clubes históricos nos respectivos países. Nestes casos haveria ainda a vantagem de serem clubes “compráveis” não se correndo o risco do trauma dos adeptos em relação à adaptação de ter um dono na sua equipa.

Mas vamos lá ver, objectivamente, a questão. A pergunta que nos temos de fazer é: que vantagens e desvantagens tem uma pessoa, ou empresa, em fazer um hipotético investimento num clube português?

Aspecto financeiro
Hoje, há vários exemplos de investidores que, por motivos estritamente capitalistas, estão interessados em clubes de futebol, por entenderem que estes podem gerar receitas futuras que rentabilizem os seus investimentos. O problema é que, invariavelmente, estes concentram atenções no futebol Inglês. Porquê? A resposta é simples: receitas televisivas. É este o verdadeiro atractivo do futebol para os investidores e, se em alguns países esta componente dos proveitos cresce anualmente e em bom ritmo, em Portugal isso não se passa.
Então, se qualquer clube da Premier League ou de meio da tabela em Espanha, Alemanha ou Itália consegue o mesmo nível de receitas que um “grande” português. Se a tendência, analisando os últimos anos, é para que o crescimento das receitas televisivas e de publicidade se dê sobretudo nestes países, então, por que motivo haveria um investidor considerar “apetecível”, em termos financeiros, um “grande” português em vez de um qualquer emblema destes países?

Aspecto desportivo
Todo este exercício pressupõe, como é evidente, uma cedência de poderes no futebol para os respectivos investidores. Agora, pense-se que condições pode esperar um potencial investidor para chegar ao sucesso desportivo quando, como se vê, a cada derrota se coloca em causa treinador, equipa e direcção. Quando se sabe que projectos de médio e longo prazo a nível desportivo estão condenados a ser colocados em causa a cada época em que não se consiga vencer, com os adeptos, estimulados pela imprensa, permanentemente a exigir que “rolem cabeças” como paga para as frustrações desportivas. Tendo em conta as diferenças culturais, por exemplo, em relação aos adeptos ingleses ou alemães, por que motivo haviam de ser os nossos “grandes” apetecíveis para quem tem projectos desportivos de médio/longo prazo?

Conclusão
A conclusão a que chego é que apenas um português (pela paixão por um clube) muito rico e disposto a perder dinheiro para se divertir no futebol poderia achar “apetecível” um investimento num clube português (qualquer que seja) e esse não será certamente um cenário bem visto por qualquer adepto desse clube.
O futebol e os clubes são hoje realidades bem diferentes do fim “não lucrativo” com que foram concebidos. O lucro e o sucesso desportivo confundem-se no futebol actual, pelo que maximizar o lucro significa, forçosamente, aumentar as possibilidades de sucesso desportivo a prazo. Neste sentido, já o referi, faz todo o sentido que os clubes sejam sociedades abertas a investidores. Em Portugal, no entanto, o futebol e os clubes só seriam seriamente “apetecíveis” se se encontrasse uma forma de aumentar as suas receitas televisivas. Essa já deveria ter sido, aliás, a preocupação dos actuais “investidores” das SAD: os próprios clubes.

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